O Projeto “Rede de Monitoramento Geoparticipativo: Que lama é essa?”  surgiu de uma demanda espontânea de comunidades que vivem às margens de rios situados abaixo de dezenas de barragens de mineração e, que em 2022, se depararam com a lama de aspecto atípico, advinda de enchentes. Moradores de cidades cortadas pelo Rio das Velhas e Rio Doce, importantes rios para o abastecimento, serviços ambientais e economia no estado de Minas Gerais, tiveram suas casas, quintais e vias públicas invadidas pela lama de enchentes que ocorreram em janeiro de 2022. Além do transtorno causado pelas perdas materiais, a lama trouxe também incerteza. O aspecto bem distinto do que seria a lama comumente de enchentes em que parte das margens e fundo do rio é remexido e deslocado para áreas de várzeas fez com que moradores procurassem pesquisadores do Grupo de Pesquisa e Extensão Mineração, Educação e Território (EduMiTe), vinculado a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para responder ao questionamento dos moradores que foi o mesmo em todos os pedidos: que lama é essa?
No intuito de buscar responder a esta pergunta, pesquisadores ativistas do EduMiTe, criaram um protocolo de coleta da lama orientando a rede que se formava espontaneamente. Sem nenhum financiamento prévio, os pesquisadores iniciaram a busca de valores para fazerem as análises de lama, água e solo coletadas. Por meio de parcerias entre o Laboratório de Educação Ambiental e Pesquisa: Arquitetura, Urbanismo, Engenharias e Processos para Sustentabilidade da Universidade Federal de Ouro Preto (LEA: AUEPAS/UFOP), o Laboratório de Solos e Meio Ambiente do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, o Núcleo de Análises de Resíduos e Pesticidas da Universidade Federal do Maranhão e o Projeto Manuelzão/UFMG, foi possível realizar coleta de solo e água. Mas, devido à situação crítica, também quanto à falta de verbas nas universidades, foi possível realizar apenas algumas análises de água. Foram gerados mapas e os resultados foram publicados no site do EduMiTe Resultado das amostras de água coletadas após enchentes nas bacias do Paraopeba e Velhas em janeiro de 2022 (edumite.net)
Os resultados das análises da água indicaram metais em valores acima dos parâmetros estabelecidos como aceitáveis pela legislação brasileira. Dentre eles arsênio, ferro, manganês e chumbo. Os pontos em que foram realizadas as coletas situam-se em sua maioria, no Quadrilátero Ferrífero-Aquífero de MG. Local em que há maior concentração de barragens de mineração no estado e no Brasil. Alguns pontos de coleta foram às margens do rio Paraopeba em locais afetados pelo rompimento da barragem da Vale, em 2019, em Brumadinho, que atingiu centenas de quilômetros do rio. Mas, a maioria dos pontos de coleta concentravam-se no Rio das Velhas, onde ainda não ocorreram rompimentos de barragens em grande escala. Situação esta que fez com que o aspecto informado pelos moradores da lama oleosa, densa, mal-cheirosa e brilhante, fosse questionado pela população e pelos pesquisadores. Mas, há em torno de 70 barragens de rejeitos na parte alta deste rio e acima da captação de água do mesmo Rio das Velhas que abastece 70% da capital Belo Horizonte e 40% da região metropolitana. O projeto tem, então, o objetivo geral de informar a sociedade sobre as coletas e análises de amostragem de águas, sedimentos, solos e lamas dos territórios atingidos.

Responsável:

Profa. Lussandra Martins Gianasi e Profa. Daniela Campolina

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