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Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 7, nº 13 - fevereiro de 2008

Economia

BH vislumbra novo horizonte

economia

RICARDO BANDEIRA

Parque Tecnológico é a chave para a capital mineira se consolidar como pólo de biotecnologia e informática

Quem passa pela confluência das avenidas Professor José Vieira de Mendonça e Carlos Luz com o Anel Rodoviário, na Pampulha, não vê muito mais do que um terreno vazio e placas a anunciar o futuro, na forma do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec). Em breve, será possível vislumbrar os contornos iniciais do empreendimento que promete transformar a paisagem econômica da capital, da região metropolitana e de Minas Gerais. Este ano, começam a ser construídos, no terreno de 535 mil metros quadrados cedido pela UFMG, os primeiros prédios do BHTec, parceria entre a Universidade, a Prefeitura de Belo Horizonte, o governo do estado, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com participação da iniciativa privada.

Embora não tão visível quanto os prédios, certamente sensível será o impacto do Parque Tecnológico na economia local, tradicionalmente associada à mineração e ao complexo metal-mecânico instalado ao redor da capital. Quando estiver em pleno funcionamento, o BHTec dará novo impulso a um potencial que Belo Horizonte ostenta há pelo menos uma década, o de referência nacional – e em alguns casos internacional – em setores econômicos de ponta, sobretudo a informática e a biotecnologia. Essas duas áreas serão os carros-chefes do parque, que abrigará também empresas de eletroeletrônica, novos materiais e design, entre outras, desde que comprometidas com a inovação.

O Parque Tecnológico será a ponte entre a pesquisa e a produção, no processo de transformação da economia local. “Nós acreditamos que o BHTec terá um papel decisivo para alavancar o desenvolvimento do Estado, trazendo para dentro da Universidade as demandas da sociedade e do setor produtivo e, ao mesmo tempo, respondendo a essas demandas, através da mediação entre universidade, empresas e poder público”, afirma o diretor-presidente do BHTec, Clélio Campolina.

Numa cidade que não tem mais espaço físico para a instalação de indústrias de grande porte, o Parque Tecnológico é uma alternativa para diversificar a economia local e impedir sua estagnação. O BHTec terá, em sua área, empresas de base tecnológica, que ocupam menos espaço. Ele abrigará, também, laboratórios de indústrias de maior porte, destinados a pesquisar novos processos e produtos que serão aplicados em plantas industriais situadas fora da capital. A expectativa é de que o BHTec atraia algumas dessas unidades para municípios da região metropolitana que ainda têm áreas disponíveis. O projeto do Parque prevê, ainda, a criação de uma pós-incubadora de empresas, com a função de preparar empreendimentos recém-saídos de incubadoras para a entrada definitiva no mercado.

Campolina não antecipa nomes, mas revela que mais de 50 empresas já manifestaram interesse em se instalar no complexo. Os pedidos serão analisados pelo Conselho Técnico-Científico, que avaliará a viabilidade dos projetos e a sua adequação às diretrizes do Parque. Em seguida, as propostas passarão pelo crivo do Conselho de Administração, que dará a palavra final sobre a instalação ou não das empresas.

Outro impacto econômico do Parque Tecnológico será a criação de postos de trabalho de alta qualificação. Mas ele não beneficiará apenas os profissionais de formação ampla. Seu funcionamento demandará a criação de uma rede de serviços em Belo Horizonte, sobretudo na área próxima ao BHTec, com empregos de toda natureza. O parque será, também, mais um fator de desenvolvimento do chamado Vetor Norte da região metropolitana, ao lado do incremento das operações do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e da construção da Linha Verde. “Se o Parque for bem-sucedido, ele vai transbordar para as cidades do eixo Pampulha–Confins”, prevê Campolina.

Cultura de inovação

O futuro representado pelo Parque Tecnológico de Belo Horizonte tem um passado e um presente, ambos intimamente ligados à trajetória da UFMG e à cultura de inovação que caracteriza a pesquisa desenvolvida na Universidade. O destaque da capital nos setores de informática e biotecnologia tem relação direta com o trabalho, nos últimos anos, do departamento de Ciência da Computação (DCC) e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Um exemplo da excelência do conhecimento gerado no DCC foi a compra da empresa Akwan Information Technologies pelo Google Inc., em 2005. A Akwan foi criada por professores da UFMG e chamou a atenção da gigante mundial de informática, responsável pelo buscador Google e pelo site de relacionamentos Orkut, entre outros serviços disponíveis na internet. Com a aquisição, a empresa mineira tornou-se o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Google na América Latina.

Esse clima favorável aos empreendimentos de alta tecnologia em informática também levou outra gigante do setor, a Microsoft Brasil, a anunciar, recentemente, a construção de um escritório regional em Belo Horizonte para atender Minas Gerais e o Centro-Oeste do país. A filial deverá oferecer formação profissional na área de tecnologia e incentivar o desenvolvimento de empresas locais de software.

