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A relação do povo egípcio com o céu: ciência e cultura

25 de outubro de 2022

 

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Os egípcios são um dos povos que mais recebem destaque dentro da cultura pop. Muitas são as curiosidades sobre o Antigo Egito. Comumente lembramos desse povo a partir das pirâmides e das artes egípcias, um pouco dos deuses, dos hieróglifos, e em grande parte das vezes paramos por aí. Contudo, uma dimensão que merece ser conhecida e explorada é a relação desse povo com a astronomia! Neste texto, conheceremos alguns dos elementos presentes nesta cultura.

 

Antes de entrar no assunto do texto, duas considerações são importantes para compreendermos o Antigo Egito: sua localização e a crença dos indivíduos ali presentes. O povo egípcio se estabeleceu nas terras próximas ao rio Nilo, no continente africano. Como grande parte das produções culturais consumidas no Brasil que fazem referência ao Antigo Egito são protagonizadas por pessoas brancas, existe uma dificuldade de associação dos egípcios à África. Há uma vasta discussão sobre sua etnia, e um texto que aborda melhor este assunto está aqui.

 

Em relação à espiritualidade, os egípcios eram politeístas, ou seja, cultuavam vários deuses. Os deuses representavam diversas dimensões da vida, e isso acontecia também quando o assunto era o céu. O que conhecemos como astronomia egípcia foi desenvolvida principalmente entre 3500 e 2580 a.C., e está relacionada não só à espiritualidade, mas também à economia e às questões práticas do dia a dia.

 

Para eles, o céu era composto pela deusa Nut. Na mitologia, a deusa foi separada de seu irmão e esposo Geb, deus da terra, por Shu, pai dos dois e deus do ar. Assim, Nut ficava posicionada com seus pés e mãos tocando o chão, enquanto o restante do seu corpo, representado sempre com muitos astros e estrelas, formava um grande arco sobre a terra. 

 

Representação de Nut. Fonte: Britannica

 

O Sol era compreendido como o deus Rá, uma das figuras divinas mais importantes, uma vez que marcava o ritmo de vida dos egípcios. O seu movimento diurno era entendido e representado por um percurso de barco no céu e durante a noite Rá e o seu barco eram engolidos por Nut. No dia seguinte Rá renasce para fazer todo esse percurso novamente. 

 

Os fatos interessantes não param por ai! O besouro estercorário que também recebe o nome no Brasil de “rola-bosta” é uma figura popular quando falamos do Egito. Ele possui associação com a observação do movimento do Sol. Como o inseto tem a característica de cortar fezes de animais específicos para alimentação durante a manhã, e recolher em formato de bolas durante o fim do dia, a ação se associou ao movimento diurno do Sol.

 

Como Sol, Rá se relacionava também ao eclipse solar. Esse acontecimento era entendido como uma guerra entre este deus e Apófis, uma criatura em formato de cobra. Apófis persegue a barca de Rá com o objetivo de destruí-la, e quando quase consegue e cobre sua luz, acontece o eclipse.

 

Desenho de Rá, com seu cetro e sua cabeça de falcão, encontrado na tumba da rainha Nefertari (1290-1254 a.C.). Fonte: Hipercultura

 

Já em relação à Lua acreditava-se que as almas faziam sua passagem para o mundo espiritual ao atravessá-la por meio de um barco para chegar ao céu.

 

Para os egípcios, haviam algumas estrelas e constelações consideradas importantes, encontradas em representações estelares em tumbas faraônicas: Órion, Cassiopeia, Sirius, Ursa Maior e Cisne. Para ver imagens diversas de tumbas do Antigo Egito, como do Templo de Hator e de Seti I, clique aqui.

 

Na constelação de Órion estão as estrelas que chamamos de Três Marias. Acredita-se que as famosas Pirâmides de Gizé, do Egito, sejam uma representação dessas três estrelas (que nunca estiveram alinhadas de forma exata em cima do topo das pirâmides, como algumas pessoas já chegaram afirmar e acreditar), e talvez, a esfinge possa também representar a própria constelação de Leão.

