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Como as mudanças climáticas afetam a migração de aves?

04 de outubro de 2022

 

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Anualmente, milhares de aves alçam voo e atravessam os céus em enormes eventos migratórios. Algumas espécies voam por dias, percorrendo milhares de quilômetros em busca de alimentos, climas mais agradáveis e ambientes onde possam se reproduzir com segurança. 

 

Se orientando através das estrelas, do posicionamento dos astros e também através de uma “bússola” interna, que ainda permanece um mistério para os pesquisadores, as aves encontram seus caminhos de forma precisa, seguindo rotas pré determinadas e já percorridas em épocas muito específicas do ano. As viagens também contam com paradas calculadas e normalmente acontecem em períodos noturnos, onde os ventos são amenos e favoráveis para os sentidos das migrações. 

 

Mesmo para aves jovens, seu senso de direção é extremamente afiado. Através de observações de cucos-canoros jovens levados para longe de seus habitats, percebeu-se que as aves encontraram as regiões usuais dos ciclos migratórios de aves que não foram movidas de seus habitats.

 

Além de um excelente senso de direcionamento e habilidades de geolocalização, aves migratórias também possuem uma aguçada percepção do tempo. Seus relógios biológicos podem detectar mudanças nas estações e condições atmosféricas, além de perceberem a mudança sutil da duração dos dias, todos sinais que as alertam e as preparam para a iminente migração. Nesses momentos, elas mudam suas dietas para acumular grandes quantidades de gordura e suportarem as grandes distâncias. 

 

Através de observações, pesquisadores mapearam as rotas migratórias de diversas espécies, como a narceja-real, que viaja da Europa à África-subsaariana sem paradas. Também mapeou-se beija-flores da espécie Selasphorus calliope, que fazem viagens de ida e volta com mais de nove mil quilômetros. Mesmo as aves que não voam têm seus próprios ciclos migratórios, como é o caso do pinguim-de-adélia, que viaja por quase 13 mil quilômetros de gelo e frios glaciais. 

 

 

No entanto, justamente por serem tão sensíveis ao tempo, ao ambiente em que vivem e também ao comportamento da atmosfera, várias espécies estão mudando seus hábitos migratórios em decorrência das mudanças climáticas. Segundo um artigo do National Geographic: As aves da espécie Setophaga caerulescens, por exemplo, estão migrando quase cinco dias mais cedo, em média, do que na década de 1960. Tordos-americanos que migram para o Canadá estão chegando 12 dias antes na primavera em comparação ao ano de 1994. Grous-americanos migrantes estão aparecendo quase 22 dias antes em seu local de parada em Nebraska na primavera e partindo quase 21 dias depois no outono, em comparação à década de 1940.

 

Com as temperaturas médias do planeta subindo gradativamente por conta de atividades antrópicas, elevadas emissões de CO2 e outros gases que colaboram para o efeito-estufa, muitas reações perceptíveis do planeta estão gradualmente tornando-se evidentes. Não é certo, no entanto, que todas as aves migratórias conseguirão se adaptar aos impactos climáticos das ações humanas, e também não sabe-se ainda quais serão os efeitos de longo-prazo dessas mudanças. Estamos trilhando um caminho que nos leva diretamente para a inevitabilidade de uma catástrofe ambiental, ações e iniciativas de cooperação global como o décimo terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ação contra a mudança global do clima – precisam ser urgentemente atendidas.

 

Enquanto cientistas se debruçam sobre as grandes migrações e como ela será afetada em nosso futuro próximo, nos cabe refletir sobre como nossa irresponsabilidade ecológica e nossas ações estão modificando diretamente e pondo em risco um dos mais belos e antigos eventos de todo o nosso planeta.

 

(Fotografia de Christan Rodriguez. Créditos: National Geographic)

 

[Texto de autoria de Gabriel Barcelos, graduando em Jornalismo e bolsista de som no Núcleo de Comunicação e Design]

 

Para saber mais!

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ação contra a mudança global do clima

Efeitos da mudança climática em aves indicam tendência à extinção 

Por conta das mudanças climáticas, pássaros estão cada vez menores