O ICB, por sua vez, é atualmente um dos maiores núcleos de pesquisas biológicas do Brasil e desenvolve estudos de repercussão internacional. Um dos destaques é a participação do instituto no Projeto Genoma Brasileiro.
Informática e biotecnologia estão relacionadas a dois dos mais importantes paradigmas científicos e tecnológicos da atualidade. Os avanços na informática, associados às novidades na área de comunicações, transformaram a ciência, a economia e a vida em sociedade, sobretudo a partir dos anos 70. A biotecnologia representa um paradigma ainda mais recente, que já começa a provocar mudanças nos campos social, econômico e científico.

Marco

Atualmente, existem na UFMG 650 grupos de pesquisa credenciados formalmente no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) mostram a Universidade como a segunda do país em número de pedidos de patentes, atrás apenas da Unicamp.

Um marco da política de inovação da UFMG foi a criação, há dez anos, da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), resultado do estágio atingido pela pesquisa na Universidade. Na avaliação do diretor da CTIT, Rubén Dario Sinisterra, os impactos da inovação em uma sociedade demandam tempo e investimento contínuo. “Inovação não é modismo, ela é conseqüência do acúmulo de conhecimento do país, do estágio que o país atingiu. Se uma nação acumula conhecimento, a conseqüência é a inovação. Se o país continuar crescendo em formação de recursos humanos e produção de conhecimento, de forma sistemática e sustentada, obviamente o processo de inovação será mais maduro”, afirma Sinisterra.

Para o diretor da CTIT, a Universidade tem cumprido seu papel na geração de conhecimentos inovadores. Ele cobra, no entanto, uma postura diferente do setor produtivo. Na opinião de Sinisterra, os empresários brasileiros não têm se mostrado preparados para transformar em produtos o conhecimento gerado nas pesquisas. “A patente tem um papel social, que é proteger o conhecimento, mas também gerar produtos. Quem faz isto é a empresa”, diz o diretor da CTIT.

A superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e representante da Fiemg no Conselho de Administração do BHTec, Heloísa Menezes, concorda apenas em parte com as críticas ao setor empresarial. “Pesquisas demonstram que o empresário brasileiro investe pouco em inovação, mas é importante ver em que estrutura o setor produtivo está inserido, em que moldura institucional. As universidades no Brasil, por mais que se esforcem em transferir tecnologia para o mercado, são ainda muito voltadas para a geração de conhecimento interno”, afirma ela. Para Heloísa, houve avanços com a Lei de Inovação, em vigor desde o fim de 2004, mas ainda falta apoio do poder público e maior valorização, dentro das universidades, da pesquisa vinculada à produção.

De acordo com a superintendente do IEL, o Parque Tecnológico será importante, no âmbito local, para mudar esse quadro. Na avaliação de Heloísa, mais do que gerar empregos e riquezas, o BHTec pode mudar a relação entre pesquisa e produção no estado.

Modernizar o velho

Apesar dos obstáculos, a inovação parece ser um processo inevitável. Para Sinisterra, a empresa que não investe na criação de estruturas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) não consegue garantir presença competitiva no mercado. O diretor-presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, Clélio Campolina, tem opinião semelhante. Segundo ele, quem não se moderniza tende a se inviabilizar. Campolina acredita que o fator demonstração é importante, ou seja, a empresa observa os resultados do concorrente que apostou na inovação e fica estimulada a fazer o mesmo. Ele ressalta a influência que o BHTec poderá ter nesse aspecto. “O Parque pode ampliar a consciência das empresas para um horizonte além do imediatismo, no sentido de um esforço de busca e de pesquisa apontado para o médio e o longo prazos”, afirma o diretor-presidente do BHTec. Esse esforço não se restringe às empresas de base tecnológica. “Inovar não é só buscar a ponta. A modernização do velho é muito importante”, diz Campolina.

“As empresas que não inovarem vão morrer. O processo de inovação não é algo opcional”, sentencia o secretário-adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Evaldo Ferreira Vilela, representante do governo de Minas no Conselho de Administração do BHTec. E é em empreendimentos do gênero que a inovação encontra terreno fértil para florescer. “Os parques tecnológicos, os pólos de excelência, os núcleos de inovação são fundamentais para mudar esse quadro de certa estagnação tecnológica e torná-lo favorável à inovação. Não que a inovação não esteja ocorrendo. É que ela não é sistêmica e não tem velocidade compatível com os tempos de internet 2.0. Hoje, fala-se muito em inovação em compra de equipamentos e mudanças gerenciais. Mas é preciso transformar as tecnologias disponíveis nas universidades em processos inovadores”, afirma o secretário.

Vilela destaca também o investimento do governo do Estado na criação de pólos de excelência em diversas regiões, de acordo com o perfil econômico local. Um deles será o de biotecnologia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os pólos reúnem empresários, cientistas e representantes do poder público. “Trata-se de formação de inteligência competitiva, algo que não existia em Minas”, diz. Para o secretário, o Estado tem condições de ser o primeiro do país em inovação. “Minas quer liderar esse processo no Brasil. Atualmente, São Paulo se destaca, mas, estruturalmente, Minas se prepara até mais do que São Paulo. Temos competência. Temos que nos organizar e vencer barreiras”, afirma Vilela.

