É comum que, após grandes períodos de refreamento social, ocorra certo “desbunde”, com as pessoas buscando “compensar” o tempo perdido. Isso talvez explique (somado ao clima ameno deste ensolarado domingo de outono, que amanheceu com o céu totalmente aberto) o fato de a primeira edição do Domingo no campus após a pandemia ter reunido cerca de 1,5 mil pessoas no campus Pampulha, em Belo Horizonte, recorde na história do evento. Realizado no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, o evento teve boa parte de sua programação dedicada ao tema da preservação e da sustentabilidade.
Em verdade, não se tratou da primeira edição “pós-pandemia” (a última edição ocorreu há três anos), mas da primeira realizada após encerrada a fase mais crítica da atual emergência sanitária – afinal, a pandemia ainda não acabou, como demonstraram as máscaras nos rostos de várias das famílias que participaram do evento. “É mesmo importante lembrar que ainda estamos em uma pandemia”, disse a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, ao chegar para a festa. “Mas, felizmente, agora já estamos em uma fase em que podemos nos encontrar pessoalmente, se mantivermos todos os cuidados necessários”, pontuou.
A reitora destacou a importância do tema celebrado nesta edição do evento, a defesa do meio ambiente. “A pandemia nos lembrou da importância da relação e da colaboração dos seres humanos com o meio ambiente: se não cuidarmos da sustentabilidade, se não preservarmos o meio ambiente, teremos cada vez mais dificuldades e problemas para viver e conviver neste planeta”, salientou. “Como seres humanos, precisamos pensar a nossa existência de forma global, tendo em vista a nossa interação com os animais, com as plantas e com o meio ambiente como um todo”, defendeu.
A volta ao campus
Se o meio ambiente foi o tema central do evento deste domingo, ele é também o ponto de convergência do mestrado que Viviane Batista cursa no Instituto de Geociências da UFMG. Aluna do Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais, Viviane conta que, antes da pandemia, aproveitava, com os filhos, a natureza do campus Pampulha, atividade que precisou ser interrompida nos últimos dois anos em razão do fechamento dos campi. Com a recente flexibilização das normas sanitárias e a volta às atividades presenciais, ela demonstrava animação em voltar a frequentar em família os espaços da UFMG.
“Só ficamos sabendo do Domingo no campus hoje de manhã, mas mesmo assim não quisemos perder a oportunidade”, contou a pós-graduanda. “As crianças fazem futebol num programa de extensão da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional todo domingo de manhã; quando soubemos, já combinamos de vir para cá diretamente depois da aula”, relatou a mestranda.
Quem mais ficou feliz com o programa foram seus filhos, Mandume e Nzinga, de 6 e 10 anos, respectivamente. Mandume, em especial, estava particularmente empolgado com o lançamento de um foguete que estava programado para ocorrer na Praça de Serviços. “É que eu adoro aviãozinho. Olha aqui, eu até trouxe alguns”, justificou o menino, sem disfarçar a animação.
“Ele fica jogando aviõezinhos o tempo todo em casa, mas aqui tem mais espaço”, disse Viviane. E, enquanto a mãe dava entrevista, as crianças iam detalhando o “planejamento”: depois da atividade com o foguete, a exigência era jogar bola no gramado, dando sequência aos treinos do início do dia.
Agenda ampla
Enquanto a festa avançava, a questão ambiental seguia central nas conversas com os dirigentes da UFMG. A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, em particular, fez lembrar que a comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente na UFMG “compõe uma agenda que é mais ampla e que se associa com uma série de iniciativas da Universidade em prol do meio ambiente – dele e de todos nós, que dependemos do meio ambiente para continuar em vida”, disse.
“Mas a verdade é que estamos comemorando a data em um momento muito difícil para o nosso país no que diz respeito à agenda de preservação e sustentabilidade”, afirmou Mayorga, lembrando, entre outras coisas, as ameaças que pairam atualmente sobre a Serra do Curral por meio da atividade minerária. “Nesse sentido, a ideia é que possamos reforçar – em meio a todas essas atividades de esporte, lazer e cultura –, este contexto que vivemos como um momento de conscientização em relação aos riscos ambientais que nos ameaçam”, enfatizou.
O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Tarcísio Mauro Vago, reiterou a preocupação. “A Serra do Curral é um patrimônio que não podemos perder. E precisamos recuperar Brumadinho, recuperar Mariana, recuperar todos esses espaços que são nossos, para que não sejam reduzidos ao comércio, para que sejam lugares efetivamente nossos”, conclamou.
O pró-reitor celebrou o evento como uma grande oportunidade de reunião do corpo discente da Universidade em uma real partilha comunitária. “A estudantada da UFMG tem aqui, no Domingos no campus, uma oportunidade rica de estar junta, de celebrar a vida em comum, de trocar experiências”, disse. “Os campi da UFMG são um patrimônio público e, como tal, são lugares para várias práticas, não apenas as acadêmicas: eles são lugares de sociabilidades, de trocas: veja quantas experiências lindas estão ocorrendo aqui, neste instante, no campo da cultura, no campo do lazer”, exemplificou. “Precisamos mesmo ocupar os campi em todas as suas possibilidades, seja na produção do conhecimento, seja nesse ‘estar junto’ que nos possibilita compartilhar a vida e este espaço lindo”, enfatizou.
A vida na Universidade
Celebrar a vida em comum. Foi o que motivou o casal Mackenzie Moreira e Felipe Junio Alves no Domingo no campus de hoje. Noivos, eles vieram de Esmeraldas, cidade da Região Metropolitana de Minas Gerais, para estudar no campus Pampulha. E o casal tem planos de seguir morando em Belo Horizonte – ao menos por ora. “Depois que o Felipe se formar a gente casa”, brincou Mackenzie, quando perguntada sobre seus projetos.
Mackenzie é aluna do quinto período do curso de graduação em Terapia Ocupacional, enquanto Felipe o curso de Artes Visuais, vinculado à Escola de Belas Artes. Mackenzie contou que, em linhas gerais, gostou bastante da programação do evento, mas pediu mais atividades para o público jovem. “A gente fica meio sem graça de entrar no meio das crianças. Seria bom se tivessem mais eventos para os adultos sem família”, sugeriu.
Heloisa Botezelli, aluna do 3º período do curso de graduação em Medicina e integrante do projeto de extensão Grupo de Estudantes que Multiplicam e Transformam Ideias (Gemti), realizou uma intervenção para disseminar noções sobre hábitos saudáveis de alimentação em longo prazo. “Hoje, neste estande, estamos trazendo informações nutricionais sobre os alimentos ultraprocessados. Pouca gente sabe, por exemplo, que uma barra de chocolates de 90 gramas reúne quase toda a quantidade de açúcar que, conforme as recomendações da Organização Mundial de Saúde, uma pessoa poderia comer em um dia”, exemplificou.
No painel demonstrativo que a estudante mobilizou para a sua atividade, era possível ver que uma barra de chocolates tem aproximadamente 45 gramas só de açúcar – o máximo diário recomendado pela OMS é de 50 gramas. “Há muita propaganda e incentivo para o consumo desses alimentos”, criticou Heloisa. “É preciso tentar reduzir e equilibrar, prezar por alimentos naturais, que têm menos açúcar e trarão mais nutrientes para o nosso organismo”, conclamou.
A TV UFMG também acompanhou a edição de retorno do Domingo no campus. Assista à reportagem:
Beatriz Tito Borges e Ewerton Martins Ribeiro