
Equipe da UFMG que participou das escavações | Foto: Arqueo DOI-CODI/SP
A UFMG, no âmbito do projeto Arqueologia da repressão e da resistência, conduziu escavações arqueológicas no antigo DOI-Codi de São Paulo. A segunda etapa dos trabalhos ocorreu de 27 de outubro a 8 de novembro de 2025.
O objetivo foi encontrar vestígios materiais sobre o passado do local, onde funcionou o principal centro de repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985), na Rua Tutóia, entre os bairros Paraíso e Vila Mariana, na capital paulista.
Equipe do Departamento Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich/UFMG), sob a coordenação do professor Andrés Zarankin, participou das buscas em colaboração com pesquisadores da área de Arqueologia Pública, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e da área de Arqueologia Forense, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O grupo dá continuidade a investigações iniciadas em 2023 para compreender a materialidade e as transformações do edifício.
Até o momento, foram coletados diversos materiais construtivos associados às mudanças físicas na arquitetura, além de objetos que podem estar relacionados ao cotidiano da unidade à época, como fragmentos de louças, vidros, metais, etiquetas de produtos e ossos faunísticos.
As descobertas são provenientes de uma trincheira de sondagem, de três metros quadrados, aberta na área externa. Entre os materiais que mais chamam à atenção da equipe estão uma prótese dentária e um tinteiro, possivelmente utilizado para a coleta de impressões digitais dos presos políticos.
Nova narrativa e conscientização
O professor Andrés Zarankin afirma que a recuperação dos vestígios será fundamental para recontar o passado do DOI-Codi de São Paulo. “Esse trabalho vai nos permitir criar uma nova linha narrativa sobre o que aconteceu em um período e momento muito complexo da história do Brasil e do mundo”, explica o docente.
Atual sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil do Estado de São Paulo, o espaço está em processo de transformação em memorial, com o propósito de preservar a memória das vítimas, como o jornalista Vladimir Herzog. Foi ali que, há 50 anos, ele foi preso e assassinado pelos agentes do regime – a versão oficial sustentava à época que Herzog havia cometido suicídio.
O professor Andrés Zarankin acredita que o projeto terá ainda um papel pedagógico relevante sobre a sociedade. “Considero que haverá uma contribuição importante para a conscientização sobre o que significa realmente um governo de exceção, no qual as pessoas são tratadas como inimigas apenas por pensarem diferente”, conclui.

Trincheira aberta na atual etapa de escavações | Foto: Arqueo DOI-CODI/SP
Visitas e oficinas
As atividades contemplam, também, visitas mediadas ao edifício, abertas a um público amplo, agendadas pelo Instagram @arqueodoicodisp. O local tem recebido ex-presos políticos e seus familiares.
São também desenvolvidas oficinas educativas para professores e estudantes, com foco na história da ditadura, na memória e nos direitos humanos. Os trabalhos buscam também sensibilizar a vizinhança – pesquisadores caminham pela Vila Mariana para dialogar com os moradores e os convida a participarem das atividades.
A estudante do curso de Antropologia e Arqueologia da UFMG Luiza da Costa Carvalho, que integra a equipe de escavações, afirma que a experiência tem sido “muito gratificante”. Ela destaca a emoção de conhecer os visitantes e as histórias de pessoas que foram arbitrariamente interrogadas e torturadas. “Todos os materiais que encontramos contam um pouco dessas histórias. Essas experiências precisam ser escutadas e valorizadas, para que a violência que aconteceu em nosso país nunca mais se repita”, defende Luiza da Costa.
Os resultados e atividades do trabalho são divulgados na página Memorial Virtual DOI-Codi e Instagram do projeto.
Eduardo Maia | Assessoria de Comunicação Proex