Apresentação do povo Maxakali na 24ª Jornada de Extensão | Foto: Eduardo Maia/Proex
“A mãe Terra não se negocia. Marco temporal não. Os direitos humanos não podem ser relativizados”, declarou o estudante de Jornalismo da UFMG João Pedro Salles, mestre de cerimônias do seminário da 24ª Jornada de Extensão. O evento realizado nesta quarta-feira, dia 7 de maio, lotou as dependências do Auditório Nobre da Escola de Engenharia, campus Pampulha.
A mensagem de João Pedro na abertura remete às incessantes e insistentes violações dos direitos dos povos originários, mesmo após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em 2023, derrubou a tese jurídica do marco temporal — mecanismo que limitava a demarcação das terras indígenas àquelas ocupadas por eles até a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Ações que exemplificam a resistência e a luta desses povos, bem como o compromisso histórico da UFMG com as populações indígenas, foram destaque na jornada, que apresentou atividades com os povos Tikmũ’ũn (Maxakali), Xakriabá, Yanomami e Ye’kwana.
Em 2025, a jornada teve como tema Direitos humanos e meio ambiente: aprendendo com os povos indígenas. A abertura contou com a participação da reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, do pró-reitor de Extensão da UFMG, Glaucinei Rodrigues Corrêa, e da pró-reitora adjunta de Extensão, Carmen Vergara.
Patrimônio imaterial
O líder Maxakali José Antoninho e o professor da Escola de Música da UFMG, Eduardo Rosse, apresentaram o projeto Documentação e preservação do sistema de conhecimentos ancestrais do povo Tikmũ’ũn-Maxakali. A exposição foi aberta por apresentação cultural de integrantes da etnia.
Rosse e Antoninho falaram dos processos e atividades em desenvolvimento para preservar a cultura dos Maxakali. Essas ações são fruto de parceria interinstitucional coordenada pela UFMG e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG) e visam ao reconhecimento dos Maxakali como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.
Professor Eduardo e Antoninho (à direita): ações para a salvaguarda do povo Maxakali | Foto: Eduardo Maia/Proex
Aprender juntos
Em seguida, a Jornada de Extensão teve a participação do programa Morar indígena, da Escola de Arquitetura e Design, relatado pelos estudantes Lucas Carvalho de Jesus e Jean Gonçalves de Oliveira, membro do povo Xakriabá e discente do curso Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), da Faculdade de Educação (FaE/UFMG).
Lucas e Jean mostraram trabalhos de reconstrução de escola e casa de medicina destruídas em incêndio criminoso em 2021, na aldeia Barreiro Preto, em São João das Missões, no Norte de Minas. “As práticas no território contribuem muito para as minhas práticas como arquiteto. Eu aprendo muito com o povo Maxakali”, afirmou o estudante Lucas.
Marciane Rocha (primeira à direita): ações para combater crise humanitária no território Yanomami/Ye’kwana | Foto: Eduardo Maia/Proex
Também foi apresentado o projeto Direitos Humanos, Educação e Saúde nos territórios Yanomami/Ye’kwana pelos estudantes de Antropologia e Arqueologia da UFMG João Piuzzana e Marciane Rocha, esta última integrante do povo Ye’kwana.
A iniciativa desenvolve atividades integradas de educação e saúde nas terras indígenas de Roraima (RR), em região que passou a conviver com forte crise humanitária a partir de 2019. “O garimpo invadiu e tomou conta do nosso território. Esse projeto tem sido muito importante para a nossa gente”, contou, emocionada, a estudante Marciane.
Compromisso e resistência
Após as apresentações, a professora Ana Gomes, da FaE, mediou debate com os estudantes e o público. Ela destacou que “a presença indígena na UFMG e as ações com foco nas populações indígenas são extensas, longevas e profundas”.
A docente acrescentou que a Jornada evidenciou esse processo e o histórico de luta e resistência desses povos que, apesar da violência histórica imposta pelos brancos, “nunca deixaram de lutar e resistir. Nós todos temos muito que aprender com eles”, concluiu Ana Gomes.
Além do seminário desta quarta (7), a programação da 24ª Jornada de Extensão contou com mostra de produtos extensionistas e oficinas para estudantes, coordenadores e vice-coordenadores dos Colegiados de Extensão (Cenex), que foram realizadas na segunda e terça-feira, dias 5 a 6.
Promovida anualmente pela Pró-reitoria de Extensão (Proex), o evento busca incentivar a troca de saberes e experiências, estimular o protagonismo estudantil, acolher novos bolsistas e voluntários e divulgar as ações extensionistas da Universidade para os públicos interno e externo.
Outras informações sobre o evento podem ser obtidas em seu site.