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Nº 1827 - Ano 39
01.07.2013

Entrevista / João Antonio de Paula

“Nosso desafio é combinar solidez institucional com ousadia”

Historicamente associada ao planejamento físico e à gestão orçamentária e financeira, a Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento recebeu no atual Reitorado a incumbência de atuar também no planejamento das atividades fins da UFMG. O planejamento da expansão física, a elaboração de projetos estruturantes e a preparação da UFMG para se tornar uma universidade de classe mundial estão entre os desafios apontados pelo pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, João Antonio de Paula, nesta entrevista ao BOLETIM.

Flávio de Almeida

O que levou a UFMG a propor novo perfil para a Pró-reitoria de ­Planejamento?

No final dos 1960 e início dos anos 1970, a Universidade fez um grande esforço para estabelecer critérios de planejamento. Professores de diversas faculdades e servidores técnicos e administrativos foram mobilizados pelo professor Hélio Pontes [emérito da Faculdade de Educação, falecido em 2010] para pensar um sistema de planejamento da UFMG. Grande parte do que vigora hoje foi estruturado naquela época, na esteira da reforma universitária de 1968, que estabeleceu muitas coisas que ainda estão aí, como a estrutura departamental. Deu-se ali continuidade a um esforço de planejamento físico, que já vinha com o início da própria universidade, com a construção do que se chamava cidade universitária e hoje em dia se chama de campus.

É uma trajetória longa que agora estamos resgatando. Lançamos em abril, durante o Fórum de Estudos Contemporâneos, um livro que conta um pouco da história do planejamento físico e territorial na universidade [Territórios da universidade: permanências e transformações, organizado pelos professores Maria Lucia Malard e Carlos Alberto Maciel]. Estamos em fase de retomar essa experiência e de olhar para o futuro. A UFMG tem mais de 80 anos; é uma experiência consolidada, tem ­pretensões de ser uma universidade de classe mundial e precisa criar meios para isso, em termos de planejamento e de recursos. A motivação do reitor Clélio Campolina, quando pensou o novo formato da Proplan, foi resultado da constatação da necessidade de que a Universidade inove e aprimore seus instrumentos de planejamento diante das grandes transformações e desafios do mundo contemporâneo.

“A UFMG tem mais de 80 anos; é uma experiência consolidada, tem pretensões de ser uma universidade de classe mundial e precisa criar meios para isso, em termos de planejamento e de recursos”

Como isso está sendo materializado?

Até o ano passado, a Proplan abarcava os setores financeiro, orçamentário, de convênios e de planejamento físico e projetos, incluindo aí o departamento de obras e manutenção. Ao mesmo tempo em que estávamos com uma estrutura pesada, tínhamos a perspectiva, que se confirmou, de receber muitos recursos para os projetos da área de infraestrutura. Para atuar nesse cenário, buscou-se criar uma estrutura mais ágil e moderna. Surgiu, então, a Superintendência de Infraestrutura e Manutenção, incluindo o departamento de obras, que antes estava na Proplan. Mais tarde, a ­Superintendência incorporou o departamento de projetos de edificações, ficando com a Proplan o macroplanejamento físico, os planos diretores, a definição de modelos construtivos e a padronização de mobiliário e instalações.

A Proplan vem se debruçando sobre os chamados projetos estruturantes. Que rumos eles apontam para o futuro da Universidade?

