Na noite desta terça-feira, em sua apresentação na UFMG, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais foi recebida por aquela que talvez tenha sido a maior plateia já reunida na Universidade para um espetáculo cultural: o público ocupou não apenas a frente do palco montado no gramado da Reitoria, mas toda a extensão do planalto que sedia o mais antigo prédio do campus Pampulha, de uma ponta a outra do descampado. “Que público maravilhoso. Batemos o recorde de nosso último concerto aqui na UFMG”, comemorou o maestro Marcos Arakaki no início da apresentação.
Animado com a recepção, o maestro perguntou quantas pessoas da plateia assistiam a uma apresentação de orquestra pela primeira vez. Um bom número de mãos se levantou, em meio à multidão, para a satisfação do condutor. “Que ótimo isso. A gente fica muito feliz em levar a música clássica, de concerto, a quem ainda não a conhece.”
Para alguns músicos, o encontro entre a Filarmônica e a Universidade tinha um sabor especial. “Eu olho para esse gramado, vejo os prédios da escola: é como se eu voltasse no tempo, àquela época em que era estudante de música da UFMG”, recordou Sérgio Aluotto, percussionista da Filarmônica. Assim como outros nove dos 90 músicos que se apresentaram na noite de hoje, Aluotto se formou na Escola de Música da UFMG. “É uma satisfação muito grande tocar aqui”, disse.
O percussionista Werner Silveira compartilha com Sérgio a origem de sua formação acadêmica e a satisfação de voltar à Universidade para um concerto. “Antes de me formar na Escola de Música, já havia feito metade do curso de Letras na UFMG. Em 1998, foi aberto o bacharelado em percussão, e então eu fiz a reopção. É sempre muito bom voltar aqui”, disse, lembrando ter retornado à Universidade também no início do ano para fazer um curso de introdução à neurociência.
A dupla integra o quadro de músicos da Filarmônica desde os seus primórdios e participou da primeira apresentação realizada na UFMG, em 2009, um ano após a sua fundação.
Antes de subir ao palco, Sérgio Aluotto destacou o benefício de tocar em uma orquestra que reúne instrumentistas de várias partes do mundo. “É um aprendizado diário, musical e cultural. Cada colega traz uma bagagem diferente, você vai conhecendo outras histórias, outros pontos de vista. A gente aprende muito junto”, disse. A Filarmônica de Minas Gerais reúne profissionais de 17 nacionalidades, “que escolheram Belo Horizonte para construir sua carreira e constituir família”, orgulha-se o maestro Marcos Arakaki.
Um aspecto que muito agradou ao público foi o bom humor e a leveza da apresentação. Entre uma peça e outra, o maestro conversava com a plateia, apresentando os instrumentos e explicando a organização da orquestra. Em diferentes momentos, o condutor inclusive convocou os músicos a dar “palinhas” sobre os instrumentos mais esdrúxulos, com breves demonstrações de timbre e funcionalidade.
Quando o maestro convocou a tuba a se apresentar, por exemplo, o músico Eleilton Cruz, também formado na UFMG, solfejou a famosa composição de Henry Mancini, conhecida como tema do filme A pantera cor-de-rosa: a plateia caiu no riso. Na apresentação do contrafagote, por sua vez, o público acompanhou a execução da melodia com estalos de dedos.
A apresentação teve início com Uma noite no Monte Calvo, de Mussorgsky, tocada na versão original do compositor. “Uma noite no Monte Calvo trata de um encontro de bruxas em uma montanha de vegetação bem rala, na qual fazem todo tipo de sortilégios e feitiços”, explicou Marcos Arakaki, antes de brandir sua batuta.
Em seguida, os músicos executaram a abertura de Orfeu no inferno, de Offenbach, e, na sequência, Dança macabra, de Saint-Saëns. “Essa é uma música que, de macabra, só tem o nome. Trata-se de uma peça de humor muito inteligente e perspicaz, com piadinhas intrínsecas”, explicou o regente, detalhando e demonstrando aspectos técnicos da execução, como uma desafinação intencional de violinos escrita por Saint-Saëns para atender a uma específica intenção da narrativa musical.
Por último, a orquestra executou O aprendiz de feiticeiro, de Dukas. Como se estivesse em um espetáculo popular, a plateia pediu bis. Sem hesitar, o maestro voltou ao palco e convocou os músicos a executar mais uma vez o trecho da peça de Offenbach que faz alusão ao cancã, a famosa dança dos cabarés parisienses de meados do século 19. A plateia agradeceu efusivamente.
A TV UFMG acompanhou o concerto e conversou com regente associado da Filarmônica, Marcos Arakaki, e com pessoas que estiveram no campus Pampulha para apreciar o espetáculo. Assista ao vídeo no início da reportagem.
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