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O Efeito Mandela

12 de abril de 2022

 

E se eu te contasse que nem os fãs mais assíduos de Guerra nas Estrelas lembram da icônica frase de Darth Vader? Ou que os fanáticos por Queen não sabem realmente como termina a música “We Are the Champions”? Ou que frases, expressões e figuras tão presentes e supostamente “inesquecíveis” da infância de muitos simplesmente – não existem? 

 

Em 2010, a auto-proclamada pesquisadora de fenômenos sobrenaturais Fiona Broome conversava com amigos e recém conhecidos em uma “convenção nerd” quando o assunto da morte de Nelson Mandela veio à tona. Fiona mencionou casualmente sua morte em 1980, enquanto estava preso. Três anos depois, em dezembro de 2013, portais de notícias ao redor do mundo anunciaram a morte de Mandela devido a uma infecção pulmonar. Fiona estranhou, mas se satisfez em assumir que ela simplesmente havia se confundido. Porém, ao comentar o ocorrido com alguns amigos, ela se surpreendeu ao ver que muitos, assim como ela, se lembravam perfeitamente de acordar em uma manhã nos anos 80 e ler no jornal que Nelson Mandela havia, de fato, falecido na prisão. Pois, assim, surgiu o Efeito Mandela.

 

Cientistas, pesquisadores e fanáticos criaram diversas hipóteses ao passar dos anos que supostamente explicam esse fenômeno. Afinal, como era possível uma multidão de pessoas lembrar de algo que nunca existiu? E, depois da criação do “Efeito Mandela“, mais e mais pessoas relataram ter tais “memórias falsas”. Muitos se recordam de ver uma listra preta na cauda do Pikachu, mas não há registro nenhum dessa característica; o personagem de Monopoly nunca usou um monóculo; ao revelar à Luke sua verdadeira identidade, Darth Vader não diz “Luke, I’m your father”, mesmo que o próprio ator que interpretou o vilão se lembre dessa ser a sua fala durante as gravações. No filme clássico Branca de Neve e os Sete Anões, a frase “espelho espelho meu” não é dita em momento algum, embora adaptações do filme tenham essa frase como título por sua iconicidade. Diante todas essas dúvidas e conspirações, três teorias surgiram: a físico-quântica, a psicológica e a conspiratória.

 

Viciados / Divulgação

 

1 –  Teoria Físico-Quântica 

 

A física quântica, criada pelos cientistas Werner Heisenberg e Erwin Schrodinger, é um dos argumentos utilizados para explicar o fenômeno da memória coletiva. A teoria entende que o Efeito Mandela pode ser “solucionado” a partir do conceito de dualidade onda-partícula, que afirma que um corpo atômico pode atuar como ondas ou partículas e, assim, estar em duas situações diferentes ao mesmo tempo: vivo e morto, no passado e no futuro, ou em uma realidade e outra. Quem a defende acredita que como as partículas se comportam de forma caótica, é possível que tenha ocorrido sobreposição de realidades. Sim, você não leu errado! A teoria da existência de várias realidades alternativas para cada indivíduo singular e a ideia que o nosso universo seria somente um entre muitos outros declara que eventos como a morte de Nelson Mandela podem ter acontecido em outra realidade. 

 

2 – Teoria Psicológica

 

Memórias falsas são lembranças erradas ou distorcidas de algum acontecimento, mesmo que incluam, também, fatos que condizem com a realidade. Não conseguimos lembrar de tudo que vemos ou ouvimos perfeitamente e, por isso, erros de memória são muito comuns e dependem do meio em que estamos inseridos e das notícias que recebemos. Por isso, muitas vezes temos a tendência de lembrar eventos ou fatos que sejam mais convenientes. Por exemplo, no dia 11 de setembro de 2001, muitos brasileiros relatam estar assistindo ao episódio de Dragon Ball Z no qual o Goku se transforma pela primeira vez em Super Sayajin 3, quando o programa foi interrompido pela notícia do ataque terrorista às torres gêmeas. Porém, o prontuário da notícia foi ao ar às nove e meia da manhã, e o dito episódio só passou duas horas depois. Agora, se esse evento foi comprovado inexistente, como ou por que milhares de brasileiros lembram disso vividamente? 

 

Conveniência

 

O que é mais interessante de falar em um roda de amigos: que você acordou de manhã e viu a notícia das torres gêmeas ou que você estava assistindo a um dos momentos mais icônicos de um desenho amado quando a grande transformação do personagem principal foi interrompida por um evento trágico? Uma história é obviamente muito mais interessante que a outra, então este foi o relato contado e repassado entre milhares de pessoas – até virar, eventualmente, uma “verdade”. 

 

Como explica a psicologia, pequenos erros ou lembranças falsas da ortografia ou design gráfico de algo provavelmente são frutos de uma falha de codificação. Ou seja, se você nunca aprendeu algo, você, consequentemente, não se lembrará daquilo. O melhor jeito de exemplificar isso é vendo uma moeda. Todos vemos moedas ou notas de dinheiro diariamente, mas se alguém pedisse para desenhar um dos lados de uma moeda perfeitamente, não conseguiríamos. Não porque não sabemos como é, mas porque nunca prestamos atenção àquilo especificamente. 

 

3 – Teoria da Conspiração

 

Embora a teoria acima seja muito mais respeitada e realmente considerada como “resposta” para o Efeito Mandela, o mais comum de se ver nas redes sociais e em diálogos descontraídos sobre esse fenômeno são as teorias da conspiração. Na discussão popular, os potenciais causadores do Efeito Mandela se resumem a uma “falha na Matrix”. Segundo essa teoria, todos vivemos em um universo simulado e, portanto, temos “memórias digitais”. Essa ideia explica que essas memórias aleatórias realmente aconteceram, mas foram apagadas ou mudadas no “mundo real”, mas das quais ainda temos vestígios. Essa é, obviamente, a menos provável de todas as hipóteses em torno desse caso, mas, segundo Neil deGrasse Tyson, não podemos descartar tais suposições porque ainda não temos fatos que comprovam que essa não seja a verdade, como também é o caso da teoria físico-quântica.

 

[Texto de autoria de Beatriz Cicci, estagiária voluntária do Núcleo de Comunicação e Design]