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Máquinas podem fazer arte?

24 de janeiro de 2023

 

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Um século atrás Isaac Asimov e outros autores escreviam sobre máquinas sencientes com poderosas mentes metálicas, com circuitos positrônicos e inteligências artificiais em robôs maravilhosos que construíram, junto com a humanidade, um futuro belo e robótico. Assim como apresenta o clássico “O Exterminador do Futuro (1984)” muitos  imaginaram futuros sombrios e tenebrosos onde as máquinas vingativas conquistaram o planeta e subjugaram a humanidade às suas vontades. Porém, por muito tempo, todos esses cenários eram apenas concebíveis no campo da ficção.

 

Hoje discutimos se uma imagem gerada por um software a partir de algumas poucas palavras-chave e bancos de imagens digitais poderia ser, afinal, considerada arte e se essas tais máquinas pensantes poderão, em um futuro próximo, nos substituir. Talvez, de forma não tão alarmista quanto imaginaram escritoras e teóricas do passado, o futuro tenha chegado e hoje, inegavelmente, já coexistimos com as intrigantes inteligências artificiais. 

 

Elas estão em nossos celulares, nas redes sociais nos mostrando os assuntos mais interessantes, recomendando filmes e séries na Netflix, músicas no Spotify, analisando nossos históricos de busca nos navegadores e buscando entender nossas preferências. Não importa o que façamos hoje, quase tudo está sob a vigília constante e analítica de algoritmos que mapeiam nossos comportamentos e ajudam a tornar nossa experiência online mais personalizada para nossos gostos.

 

Também estão sendo usadas em aplicativos como Uber para escolher a melhor rota, estão nas assistentes virtuais, em jogos de videogame com inimigos inteligentes e é usada também em técnicas de animação digital ou modelagem 3D. E convenhamos, é difícil afirmar que todas essas utilidades são malignas ou derivadas de uma consciência cruel e vingativa. Na verdade, além de práticas e serem ferramentas muito úteis quando bem empregadas, as IAs são bastante virais. 

 

Recentemente explodiram nas redes sociais softwares que transformam os usuários em personagens de animação e outras que utilizam bancos de dados para produzir novas imagens a partir de comandos de textos simples (prompts). Existem também bots que escrevem piadas, textos, até mesmo roteiros de filmes e ensaios. 

 

Todos os dias, a tecnologia das inteligências artificiais avança a passos largos e se aprimora constantemente, mas, afinal, o que é uma inteligência artificial?

 

(Hal 9000 de 2001: Uma Odisséia no Espaço / Warner Bros.)

 

De forma curta podemos dizer que é um software que vai aprender. Todo computador ou qualquer ferramenta tecnológica funciona para desempenhar determinada função, uma IA, por sua vez, melhora com o tempo em desempenhar essa função. Para fazer isso, esses sistemas se alimentam de grandes bancos de dados e mapeiam os padrões entre eles, listando semelhanças, discrepâncias e montando uma rede informacional que usarão para tomar decisões a partir desses dados. 

 

Esse processo de “aprendizado” das máquinas é conhecido como Machine Learning. E é dessa forma, reconhecendo os padrões entre os dados, que algoritmos conseguem “prever” tendências de consumo de usuários, por exemplo. 

 

A máquina analisa o comportamento da usuária dentro da plataforma, o que ela vê, o que ela ouve, o que ela busca ou compra e, a partir de cálculos probabilísticos, ela indica para a pessoa outro produto que pode, talvez, gerar interesse. Quanto mais informações ela recolhe, mais precisa se tornará nas recomendações. Porém, esses algoritmos são apenas uma pequena ramificação das inteligências artificiais. 

 

Um aprofundamento da inteligência das máquinas é o deep learning, que é basicamente um machine learning mais complexo. Nele, a rede de algoritmos escalada de forma hierárquica funciona de forma semelhante com o pensamento humano, cruzando vários tipos de informações ao mesmo tempo. Por isso, o processo do deep learning é muito mais potente que o machine learning uma vez que pode analisar quantidades maiores de dados de forma muito mais acelerada.

 

Essas redes complexas de pensamento artificial já são utilizadas à exaustão em nossa realidade em sistemas de reconhecimento de voz, leitura facial, recomendações no feed das redes sociais e também para tarefas complexas como análise e previsões do mercado de ações, análise de riscos, previsão do tempo e também busca por fraudes digitais. 

 

Essas máquinas, no entanto, não pensam, de fato, como nós. Elas não abstraem, não imaginam, não sentem e tampouco diferenciam de forma subjetiva os dados que analisam e manipulam. E (pelo menos por enquanto, risos.) uma IA depende do fator humano nos programadores para existir e funcionar. 

 

No atual desenvolvimento dessa tecnologia, as máquinas não são realmente indivíduos pensantes, mas sim ferramentas digitais que desempenham muito bem funções muito específicas.

 

Vamos a um exemplo prático. As “fotografias” que apresentam o Espaço do Conhecimento abaixo não existem. As imagens, produzidas por uma inteligência artificial, surgiram a partir de um comando descritivo feito para a ferramenta. Ainda assim, precisaram de toques humanos para que se tornassem mais semelhantes à realidade.

 

IA Dall-e 2

 

O FUTURO, A ARTE E AS INTELIGÊNCIAS ARTIFICIAIS 

 

Com todos esses avanços, termos estranhos e também o longo cultivo de uma certa repelência às máquinas pensantes por parte da literatura e da cultura pop, é normal que tenhamos medo do futuro juntos a estes sistemas. Mas é inegável sua utilidade em nosso dia-a-dia e também às facilidades que propõe.

 

As IAs são, como dissemos, mais uma ferramenta tecnológica feita para facilitar nossa vida e nossos trabalhos. E é presumível imaginar que nossa relação com elas pode ser boa se for não excludente, mas sim complementar, como já está sendo. 

 

Claro que por estarmos na alvorada dessa nova tecnologia, encontramos ainda algumas questões que precisam ser discutidas e alinhadas para garantir um uso justo e saudável da tecnologia. É o caso, por exemplo, das imagens geradas por IAs que viralizaram recentemente nas redes sociais serem ou não arte. 

 

No caso dessas, sabemos que usam imagens produzidas por artistas humanos de forma não autorizada para produzir as suas próprias. Esse uso indiscriminado e não autorizado levanta questões sobre direitos autorais, além de plágio e a falha ética de usar do trabalho do outro de forma não autorizada para gerar novos produtos.

 

Agora, uma vez que essa questão se resolva e aqueles que estão sendo inadvertidamente explorados por esses bancos de imagens sejam recompensados e se estabeleçam regras e legislações para o uso justo dessas IAs e das imagens que formam seus bancos de dados, o uso delas será interessante. Claro que precisamos estar atentos para os desdobramentos futuros da tecnologia e também as formas com as quais elas serão utilizadas e por quem serão usadas. No entanto, a preocupação com alguma inovação tecnológica não é novidade e nem exclusividade das IAs. 

 

No futuro, esperamos que próximo, as IAs poderão ser mais uma ferramenta fantástica para construir uma nova vertente para o mundo das artes, construindo junto aos artistas e não substituindo-os. 

 

(Este texto NÃO foi escrito por uma inteligência artificial) 

 

[Autoria de Gabriel Barcelos, graduando em Jornalismo e bolsista de som no Núcleo de Comunicação e Design]

 

Para saber mais:

Imagem criada com ia ganha concurso e reacende discussão sobre o que é arte

‘Arte está morta’: o polêmico boom de imagens geradas por inteligência artificial

A grande polêmica sobre I.A. | Gaveta

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