Territórios Híbridos
Linguagens Contemporâneas

Os conceitos de rede, de parceria e de interatividade vêm movimentando os meios acadêmicos, científicos e empresariais há algum tempo. No meio artístico, essa dinâmica não tem ocorrido de forma diferenciada. Os diálogos são possíveis sim. As conversas são necessárias e são relevantes as trocas de idéias e experiências vivenciadas no processo da investigação e da criação artística.

A arte mais do que nunca cumpre seu papel, não só de antecipar mas também de balizar pela sensibilidade a relação do homem com seu meio. A arte - em sua liberdade - reflete esse homem em seu tempo, na medida de sua sensibilidade e de maneira às vezes diferenciada. Para estar afinado com seu tempo, é fundamental que o artista interaja com esse tempo. Cumprindo seu papel, o artista embaralha as cartas do jogo e propõe novos desdobramentos, dentro de uma lógica própria composta por formas diferenciadas de pensar e agir.

Mais do que nunca o universo da ação e da pesquisa na arte deve ser transversal, amplo, irrestrito. Se de fato existirem, os limites desse universo artístico devem ser alargados não só pela experiência pessoal do artista, mas também por seus relacionamentos, suas linhas de influência e seus níveis de conhecimento. É preciso conhecer o homem para falar do homem, mesmo que esse homem seja o eu, esse eterno desconhecido.

Ao estabelecer diálogos da arte com outras formas de conhecimento, como a ciência e a tecnologia, o Festival de Inverno propõe um novo patamar de criação. Esse é o espaço da experimentação, da pesquisa aliada à ação. Esse é o espaço para ousar novos rumos.

Construímos, portanto, mais que um momento. Construímos uma proposta, laboriosamente arquitetada, para criar uma estrutura que permita ao Festival manter-se potencializado pelas novas vertentes do pensamento crítico e da arte de nosso tempo.

Sob essa ótica, é que a nova estrutura do Festival de Inverno se coloca, ao estabelecer diálogos necessários e urgentes. Sua proposta é criar redes interativas ligando diversas áreas do conhecimento e orquestradas por um conselho curador transdisciplinar. Contribuindo para o exercício democrático do pensar e para a criação de horizontes mais amplos, generosos e diversificados, esse formato abre espaços - e, mais do que isso, reconhece outros espaços como necessários e participativos - para uma produtiva rede de conhecimento humano. Criando núcleos de excelência interagindo entre si, o Festival estabelece relações diferenciadas em sua programação, gera novos conhecimentos e amplia as perspectivas da prática artística.

O período do Festival é um momento ímpar - terreno fértil em que é possível direcionar conceitualmente ações criadoras em favor da arte e da vida.

A partir do tema Territórios contemporâneos - linguagens híbridas, pretendemos reafirmar o valor da arte como elemento de integração e transformação humana e social. O objetivo principal dessa proposta temática é buscar, nas várias possibilidades das linguagens contemporâneas, uma relação direta entre a arte e a ciência, gerando a integração e a troca de conhecimentos capazes de unir o global e o regional em favor da criação e do desenvolvimento.

O Festival de Inverno da UFMG, com sua contemporaneidade e sua capacidade inovadora, sendo realizado em Diamantina, no cruzamento da nascente do Rio Jequitinhonha com o marco zero da Estrada Real, torna-se um evento bastante significativo em termos de integração cultural. Significativo, porque nessa região perseverou uma cultura de resistência face à carestia e à desigualdade de condições que, embora lamentável, permitiu a preservação de traços regionais extremamente ricos e vigentes por todo o Vale do Jequitinhonha. O Festival atua, então, como o próprio rio - em suas águas renovadoras, absorve a fertilidade das terras por onde passa e a redistribui ao longo de seu curso.

Esperamos que, em 2007, o Festival seja uma via de mão dupla, desenvolvendo ações portadoras de conhecimento diferenciado e atual, difundindo valores de caráter mundial mas, ao mesmo tempo, resgatando, valorizando e integrando à sua programação os valores culturais extremamente originais da região do Vale do Jequitinhonha. Nesse contraste de culturas, nesse território híbrido e interativo, o Festival seguirá vivo, dinâmico e afinado com seu tempo.