Professora María del Carmen Cortizo (UFSC): interculturalidade e direitos Indígenas | Foto: Eduardo Maia/Proex UFMG
O quarto dia da 5ª Escola de Verão – Educação em Direitos Humanos, na quinta-feira (27 de fevereiro de 2025), trouxe para o centro das reflexões os direitos dos povos indígenas. As discussões abordaram as múltiplas violações sofridas por essas populações no passado e na atualidade, como os ataques às suas terras, línguas, modos de vida e tradições.
A palestra da professora María del Carmen Cortizo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), abordou a importância da interculturalidade e os desafios de promover a convivência entre culturas diferentes. “A interculturalidade trata-se de uma mudança de lentes. É ver, ou tentar ver, com os olhos do outro, para poder ter novas lentes e uma visão mais completa da realidade, das outras pessoas e de nós mesmos”, disse a docente.
A professora fez um resgate histórico e destacou como a cultura eurocêntrica, imposta durante a formação dos Estados latino-americanos e refletida nas tradições jurídicas da região, serviu como ferramenta de extermínio e violação de direitos indígenas. “Com os processos de colonização, normas e práticas que tratavam os povos originários como seres inferiores, e supostamente incapazes de cuidar de si mesmo, foram exportadas para os territórios ‘descobertos'”, pontuou.
María del Carmen reforçou a necessidade de promover um diálogo intercultural, capaz de valorizar e compreender as múltiplas visões de mundo que coexistem nas sociedades latino-americanos. “São as relações sociais que nos formam, que nos constituem como pessoas. Essa perspectiva é muito mais presente nas culturas indígenas do que na nossa, baseada no individualismo”, concluiu.
Resistência e luta
À tarde, a professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, Luciana de Oliveira, abordou a trajetória de resistência e luta do povo Guarani Kaiowá. A docente fez uma contextualização histórica e atual das inúmeras violências sofridas por esse povo, com ênfase nas expropriações de seus territórios.
Luciana relembrou casos de violência nas terras indígenas, como o ocorrido em 2024, na Reserva de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Na ocasião, indígenas foram alvos de uma ação truculenta da polícia enquanto protestavam por acesso à água. “São fatos atuais, mas não episódicos. Eles fazem parte de um racismo histórico, inserido em um processo civilizatório, no qual as violações são colocadas como naturais”, destacou a docente.
Professora Luciana de Oliveira (UFMG) destacou a luta do povo Guarani Kaiowá pelo território | Foto: Eduardo Maia/Proex
Além de denunciar as violações, Luciana de Oliveira também destacou as estratégias de resistência e reinvenção protagonizadas pelos Guarani Kaiowá. “A história desse povo é, acima de tudo, uma história de luta e resistência contra-colonial, em um estado de exceção permanente”, ressaltou.
A 5ª edição da Escola de Verão – Educação em Direitos Humanos vai até sexta-feira (28), no Auditório A102 do Centro de Atividades Didáticas 2 (CAD 2) – campus Pampulha. O curso de extensão é promovido pela AUGM e pela UFMG, por meio da Universidade dos Direitos Humanos (UDH), vinculada à Pró-reitoria de Extensão (Proex) da Universidade.
Mais informações estão disponíveis no site e Instagram da Proex.
Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail udh@proex.ufmg.br ou pelo telefone (31) 3409-4065.