Gênero, Linguagem e Sexualidade – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Gênero, Linguagem e Sexualidade

28 de junho de 2022

 

Gênero, Sexualidade e Linguagem são temáticas amplas discutidas por vezes nas áreas de conhecimento humano e social. Reflexões muito importantes são resultado de tais discussões, impulsionando assim o saber compartilhado sobre os muitos aspectos que compõem a diversidade. Inspirados por conteúdos que pertencem à mediação que ocorre na exposição Demasiado Humano, do Espaço do Conhecimento UFMG, discutiremos hoje, então, óticas ligadas a esse universo diverso.

 

Expressar: Exprimir-se (manifestar) através de palavras, comportamentos e/ou atitudes.

 

No ENEM 2018, uma questão da prova de Linguagens e Códigos perguntou a mais de 4 milhões de estudantes do Brasil o que era o pajubá. E você, já ouviu falar sobre esse termo? Ele é uma ferramenta de expressão. 

 

Algumas palavras indígenas e africanas dão sentido a modos de vida só nossos, e o pajubá é um exemplo disso. O termo, também conhecido como Bajubá, é relativo a uma linguagem que mescla iorubá, nagô e português, usada pela comunidade LGBTQIA+ e que surgiu a partir de uma origem super específica.

 

Países que falam Iorubá. Créditos: Kiau Noticias

 

A letra “T” da sigla é que leva os créditos pela construção e disseminação do pajubá. Em especial, as transexuais femininas, ao longo dos anos 60 e 70. Durante o período da ditadura, transexuais e travestis sofreram fortes perseguições, e a marginalização e os assassinatos contra essas mulheres começaram a ocorrer em massa no país, fazendo com que ferramentas fossem criadas para construção de uma espécie de círculo seguro. Dentre essas ferramentas, criou-se o hábito de sair e circular durante apenas à noite, além da formação de suas próprias gírias.

 

 

Usando palavras de grupos étnico-linguísticos africanos, a comunidade trans se organizou, principalmente nos grandes centros urbanos, em busca de se preservar da exclusão social.  Cultos afro-brasileiros eram (e ainda são) espaços de pluralidade no que diz respeito à orientação sexual dos frequentadores. Então, entende-se que as transsexuais do meio urbano assimilaram os idiomas através de vivências no candomblé ou da umbanda. Logo, pode-se dizer também que o pajubá surge de adaptações linguísticas feitas pela comunidade trans e homossexual negra. Atualmente, a comunidade trans está organizada na ANTRA, Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

 

O pajubá foi documentado pela primeira vez, oficialmente, em 1995, no livro “Diálogo de Bonecas”, idealizado por Jovanna Cardoso da Silva, contendo mais de 800 palavras listadas. Atualmente, vemos cada vez mais pessoas trans habilitadas e desenvolvendo pesquisas sobre suas narrativas. A historiadora e comunicadora mineira @transpreta, por exemplo, é uma delas.

 

 

Palavras como babado = fofoca; gongar = zombar; bafo = novidade; picumã = cabelo e aqué = dinheiro, são oficialmente parte do rico vocabulário português brasileiro e possuem, até os dias atuais, um significado intenso de resistência. 

 

[Texto adaptado por Fernando Silva, assistente do Núcleo de Comunicação e Design, a partir da thread escrita pela mediadora Ana Elisa Neves, para o projeto Diálogos com as Juventudes]

 

Para saber mais!


Sentidos sobre a Amizade Entre Travestis: Construção de Repertórios Interpretativos de Rita Matins Godoy(USP) e Rocha Emerson Fernando Raseira (UFU). Psic.: Teor. e Pesq. vol.31 no.2. Brasília, 2015.  bit.ly/2H8hqtH

 

Digressões homossexuais: notas antropológicas sobre coming out, Ethos LGBT e Bajubá em Belém – PA de Mílton Ribeiro da Silva Filho e Carmem Izabel Rodrigues (UFPA). Rev. NUFEN vol.4 no.1 São Paulo, 2012. Disponível em: bit.ly/3k5nm52

 

Para uma história dos concursos de beleza trans: a criação de memórias e tradição para um certame voltado para travestis e mulheres transexuais de Aureliano Lopes da Silva Junior (UERJ). Rio de Janeiro-RJ, 2017. Disponível em: bit.ly/3nQivqZ

 

Performatividade Pajubá de João Manuel de Oliveira (UFSC). Rev. Estud. Fem. vol.27 no.2. Florianópolis, 2019. Disponível em: bit.ly/3iYnUsl

 

O que é o pajubá, a linguagem criada pela comunidade LGBT. bit.ly/3NQuW2o