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Um passageiro inesperado: fungos e liquens em viagens espaciais

Conheça o avanço do cultivo de fungos no espaço e seus possíveis usos

 

05 de março de 2024

 

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Diversas produções cinematográficas, como “Alien, O Oitavo Passageiro”, alimentam com intensidade a fantasia de vida fora da Terra, seja ela benéfica ou perigosa para os seres humanos. No texto desta semana, falaremos sobre um tipo de vida um pouco diferente do filme Alien, que se aproxima mais do clássico de 1965, Mutiny in Outer Space, em que uma tripulação de astronautas coleta algumas amostras de rocha lunar e as levam para uma estação espacial, onde esporos que estavam juntos da rocha acabam crescendo e gerando um grande problema de fungos para a tripulação. 

 

E se, ao invés de fungos extraterrestres dominarem a nossa estação espacial, levássemos fungos daqui da Terra para lá? Isso é bem mais comum do que parece! 

 

Em 1988 descobrimos, de maneira bem parecida com uma obra de ficção científica, a possibilidade de fungos viverem no espaço. No ano, cosmonautas soviéticos começaram a notar que um tipo de fungo estava cobrindo janelas na estação espacial Mir, onde ele não apenas existia, mas também se expandia, rompendo as janelas de titânio-quartzo e invadindo a estação. Apesar de ser bastante aterrorizante, a possibilidade desses fungos viverem no espaço aberto foi uma descoberta muito importante para a astrobiologia.

 

Atualmente temos o conhecimento de seis espécies de fungos capazes de sobreviver a uma carona em nossas missões especiais. Porém, diversas medidas antifúngicas são tomadas para evitar que esses passageiros inesperados nos acompanhem.

 

O líquen Xanthoria Elegans foi utilizado pela Agência Espacial Europeia em um experimento e sobreviveu 18 meses no lado externo da Estação Espacial Internacional. (Créditos: ESA).

 

Com o objetivo de aprofundar ainda mais as pesquisas, as agências espaciais realizaram em 2012 e ainda realizam com frequência experimentos na Estação Espacial Internacional com o fungo Xanthoria Elegans e seus simbiontes, simulando o ambiente do planeta Marte. Os resultados são surpreendentes. Mesmo sem água e oxigênio, com temperaturas extremas e altos níveis de radiação, o líquen (organismo que surge da união entre fungos e algas em uma relação de mutualismo, na qual ambos se beneficiam) não só sobreviveu como se adaptou e desenvolveu. Isso é muito benéfico para a exploração espacial e colonização de outros planetas. 

 

Um projeto da NASA, chamado de Myco-architecture, estuda a possibilidade de “cultivarmos” habitats a partir de fungos para a colonização da Lua e possivelmente de Marte. Porém, a pesquisa ainda está em estágio inicial. Neste momento, os materiais biosintéticos surgem como uma alternativa à visão da ficção científica sobre a colonização de outros planetas, que antes era baseada em construções de metal, vidro e veículos voadores. Esses materiais abrem caminho para uma abordagem mais sustentável e ecologicamente consciente, oferecendo a perspectiva de habitats mais ecológicos e resilientes.

 

Um bloco construído de micélio após duas semanas de crescimento. A próxima fase, conhecida como cozimento, nos possibilita chegar a um móvel limpo e funcional. (Créditos: NASA).

 

[Texto de autoria de João Victor Lima Evangelista, estagiário no Núcleo de Astronomia]

 

Referências e para saber mais:

BRANDT, Annette et al. Viability of the lichen Xanthoria elegans and its symbionts after 18 months of space exposure and simulated Mars conditions on the ISS. International Journal of Astrobiology. Cambridge. p. 01 – 15. 2014. DOI:10.1017/S1473550414000214.

Could Future Homes on the Moon and Mars Be Made of Fungi?

Myco-architecture off planet: growing surface structures at destination.

Xanthoria Elegans on Expose-E was collected in the mountains of Spain.