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Glauber R Almeida |
Maurício Borges Lemos
Diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG. Foi secretário
de Planejamento de Belo Horizonte
O território de Belo Horizonte, de 334 quilômetros quadrados, é, sabidamente, restrito, situando-se entre os menores das principais cidades brasileiras. Este fato determinou, desde logo, juntamente com sua função planejada de capital de Minas, uma vocação prematura da cidade para centro de serviços, em detrimento de uma orientação industrial. Essa característica materializou-se, ao longo do século passado, e consolidou-se, definitivamente, a partir dos anos 70. Esta é, em resumo, a história do processo de uso e ocupação do solo do município de Belo Horizonte.
Observada, porém, como núcleo urbano, e, portanto, como lócus de polarização de atividades econômicas não residenciais (tradables), Belo Horizonte era (e continua sendo) um pólo industrial, com razoável especialização nas áreas de mínero-metalurgia e metal-mecânica, mas com inserção diversificada, voltada para o abastecimento do mercado do centro-leste. Petroquímica, alimentos, material de construção, bebidas e gráfica inserem-se nesta definição. Adicionalmente, dada a diversificação da sua estrutura de serviços, agrega-se, à base exportadora dessa região metropolitana, o turismo, inicialmente de suporte operacional das cidades históricas e, atualmente, também, o turismo de negócios.
Fica claro, portanto, que a despeito do notável efeito desta ampla base exportadora (serviços administrativos enquanto capital do estado, indústria diversificada e turismo), a dinâmica da Região Metropolitana acaba limitada, em última instância, pelo processo de crescimento desta base e seus inúmeros efeitos multiplicadores. Na realidade, este crescimento tem sido superior à média das principais regiões brasileiras, inclusive São Paulo (veja quadro), embora restringido por esse limite, digamos, clássico da dinâmica regional.
Os pressupostos da criação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, no entanto, embora tenham como referência algumas leis clássicas da localização regional, trazem verdades novas e inusitadas que extrapolam os princípios conhecidos e consagrados de indução ao desenvolvimento regional. Por um lado, entre tais pressupostos situam-se a proximidade e a relação orgânica com a Universidade, a procura de vocações de atividades relacionadas à estrutura de serviços e à base exportadora da região metropolitana, além de procurar combinar a inevitável dimensão urbano-imobiliária com um conteúdo voltado para a inovação e o desenvolvimento tecnológico.
De outro lado, porém, seguindo princípios da nova Era da Informação, iniciada no final dos anos 80 e início dos 90 do século passado, a aglomeração num mesmo espaço do processo de conhecimento científico e sua transformação em tecnologia empresarial e comercial pode criar um produto novo centrado no conhecimento que transbordaria para além dos limites da base exportadora regional ou mesmo de seus efeitos multiplicadores. De certo modo, o produto novo, isto é, a tecnologia empresarial, iria além das vocações tradicionais e constituiria, ela própria, uma mercadoria a ser exportada, agregando-se à base exportadora. Este conhecimento “endereçado”, e esta é a novidade, poderia ser (ou não) uma tecnologia relacionada à base exportadora estabelecida, bastando para sua eficácia e competitividade nesse mundo globalizado uma adequada interação das opções empresariais do Parque com a produção científica da Universidade.
Dito de outra forma, Belo Horizonte estaria se transformando de núcleo urbano de serviços ancorados num pólo industrial em pólo de serviços per si, ancorado em tecnologias de informação. Este processo, na medida em que criado pari passu com o avanço da qualidade de vida e da infra-estrutura urbana de Belo Horizonte e sua Região Metropolitana, o que já tem ocorrido nos últimos anos, é decisivo para um ciclo de desenvolvimento virtuoso e sustentado.
Aglomerações urbanas | 1999 | % | 2004 | % | Taxa média de cresc. anual |
São Paulo | 274.438.640,53 | 34,3 | 275.127.256,20 | 30,8 | 0,1 |
Rio de Janeiro | 120.256.041,38 | 15,0 | 118.808.838,23 | 13,3 | (0,2) |
Belo Horizonte (1) | 51.988.789,84 | 6,5 | 62.750.079,73 | 7,0 | 3,8 |
Porto Alegre | 47.911.602,43 | 6,0 | 57.463.890,75 | 6,4 | 3,7 |
Campinas | 42.392.384,49 | 5,3 | 51.150.705,53 | 5,7 | 3,8 |
Salvador | 33.459.867,61 | 4,2 | 46.194.868,77 | 5,2 | 6,7 |
Brasília | 33.755.872,39 | 4,2 | 43.521.629,02 | 4,9 | 5,2 |
Curitiba | 33.066.909,90 | 4,1 | 38.143.822,74 | 4,3 | 2,9 |
Recife | 25.276.439,53 | 3,2 | 30.176.888,95 | 3,4 | 3,6 |
Grande Vitória | 17.579.438,80 | 2,2 | 22.226.706,32 | 2,5 | 4,8 |
Fortaleza | 18.509.533,30 | 2,3 | 21.404.752,11 | 2,4 | 2,9 |
Baixada Santista | 16.207.301,16 | 2,0 | 19.197.469,77 | 2,1 | 3,4 |
RM do Norte/Nordeste Catarinense (2) | 11.407.277,78 | 1,4 | 17.129.938,96 | 1,9 | 8,5 |
Goiânia | 10.105.955,66 | 1,3 | 12.299.674,68 | 1,4 | 4,0 |
Belém | 8.646.504,45 | 1,1 | 10.158.571,85 | 1,1 | 3,3 |
Reg. Metrop. do Vale do Aço (2) | 6.020.823,97 | 0,8 | 8.678.921,26 | 1,0 | 7,6 |
Reg. Metrop. do Vale do Itajaí (2) | 7.685.084,72 | 1,0 | 8.604.106,53 | 1,0 | 2,3 |
Reg. Metrop. de Florianópolis (2) | 6.986.671,42 | 0,9 | 8.351.708,48 | 0,9 | 3,6 |
Natal | 5.982.988,46 | 0,7 | 7.986.457,27 | 0,9 | 5,9 |
Maceió | 5.433.579,63 | 0,7 | 7.751.751,49 | 0,9 | 7,4 |
Londrina | 6.247.233,29 | 0,8 | 6.262.016,37 | 0,7 | 0,0 |
Grande São Luís | 5.164.310,36 | 0,6 | 6.118.890,26 | 0,7 | 3,5 |
Maringá | 4.364.137,59 | 0,5 | 4.426.478,77 | 0,5 | 0,3 |
Reg. Metrop. Carbonífera (2) | 2.846.596,90 | 0,4 | 3.876.824,31 | 0,4 | 6,4 |
Reg. Metrop. da Foz do Rio Itajaí (2) | 2.762.486,26 | 0,3 | 3.737.822,18 | 0,4 | 6,2 |
Reg. Metrop. de Tubarão (2) | 2.276.957,73 | 0,3 | 2.815.497,95 | 0,3 | 4,3 |
Total | 800.773.429,61 | 100,0 | 894.365.568,47 | 100,0 | 2,2 |
Fonte: IBGE.
OBS:
1) Inclui o Colar Metropolitano
2) Inclui o núcleo metropolitano e a área de expansão da RM
Revista Diversa nº 13
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