Eles são o eixo do PDI 2013-2017 [Programa de Desenvolvimento Institucional]. Incluímos nele 15 projetos estruturantes, que são diretamente coordenados pela Proplan ou que mantêm interface com ela. Esses projetos refletem o perfil de um horizonte de médio prazo de crescimento. Elaboramos o PDI para ser um instrumento de planejamento. O projeto Universidade de Classe Mundial é uma espécie de síntese de todas essas ações. Essa discussão começou há dois anos por uma demanda do Ministério da Educação, que pretendia que uma ou mais universidades federais se posicionassem entre as 100 melhores do mundo, em um período curto de tempo, inicialmente três anos. O MEC identificou cinco universidades no Brasil com potencial para isso segundo alguns critérios: ter pelo menos três programas de pós-graduação com nota 7 pela Capes e IGC (Índice Geral de Cursos) 5 na graduação. A UFMG foi incluída nesse grupo. A ideia do MEC era disponibilizar recursos para as cinco universidades de tal modo que se qualificassem no prazo determinado. A UFMG defendeu que esse projeto não poderia ser excludente e a proposta que levamos acabou prevalecendo. Ela previa um ranqueamento de todas as instituições e o incentivo à mobilidade das universidades menos consolidadas. Tivemos uma resposta muito positiva do governo, que chegou a sinalizar com R$ 2 bilhões a mais de recursos para viabilizar esse projeto e para o sistema como um todo. Mas o ritmo do processo foi desacelerado, e o que avançou foi uma proposta de ranqueamento de universidades.

Mas a UFMG manteve o seu projeto?

Para nós está valendo. Com os recursos que temos, vamos buscar tornar a UFMG uma universidade de classe mundial, tendo a internacionalização como um dos pontos cruciais. O apoio à DRI e aos centros de estudos internacionais faz parte desse esforço. E há outros projetos, como o Centro de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), cujo prédio começou a ser construído, e o Centro de Instrumentação Tecnológica e Pesquisa Translacional em Saúde. São iniciativas estruturantes, no sentido de galvanizar ações e articular grupos, projetos, programas e unidades acadêmicas. Ainda que sem todos os recursos, temos condições, com as nossas próprias forças, de implantar muitas coisas daquilo que sintetiza a ideia de universidade de classe mundial. As ­pró-reitorias de Pesquisa e de Pós-graduação lançaram edital para compra de equipamentos de grande porte para pesquisa. São cerca de R$ 11 milhões. Esse é um dinheiro do orçamento da UFMG. Isso significa que nossa capacidade de induzir e fomentar ainda não está inteiramente explorada.

Isso também indica que a questão orçamentária melhorou nos últimos anos...

Muito. Do ponto de vista de custeio continua havendo alguma restrição. No orçamento de 2013, que chega a R$ 115 milhões, só tivemos a reposição da inflação. Por outro lado, recursos para investimentos cresceram; o problema que enfrentamos diz respeito a licitar e elaborar projetos. A Universidade está em um bom momento. Aqueles que nos antecederam fizeram um trabalho extraordinário. Eles construíram a Universidade com todas as dificuldades, e ela está aí, sólida, tem uma cultura institucional estabelecida. O grande desafio é combinar essa solidez institucional, um dos patrimônios de nossa Universidade, com a ousadia.

E o que o senhor considera como ousadia?

Acho que temos um enorme espaço para crescer na área da cultura. Estão sendo elaborados vários projetos, como a construção do centro de artes performáticas, em um terreno entre a Unidade Administrativa II e o Mineirão. Serão três salas. Uma maior, com capacidade para 1500 lugares, com toda a infraestrutura para abrigar tanto espetáculos de música, dança e teatro como eventos mais solenes; outro para 350 lugares e uma caixa cênica para experimentação. Outro espaço é o centro de museus e espaços expositivos, que funcionará entre o CEU e a Lagoa da Pampulha. São espaços que terão uma dimensão extensionista, mas que também ajudarão na formação de nosso pessoal, no ensino e na pesquisa.

“Aqueles que nos antecederam fizeram um trabalho extraordinário. Eles construíram a Universidade com todas as dificuldades, e ela está aí, sólida, tem uma cultura institucional estabelecida”.

Extraída do livro Territórios da Universidade
Perspectiva do centro de museus e espaços expositivos, que será construído entre o CEU e a Lagoa da Pampulha
Perspectiva do centro de museus e espaços expositivos, que será construído entre o CEU e a Lagoa da Pampulha