Posição estratégica

Minas Gerais parece estar nesse caminho, pelo menos no que se refere aos números dos setores de informática e biotecnologia, sobretudo na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Na área específica de desenvolvimento de softwares, somos o segundo empregador do país, com cerca de 8 mil postos de trabalho, pouco atrás de São Paulo. Na área de informática como um todo, são 16 mil empregos só em Belo Horizonte. Em biotecnologia, nos tornamos referência internacional e somamos 3,3 mil empregos num raio de 100 quilômetros da capital”, aponta Leonardo Guerra, assessor especial da Prefeitura de Belo Horizonte e representante do poder municipal no Conselho de Administração do BHTec. Ele lembra que os dois setores crescem a taxas próximas de 20% ao ano e geram uma cadeia de serviços especializados.

Só o setor de biotecnologia em Minas Gerais conta com mais de 80 empresas, concentradas em Belo Horizonte e cidades vizinhas. Diagnóstico elaborado em 2004 pela Fiemg, em conjunto com a Fundação Biominas, mostra que 69% das empresas estão na região metropolitana e em seu entorno. O mesmo estudo estima em 550 milhões de reais o faturamento do setor. Outra pesquisa recente, da Fundação Biominas, mostra que 29,5% das empresas de biotecnologia do Brasil estão em Minas Gerais, que fica atrás apenas de São Paulo, com 42,2%.

Na avaliação de Guerra, o Parque Tecnológico é um reforço para que a capital consolide uma posição estratégica no país, não só em informática e biotecnologia. “O BHTec permitirá que Belo Horizonte amplie seu posicionamento como fornecedora de tecnologias de que a economia brasileira necessita. É uma resposta local, no sentido de que aqui se desenvolvam essas novas oportunidades de negócio”, diz o assessor especial da prefeitura. Ele destaca, também, que o parque surge num contexto favorável a esse tipo de iniciativa. “O país vive um momento em que se constrói uma política industrial articulada com uma política de desenvolvimento científico e tecnológico”, afirma Guerra.

Em breve, Belo Horizonte deverá dar novas amostras da posição que a cidade pretende ocupar na pesquisa e na produção de tecnologia de ponta. O setor de informática da capital começa a se voltar para duas áreas de grande demanda na sociedade. Uma delas, já bastante disseminada, é a de software embarcado, formada pelos programas que funcionam dentro de pequenos circuitos integrados. Um exemplo é o sistema de bilhetagem eletrônica dos ônibus de Belo Horizonte. A outra área é a da TV digital, para a qual é prevista uma enorme expansão nos próximos anos.

Triângulo da inovação

O terreno onde serão construídos os prédios do Parque Tecnológico de Belo Horizonte está situado numa área conhecida como Triângulo das Bermudas, entre as avenidas Professor José Vieira de Mendonça (ex-Engenho Nogueira) e Carlos Luz e o Anel Rodoviário. Ele fica perto da entrada do campus Pampulha da UFMG na avenida Carlos Luz. O terreno tem 535 mil metros quadrados, dos quais 360 mil metros quadrados de área de preservação ambiental. As obras de infra-estrutura para instalação do parque, realizadas pela Prefeitura de Belo Horizonte, já estão concluídas.

Uma das âncoras previstas no projeto do BHTec é o Centro de Excelência de Energias Renováveis, núcleo nacional de pesquisa a ser constituído em parceria por Eletrobrás, Furnas, Cemig e Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UFMG. A proposta é desenvolver projetos no setor, dialogar com redes mundiais de pesquisa em energia renovável e promover treinamentos de recursos humanos de alta qualificação.

O Parque Tecnológico começa a virar a realidade num ambiente envolto pela inovação. Uma das responsáveis por isso é a Inova-AGE UFMG, incubadora de empresas de base tecnológica, vinculada à Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT). Criada em 2003, ela já graduou 16 empreendimentos e tem, atualmente, cinco empresas incubadas e cinco projetos pré-incubados. Entre as empresas incubadas e pré-incubadas, 60% são da área de biotecnologia, 20% de engenharia e 20% de tecnologia da informação. Em setembro, a Inova-AGE UFMG conquistou o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador 2007, na categoria Melhor Programa de Incubação de Empreendimentos Inovadores. A Inova-AGE UFMG é resultado da fusão, no primeiro semestre de 2007, da Inova-UFMG e da AGE, incubadora da Faculdade de Ciências Econômicas (Face).

Linha verde para o futuro

A UFMG apresentou ao governo do estado, em abril de 2007, o projeto Vetor Norte, que propõe ações nos nove municípios em torno da Linha Verde: Belo Horizonte, Lagoa Santa, Confins, Santa Luzia, São José da Lapa, Pedro Leopoldo, Vespasiano, Ribeirão das Neves e Jaboticatubas. Para auxiliar na execução dessas ações, a Universidade pôs à disposição do poder público suas competências em cinco áreas: saúde; educação, ciência e tecnologia; cultura, esporte e lazer; meio ambiente e desenvolvimento urbano; e segurança.

As linhas de atuação do Vetor Norte fazem parte do Projeto Cidades UFMG, que aglutina as iniciativas de extensão desenvolvidas pela Universidade em todo o estado.

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