Nova ‘doutora honoris causa’ da UFMG destaca esforço para popularizar música lírica ao longo de sua carreira
Maria Lúcia Godoy: orgulhosa e comovida com a homenagem "a que jamais almejei"
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“Sinto-me honrada por fazer parte da cultura do meu país, sempre buscando fazer da música uma ponte para a sensibilidade, o crescimento humano e o encontro com as mais profundas raízes artísticas”, disse a cantora lírica e poetisa Maria Lúcia Godoy, que recebeu, na noite de ontem, 15 de setembro, no auditório da Reitoria, o título de Doutor Honoris Causa, a principal distinção honorífica concedida pela UFMG.

Segundo a homenageada, a possibilidade de promover o acesso à música lírica a todas as camadas da população foi o mais importante legado de sua carreira de mais de sete décadas. “A mim, não importa apenas o reconhecimento de minha arte pelos grandes artistas e políticos nem pelo público seleto que costuma frequentar concertos e óperas, mas, sobretudo, pelo povo do meu país, que, quando tem oportunidade, sabe reconhecer a outra face da arte”, disse.

Maria Lúcia Godoy graduou-se em Línguas Neolatinas, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFMG, em 1943. Segundo ela, a formação contribuiu para interpretação e pronúncia de músicas estrangeiras. “Na UFMG conquistei muito aprendizado e muitas amizades”, relembra.

‘É a ti, flor do céu’

A vocação para a poesia, aflorada ainda na infância, não tardou a ser percebida pela imprensa especializada, como relatou a cantora: “Uma nota de jornal da época dizia assim: ‘Enquanto as outras brincam com bonecas, Maria Lúcia, uma garota de sete anos, faz versos modernistas’”.

Ao longo de sua carreira, Maria Lúcia foi uma espécie de “embaixadora” da arte brasileira em várias partes do mundo. Por ter tido importante participação na vida cultural do país, conviveu com importantes autoridades, entre elas, o ex-presidente Juscelino Kubitscheck.

Por conta disso, Maria Lúcia se apresentou na inauguração de Brasília e também se envolveu em outros episódios marcantes da história nacional. “Inúmeras vezes, pelos becos e ruas de Diamantina, junto com presidente JK, cantei serestas inesquecíveis. Quando ele faleceu, cantei-lhe então sua seresta preferida, ‘É a ti, flor do céu’, que emocionou todos os presentes em seu velório”, recordou-se.

Maria Lúcia Godoy lembrou que, ao longo de sua carreira, recebeu, prêmios, medalhas e homenagens, mas que o título de Doutor Honoris Causa concedido pela UFMG a deixava especialmente orgulhosa e comovida. “Agradeço, sinceramente, esse título a que jamais almejei”, frisou. Ao fim, ela declamou versos do poema Serenata em Minas Gerais, de sua autoria. Leia a íntegra do pronunciamento da homenageada.

Atributos inquestionáveis

Em seu discurso, o reitor Jaime Ramirez salientou que a UFMG se orgulha de abrigar em seu rol de doutores honoris causa uma personalidade da “envergadura e calibre” de Maria Lúcia Godoy.

“Como sabemos, Maria Lúcia tem atributos musicais inquestionáveis e importância ímpar para a cultura musical do Brasil, como um dos nomes de maior impacto no cenário nacional. Grande divulgadora da música brasileira em todas as suas manifestações, considerada a mais importante intérprete de Villa Lobos e expressão maior da música de câmara brasileira, Maria Lúcia nos inspira”, disse. Leia a íntegra do discurso do reitor Jaime Ramírez.

O professor da Escola de Música Mauro Chantal Santos, que saudou a homenageada, afirmou que a trajetória de Maria Lúcia Godoy é “referência em qualquer palco do mundo, para um perfeito entendimento de nossas particularidades musicais”. Sobre a técnica da cantora, Chantal a considerou “exemplo de perfeita dicção”.

“Seus registros sonoros se configuram na divulgação do nome de inúmeros compositores brasileiros para os quatro cantos do mundo, onde sua arte foi ouvida e aplaudida como genuinamente brasileira”, ressaltou o professor. Para Mauro Chantal, o canto de Maria Lúcia contribuiu para a compreensão e apreciação de elementos da cultura brasileira. “Esses aspectos não se restringem à sua musicalidade incomum, mas também à construção de uma identidade musical brasileira”, assinalou. Confira a saudação feita pelo professor Chantal.

A diretora da Escola de Música da UFMG, Mônica Pedrosa de Pádua, destacou que, ela própria, foi influenciada pelo talento de Maria Lúcia Godoy em sua escolha profissional. “Sua técnica vocal me inspirou e apontou um norte em minha carreira de cantora”, testemunhou. Para Mônica Pedrosa, a homenageada estabeleceu nova referência mundial para a música erudita.

Maria Lúcia Godoy, Jaime Ramírez e Mônica Pedrosa

Maria Lúcia Godoy, Jaime Ramírez e Mônica Pedrosa

“Costumamos olhar para fora, para outras plagas e países em busca da beleza, da perfeição, da tecnologia, e não nos damos conta do extraordinário acervo que temos em nossas mãos. Maria Lúcia Godoy é uma pioneira, uma pessoa rara, que abraçou com carinho e vigor a tarefa de dar a conhecer a nós uma parte desse imenso repertório”, disse ela, cujo discurso pode ser lido aqui.

Maria Lúcia Godoy gravou 16 discos e também é autora de quatro livros infantis, todos com temas ecológicos: Ninguém reparou na primavera, O boto cor de rosa, Fruta no pé e Um passarinho cantou. Seu mais novo CD, Acalantos, será lançado ainda em 2016.

A cantora já se apresentou em turnês pela Europa, Oriente Médio, Japão, EUA, América Latina. Foi solista com as principais orquestras internacionais e brasileiras, como a Philadelphia Orchestra e a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Durante 11 anos, escreveu uma coluna dominical no jornal Estado de Minas, sempre ligada às questões ecológicas, na defesa pela preservação da natureza.

Teve ainda participação especial nos filmes Os Senhores da Terra, Navalha na carne e Poeta de Sete Faces — neste último, interpretou Cantiga do viúvo, música de Villa-Lobos sobre poema de Carlos Drummond de Andrade.

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