A vice-reitora Sandra Goulart Almeida assinou, nesta segunda-feira, 16, acordo de cooperação mútua com a International Cities of Refuge Network (Icorn), para que a UFMG receba artistas estrangeiros refugiados, no âmbito do Programa de Artista Residente. Pela Icorn, assinou o documento a responsável pelo programa de residência da entidade, Elizabeth Dyvik.
Organização independente que oferece abrigo a escritores e artistas em risco, a Rede Internacional de Cidades de Refúgio (Icorn) promove solidariedade internacional, liberdade de expressão e defesa dos valores democráticos.
A UFMG é a primeira instituição da América Latina a integrar a rede e a estabelecer parceria para acolhida a artistas refugiados. A iniciativa está sendo empreendida em parceria com as Casas Brasileiras de Refúgio (Cabra), braço da Icorn no Brasil.
“Esse é um projeto muito importante para a UFMG, instituição federal de pesquisa, diversa e inclusiva, que quer somar com o trabalho da Rede”, disse Sandra Goulart Almeida, lembrando que, sem essa parceria, a Universidade não teria como recrutar ou receber artistas refugiados. “Com a Icorn vamos ter essa possibilidade. Eles fazem todo o primeiro trabalho e nos ajudam no processo de localizar o artista, trazê-lo ao Brasil e acolhê-lo nesse novo contexto”.
Para a vice-reitora, assim como a UFMG oferece sua colaboração ao receber um artista refugiado que está em busca de um local onde possa desenvolver sua arte, ele também vai contribuir para a diversidade da Instituição. “É uma outra voz, outra visão de mundo que vem somar para pensarmos o conhecimento na contemporaneidade”, destacou.
Ao informar que a UFMG deve receber um artista pelo Programa ainda neste ano, Sandra Goulart Almeida disse esperar que ele possa integrar suas atividades ao ensino, à pesquisa e à extensão, e que a Universidade desenvolva projetos de relevância que ajudem a refletir sobre a condição dos refugiados no atual contexto mundial.
Diretora de programação do Icorn, Elizabeth Dyvik agradeceu à UFMG pelo trabalho que tem sido feito para viabilizar o acordo. “É um acordo muito sólido, que estabelece uma ótima base para o trabalho a ser desenvolvido, e que nos faz, como organização que trabalha com liberdade de expressão, muito felizes e confiantes de que qualquer artista que venha para cá por ter sido ameaçado ou silenciado em outro país terá um bom ambiente, um bom local de trabalho e várias atividades”.
Dyvik destacou que a ação do Icorn não trata de assinatura de acordos, “mas de tornar possível que pessoas que foram silenciadas conquistem sua voz de volta e possam se expressar livremente”.
Ela afirmou, ainda, que a parceria com a UFMG marca o início das residências Icorn no Brasil e em toda a América do Sul. “É muito concreto convidar e recepcionar alguém, mas é também muito simbólico. Esperamos que esse simbolismo se espalhe para outras cidades e universidades no Brasil e, com sorte, da América do Sul”, enfatizou.
Segundo ela, a Rede, que agora atua em 60 cidades, tem priorizado o recrutamento de residências nas Américas e assinou, no ano passado, o primeiro acordo no Canadá, também com uma universidade.
Elizabeth Dyvik disse esperar que, ao acolher um artista refugiado, a UFMG tenha a possibilidade de discutir questões relacionadas à liberdade de expressão, à democracia e à solidariedade internacional. “São questões que por vezes tomamos como garantidas, mas são muito importantes. A pessoa que vem para cá é também uma espécie de catalisador dessas discussões na comunidade – com sorte, não só na UFMG, mas também em Belo Horizonte, em Minas e quem sabe em todo o país, já que se trata de uma universidade federal”, ponderou.
Origens
A rede original de Cidades de Asilo foi fundada em 1993 pelo Parlamento Internacional de Escritores (IPW) em resposta ao assassinato de escritores na Argélia. Salman Rushdie, Wole Soyinka e Vaclav Havel foram presidentes e membros do conselho, que incluiu JM Coetzee, Jaques Derrida, Margaret Drabble e Harold Pinter.
A intenção de criar uma rede de cidades para abrigar escritores ameaçados foi primeiramente abraçada por Barcelona e rapidamente seguida por muitos outras localidades, inclusive nos Estados Unidos e no México. O IPW foi dissolvido em 2005 e, no ano seguinte, foi estabelecido o secretariado da Icorn.
Em 2010, a Icorn tornou-se uma organização independente e, em 2014, a assembleia geral da Rede votou para expandir o escopo e oferecer residências para artistas e músicos.
Na UFMG, a intenção de estabelecer parceria com a Icorn foi anunciada em 2015, no 2º Encontro UFMG-Icorn: a escrita, o exílio, a casa. A parceria entre a Universidade e a Rede decorre do trabalho conduzido pela professora Lucia Castello Branco, da Faculdade de Letras. O acolhimento dos artistas terá intermediação da Diretoria de Ação Cultural (DAC).
Termo foi assinado em reunião da qual participaram Lucia Castello Branco, Sandra Goulart Almeida, Elizabeth Dyvik e a diretora de Ação Cultural, Leda Martins. Foto: Foca Lisboa/ UFMG