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Símbolos e silhuetas: uma história artística dos hominídeos

Saiba mais sobre a rica e complexa narrativa de nossas representações artísticas

 

17 de outubro de 2023

 

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O ato de representar formas humanas é um costume que atravessa o tempo e que possui ricas heranças em diversas culturas devido ao incessante interesse da humanidade por reproduzir a sua imagem. Os motivos que despertam as intenções da representação da forma humana de maneira artística se diferem, tendo fins religiosos, ornamentais, educacionais ou de entretenimento. Existem registros de diferentes técnicas de confecção e representação de modelos humanos, oriundos de diferentes tempos históricos e partes do mundo, caracterizando o registro temporal complexo, detalhado e rico. 

 

Os hominídeos são uma família de primatas que inclui os seres humanos e seus ancestrais, e sua representação artística remonta a milhares de anos. Tal representação reflete a evolução da sociedade, da tecnologia e das atitudes culturais ao longo do tempo. Ela nos oferece percepções sobre como os seres humanos percebem, interagem e refletem o mundo ao seu redor ao longo da história. 

 

A arte do período paleolítico é conhecida como o início da história da arte, por ser a produção artística mais antiga de que se tem evidência. As pinturas e gravuras pré-históricas que retratam hominídeos variam em estilo e detalhes de acordo com o período e a cultura em que foram criadas, mas geralmente apresentam algumas características comuns como o uso de cores naturais, representação de cenas de caças e atividades cotidianas, figuras silhuetadas e estilizadas, distantes do estilo realista.

 

Pintura rupestre encontrada no Parque Nacional do Catimbau em Pernambuco. (Créditos: Guilherme Jófili – Flickr)

 

A arte rupestre era uma forma de comunicação visual e está relacionada ao início da evolução da comunicação humana como conhecemos. O homem antes de aprender a falar, aprendeu a comunicar-se através da visão. Os povos pré-históricos esculpiam, desenhavam e pintavam pictogramas baseados em representações simplificadas dos objetivos de sua realidade: a vida cotidiana, suas conquistas e animais. Eram informações do seu tempo, que ultrapassam a própria barreira linguística. Segundo a arqueóloga Claudia Inês Parellada “a arte rupestre é uma forma de comunicação através de convenções; é uma maneira de se relacionar com as pessoas e através do tempo”.

 

 

A evolução da representação artística ao longo das diferentes épocas, desde os primórdios da humanidade até a arte contemporânea, é uma narrativa rica e complexa. Desde o período Paleolítico, passando pela arte das civilizações antigas que enfatizavam a simetria, o simbolismo religioso e a representação mais naturalista do corpo humano, através da arte da Idade Média, frequentemente de caráter religioso, período também caracterizado por seus vitrais coloridos, afrescos e esculturas detalhadas.

 

Com a revolução artística do Renascimento quando a busca pela “beleza ideal” se tornou proeminente, seguido pelo enfático movimento e dramaticidade da Era Barroca, saltando à Arte Moderna e Contemporânea do final do século XIX, que se afastava de convenções tradicionais e buscava a exploração de novos estilos, logo influenciada pela diversidade de formas e mídias, tornando-se cada vez mais abstrata e conceitual, encontrando-nos hoje, onde a arte contemporânea é global e diversa, incorporando uma ampla gama de técnicas, formas de expressão, influências culturais e sociais. A evolução da representação artística não reflete apenas mudanças estilísticas, mas também as transformações sociais, culturais e tecnológicas ao longo da história. 

 

A arte continua a evoluir e a se adaptar às complexidades do mundo moderno, e o interesse humano por representar a sua própria imagem, a fim de decifrar, navegar e interagir com o que os cerca, é incessante, como nos primeiros registros da confecção de sua produção. A arte desafia constantemente nossas percepções e entendimentos sobre o mundo. 

 

[Texto de Sarah Lima, bolsista de som do Espaço do Conhecimento UFMG]

 

Referências

GROBEL, Maria Cecília Blumer; TELLES, Virgínia Lúcia Camargo Nardy. Da Comunicação Visual Pré-Histórica Ao Desenvolvimento da Linguagem Escrita e a Evolução da Autenticidade Documentoscópica. Revista Acadêmica Oswaldo Cruz, ano 1, n.1 janeiro-março 2014.

PACHECO, D. Arte rupestre pode ajudar a entender como linguagem humana evoluiu. Jornal da USP, São Paulo, 2018.

PARELLADA, C. I. Arte Rupestre no Paraná. Revista Científica da FAP, Curitiba, v.4, n.1, p. 1-25, 2009