Extinção de mamíferos gigantes revela efeitos das mudanças climáticas, afirma geneticista Eske Willerslev
Eske Willerslev lotou o auditório 1 da Face. Foto: Foca Lisboa/ UFMG
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Os movimentos de extinção de mamíferos gigantes, como mamutes, preguiças e rinocerontes peludos, especialmente entre 12 mil e 10 mil anos atrás, não foram obra do homem, como já se acreditou, mas das mudanças climáticas. De acordo com o geneticista Eske Willerslev, catedrático da University of Cambridge, que ministrou conferência na tarde desta quarta-feira, 9, no campus Pampulha, o clima foi o fator crucial das alterações populacionais da megafauna que levaram ao desaparecimento de dois terços dos gêneros.

“Colhemos amostras de DNA e descobrimos correlação clara entre essas alterações e determinados nichos de clima. Há evidências de que o clima tem efeitos imprevisíveis: mesmo que se consiga controlá-lo, não há qualquer garantia de que se retornará a uma situação anterior”, disse o cientista, acrescentando que a causa direta da morte das populações é a mudança significativa na vegetação, provocada pelos ciclos climáticos.

A conferência de Eske Willerslev, realizada na Faculdade de Ciências Econômicas (Face), integrou o ciclo UFMG 90 anos – desafios contemporâneos. O geneticista foi saudado pelo reitor Jaime Ramírez e apresentado pelo professor Fabrício Santos, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Se os efeitos do clima são claros no Hemisfério Norte, onde se concentram as pesquisas de Willerslev, ainda há muito que conhecer sobre o tema na metade meridional do planeta. Segundo ele, a América do Sul é a região mais adequada para as pesquisas – o geneticista ofereceu apoio do Centro de Excelência em Geogenética, que ele dirige, na Universidade de Copenhagen, na Dinamarca.

Diversidade e distribuição

Geneticista Eske Willerslev, catedrático da University of Cambridge. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

Geneticista Eske Willerslev, catedrático da University of Cambridge. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

Um dos mais reconhecidos especialistas na análise de DNA antigo, Eske Willerslev [foto] trabalha com amostras colhidas na América do Norte, Europa e Ásia para descobrir como o homem alcançou as Américas e, em última instância, entender como se chegou ao nível atual de diversidade e distribuição pelo globo.

Uma das hipóteses da chegada à América do Norte faz referência a um caminho por Sibéria e Alasca, há cerca de 13 mil anos; alguns pesquisadores creem que havia povos originados da Europa antes disso. O sequenciamento de DNA de um esqueleto de 12 mil anos encontrado numa fazenda do estado de Montana (EUA) mostrou que ele era 100% americano nativo. Outro esqueleto, de 9 mil anos, que integrou os estudos de Willerslev, tampouco tinha traços europeus no genoma.

“A hipótese mais forte para o caminho de chegada é o litoral oeste americano. A análise de fezes ressecadas em Seattle (Washington, EUA) revelou um nativo americano mil anos mais velho que os restos da Cultura Clóvis [surgida há cerca de 13 mil anos, no fim da última Idade do Gelo]. Era uma evidência da ocupação pré-Clóvis, e nunca fui tão criticado quanto em 2008, na ocasião da publicação desses dados, porque nos Estados Unidos havia uma crença inabalável na hipótese contrária”, contou o pesquisador dinamarquês.

O corredor de gelo no Alasca que teria sido atravessado por populações asiáticas se mostrou uma opção improvável depois de pesquisas de datação com sedimentos de animais e plantas, o que reforça, segundo Willerslev, a hipótese do caminho do litoral.

Botocudos

Convidado por pesquisadores brasileiros, Eske Willerslev analisou, recentemente, o DNA de dois esqueletos de índios botocudos, nos quais foram encontrados sinais de origem polinésia, mas salientou que são necessários mais testes, incluindo outros grupos também denominados botocudos. De acordo com ele, na Ilha de Páscoa, a área mais próxima da América do Sul sabidamente ocupada pelos polinésios, amostras atuais indicam que a população tem origem polinésia, mas também de nativos americanos.

Algumas das pesquisas mais recentes do geneticista dão conta, entre outros fenômenos, de migrações entre Europa a Ásia na Era do Bronze (5 a 2 mil a anos atrás), confirmando suspeitas de linguistas que estudam movimentações de povos e culturas com base na disseminação de idiomas, entre outros aspectos.

“Nosso trabalho é fascinante porque é essencialmente multidisciplinar e envolve linguistas, arqueólogos, antropólogos e outros especialistas. É uma mistura rica das humanidades com as ciências naturais”, comentou Eske Willerslev, atendendo à curiosidade de uma estudante sobre a interação com outras áreas de conhecimento.

Jaime Ramírez e Fabrício Santos apresentaram o geneticista. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

Jaime Ramírez e Fabrício Santos apresentaram o geneticista. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

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