 

Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno que compõe a constelação de Cão Maior, recebia o nome de Sopdet ou Sótis, uma deusa responsável por anunciar as inundações do Nilo. Sirius fica ofuscada pela luz do dia e torna-se visível novamente pouco antes do nascer do Sol, na época do ano em que as cheias do rio começam a acontecer. A deusa é também a protetora do tempo, da agricultura e da fertilidade. Além disso, Sopdet também marca o início da primeira estação do calendário egípcio, chamada de Akhet. 

 

Uma deusa estelar, possivelmente Sopdet,  1300 a. C., no túmulo de Seti I . Fonte: stringfixer.com

 

Os planetas também tinham lugar na cultura egípcia! No teto da câmara mortuária de Ramsés, datado em 1300 a.C., temos representados cinco planetas visíveis a olho nu: Júpiter, Saturno, Marte, Mercúrio e Vênus. 

 

Hórus, um deus falcão de pé sobre sua barca e com uma estrela na cabeça, era o planeta Júpiter, recebendo também as denominações de “servidor do sul” e “a estrela resplandecente”. Um aspecto de Hórus também representava Saturno, um deus com cabeça também de falcão, e denominado como “a estrela oriental que atravessa o céu”. Já ambos os planetas, Mercúrio e Vênus, recebiam duas denominações iguais dependendo do horário do dia, sendo chamados de estrela da manhã e estrela da tarde. 

 

Essas informações são conhecidas por conta de traduções de hieróglifos, vistas nas inscrições do rei de Merenra. Grande parte do conhecimento que temos sobre os egípcios antigos vêm das traduções e estudos desses hieróglifos e das imagens gravadas encontradas. 

 

Todos os deuses comentados, e outros tantos mais, eram fortemente cultuados até o século 4, sendo que hoje, a maior parte do Egito é muçulmana, outra parte cristã, restando uma porcentagem baixa de pessoas que estão inseridas em outros contextos religiosos.

 

Essas são apenas algumas das considerações da astronomia e da cultura egípcia, sendo que se expande para mais deuses e mais ocorrências cotidianas práticas, como a elaboração do calendário, de relógios de sol, entre outros. Para saber mais dessas características acesse as referências listadas abaixo.

 

E aí, o que achou do texto? Já conhecia todos esses deuses e o que representavam? Conhece outros? Compartilhe conosco o que achou pelas nossas redes e mande esse texto para uma amiga ou amigo saber mais curiosidades sobre o céu egípcio!

 

[Texto de autoria Abraão Veloso, aluno das Artes Visuais, estagiário do Núcleo de Ações Educativas]

 

Referências bibliográficas:

 

ALVARENGA, Pedro; TRINDADE, Thayná. O embranquecimento histórico do Egito Antigo. Geledes, 2016.  Disponível em: <https://www.geledes.org.br/o-embraquecimento-historico-do-egito-antigo/>. Acesso em: 5 de outubro de 2022.

CORDEIRO, Tiago. Gregos e egípcios ainda acreditam nos deuses de sua mitologia?. Mundo estranho, 2018 Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/gregos-e-egipcios-ainda-acreditam-nos-deuses-de-sua-mitologia/>. Acesso em: 8 de outubro de 2022.

VIEIRA, Nathan. Deuses da astronomia | Como os egípcios interpretavam os astros. Canaltech, 2020 Disponível em: <https://canaltech.com.br/curiosidades/como-os-egipcios-interpretavam-os-astros-167312/>. Acesso em 4 de outubro de 2022.

Neves MCD. ASTRONOMIA – A ASTRONOMIA NO EGITO: A REPRESENTAÇÃO DO CÉU NA TERRA. arqmudi [Internet]. 26º de abril de 2012 ;5(1):44-7. Disponível em: <https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/16954>. Acesso em 02 de outubro de 2022

ASTRONOMIA OBSERVACIONAL. Astronomia egípcia. YouTube, 5 de julho de 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wYnFToQNYf4>. Acesso em 5 de outubro de 2022.

COSTA, Márcia Jamille. A Estrela Sirius no Egito Antigo. Arqueologia Egípcia, 2017 Disponível em: <http://arqueologiaegipcia.com.br/2017/08/12/a-estrela-sirius-no-egito-antigo/>. Acesso em 6 de outubro de 2022.