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Nº 1825 - Ano 39
17.6.2013

Entrevista / Ricardo Santiago Gomez

“Nossa excelência está bem distribuída”

Nesta entrevista ao BOLETIM, o pró-reitor de Pós-graduação, Ricardo Santiago Gomez, prescreve uma fórmula simples, ainda que de execução complexa, para a UFMG prosseguir em sua caminhada para se tornar uma universidade de classe mundial: “Aliar crescimento quantitativo e qualitativo será a baliza para nos mantermos como instituição de pesquisa de ponta nos próximos anos”.

Ewerton Martins Ribeiro

Qual é o principal marco da pós-graduação da UFMG?

Uma das características mais marcantes da nossa universidade é a distribuição da excelência de ensino pelas diferentes áreas de conhecimento. A UFMG não é uma universidade que possa ser apontada como mais tecnológica, ou mais voltada para as humanas, as ciências biológicas, a saúde, as artes. Temos importantes grupos de pesquisa em todas as grandes áreas de conhecimento. E isso vem desde a constituição da UFMG, que se deu a partir da junção de diferentes unidades. A análise dos programas com conceito 5, 6 ou 7 mostra isso claramente. Os programas de ponta estão distribuídos por todas as grandes áreas. E isso é muito positivo, especialmente para que possamos construir programas interdisciplinares de qualidade.

A democratização do acesso ao ensino de graduação observada nos últimos tempos com a adoção de bônus e cotas e adesão ao Sisu e ao Enem também se refletirá, de alguma forma, no perfil da pós-graduação?

Quando se amplia o número de estudantes, é natural que o acesso de pessoas de diferentes classes sociais também aumente. E, de fato, na medida em que tivemos uma ampliação do número de vagas, o acesso à pós-graduação na UFMG se tornou mais plural – com isso, a demanda por bolsa de estudos também aumentou. Nesse sentido, vamos precisar de um sistema de pós-graduação que atenda a um maior número de bolsistas no plano nacional. E, também, há demanda por treinamento em língua estrangeira, mas isso desde o ensino fundamental. Uma boa pós-graduação já começa no ensino básico, no aprendizado das ciências básicas, das ciências naturais, na apreensão de conceitos do que é fazer ciência; no conhecimento de língua estrangeira. Na pós-graduação o aluno adquire ferramentas para ampliar esse horizonte. Mas é importante perceber que certos fundamentos precisam vir do ensino fundamental.

Mudou também o perfil docente...

Sim. Pluralizou a docência. A democratização e o aumento do acesso resultaram na entrada de novos docentes em proporção talvez inédita. Não tenho conhecimento de movimento semelhante no passado. E o fato é que muitos desses novos docentes já entraram qualificados para a orientação na pós-graduação. Muitos já eram pós-doutorandos ou tinham uma posição em outra universidade, e então migraram para a UFMG. Com isso, cresceu o número de orientadores na pós-graduação, e isso se deu aliado à manutenção da qualidade. Alcançamos o número de 1.720 orientadores na pós-graduação. Há quatro ou cinco anos, tínhamos 1.200. Agora, é óbvio que isso gerou novos desafios para a Universidade: espaço físico, laboratórios, equipamentos de médio e grande porte, infraestrutura adequada para atender a essas pessoas. É por isso que avaliamos o edital para a compra de equipamentos de grande porte com recursos de investimento (leia mais na página 8) como tão importante.

Quais são os principais desafios que a pós-graduação brasileira enfrenta hoje, ou vai enfrentar no decorrer dos próximos anos?

São vários, mas dois são especialmente importantes. No Brasil, a pesquisa é feita principalmente nas universidades públicas. Além disso, a pós-graduação é uma importante ferramenta de formação de mão de obra qualificada para um país. Nesse sentido, há necessidade premente de ampliarmos a oferta e, consequentemente, o número de alunos de pós-graduação no Brasil. Mas precisamos fazer isso sem abrir mão da qualidade. Esse é o desafio. Temos de investir em laboratórios, infraestrutura física, bolsa para os alunos, dar condições para que possam participar de eventos e desenvolver pesquisas com o mesmo padrão de qualidade.

Como manter esse padrão?

Um dos caminhos diz respeito ao segundo desafio: o avanço na internacionalização. A internacionalização não é uma escolha, é questão de sobrevivência para as universidades brasileiras. Ela possibilita captar novos valores, promover o intercâmbio de ideias e de projetos; cria perspectivas de trabalho em novos campos de conhecimento, que, sozinhos, teríamos dificuldade de adentrar. A internacionalização é oxigênio para nossas pesquisas. Resumindo: nosso grande desafio é ampliar a base de pesquisa, com qualidade, em uma perspectiva cada vez mais associada com o mundo.

A interdisciplinaridade não entra nesse elenco de condições fundamentais?

Sim, e um dos bons rumos da pós-graduação no Brasil é a consolidação de programas interdisciplinares. Há aqui outro desafio: o de encontrar formas de articular as áreas. Os grandes temas nacionais exigem abordagem interdisciplinar. Mas isso não significa que as pessoas, em si, precisem ter formação interdisciplinar. Elas podem ser disciplinares. A articulação é que deve ser interdisciplinar. E aí surgem os desafios que precisamos encarar: físicos, logísticos, tecnológicos, regimentais. Questões internas e outras que muitas vezes vão além da universidade. As agências de fomento, por exemplo, vão precisar se articular nesse sentido.