Atividades serão realizadas no âmbito de projetos de extensão da Escola de Arquitetura e da Faculdade de Educação dedicados a questões indígenas
A UFMG firmou acordo para apoiar a construção de escolas na terra indígena Yanomami, com recursos do Ministério da Educação (MEC), e coordenar a formação continuada de professores das etnias Yanomami e Ye’kwana e a oferta de magistério técnico indígena.
As ações, que serão integradas a projetos de extensão da Escola de Arquitetura e da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, foram anunciadas em reunião realizada na terça-feira, dia 20 de agosto, na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), em Brasília. Gestores e professores da própria UFMG, da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e do Instituto Federal de Roraima (IFRR), além de ativistas e lideranças indígenas foram recebidos pelo ministro Camilo Santana.
De acordo com a professora Ana Gomes, da FaE, a proposta extrapola a mera solução de emergências: “Temos como objetivos formar equipes locais e abrir, progressivamente, caminhos institucionais que possam ser percorridos pelas demais comunidades Yanomami e outros povos indígenas”.
Serão repassados R$ 32 milhões para execução, em parceria com a Funai, do projeto nos territórios Yanomami, situados nos estados do Amazonas e em Roraima. Os recursos serão geridos pelas fundações de Apoio da UFMG (Fundep) e Rodrigo Mello Franco de Andrade, com previsão de execução de três a cinco anos.
“O planejamento dessas ações vem sendo elaborado há mais de dois anos, com base em experiências anteriores com as comunidades Yanomami. A história da UFMG com os Yanomami começou em 2013, quando o escritor Davi Kopenawa foi convidado como catedrático [do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares] e ofereceu uma série de atividades de formação aos jovens estudantes da UFMG”, recordou Ana Gomes.
As ações contam com parceria da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e estão sendo conduzidas, em conjunto, pela UFMG e instituições de ensino superior do Amazonas e de Roraima.
Frentes
A participação da UFMG na iniciativa se dará em duas frentes. No âmbito da Escola de Arquitetura, o projeto de extensão Espaços comunitários de saberes, cultura e bem viver Yanomami pretende viabilizar a imaginação e a construção do que o povo Yanomami chama de “casas da escola” por meio de processos colaborativos de trabalho em cada comunidade, com elaboração de diversos instrumentos para mobilizar e ampliar o imaginário socioespacial e construtivo, experimentar articulações espaciais, informar as decisões sobre a construção e adaptação dos espaços.
A Faculdade de Educação, por sua vez, está encarregada de desenvolver a proposta de gestão do Território Etnoeducacional Yanomami e Ye’kwana, acompanhar as escolas e coordenar a formação continuada de professores – o IFRR vai oferecer um curso de magistério indígena. As ações são articuladas pelo projeto de extensão Saberes indígenas na escola.
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida também participou da reunião, que contou ainda com a presença dos professores Ruben Caixeta de Queiroz, do Departamento de Antropologia e Arqueologia, Ana Paula Baltazar e Adriano Mattos, ambos da Escola de Arquitetura da UFMG, de outras autoridades e ativistas. Sandra lembrou que o pedido de apoio surgiu em 2022, quando Davi Kopenawa e Ailton Krenak participaram do ciclo de conferências Futuro, essa palavra, por ocasião das celebrações dos 95 anos da UFMG. À época, Kopenawa solicitou apoio para retomar projetos de educação em territário Yanomami. “Todos nós acompanhamos com muita aflição a crise humanitária que se abate já algum tempo sobre aquele território. O esforço da UFMG, da UFRR e do IFFR, chancelado pelo MEC, tem potencial para trazer respostas para a questão por meio da educação”, avalia ela, que ressaltou a importância de as universidades e os institutos federais colaborarem com o governo federal em um projeto de grande impacto para os povos Yanomami e Ye’kwana.
Avanços
Durante a reunião, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, defendeu os avanços na educação indígena, mas apontou que ainda é preciso fazer mais. “Mesmo com o que já conquistamos, sabemos que existem dificuldades enfrentadas por esses povos e que ações mais articuladas são fundamentais para a superação da crise humanitária e educacional. Políticas e iniciativas de educação indígena trabalham mais do que o quesito educacional dos povos, elas permeiam aspectos sociais e culturais dos territórios”, declarou.
O ativista e escritor indígena Ailton Krenak pediu mais participação dos povos originários na educação. De acordo com ele, “é muito importante que conselho consultivos, formados por membros da comunidade indígena, façam parte da tomada de decisões na educação. Assim, podemos ajudar a garantir a efetividade das políticas e sua integração com a realidade dos povos originários”.
Presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Davi Kopenawa, destacou a união de esforços para a manutenção da educação escolar indígena. “É importante pensarmos juntos nessas políticas e ações para atingir o nosso desejo coletivo: a garantia da educação indígena com qualidade para os brasileiros”, afirmou Kopenawa. “Nosso povo precisa aprender a ler e a escrever, porque, só por meio da educação, teremos a capacidade de garantir os nossos direitos e a nossa terra”, finalizou.