Edição de 20 anos da Jornada de Extensão desperta esperança de ‘viver Freire’

Estudantes extensionistas da UFMG relatam experiências de aplicação dos ideais do educador homenageado pelo evento

 

Em sentido horário Luisa, Laura, Ian, Lucinha e Lorena Diniz (Intérprete de Libras) | Reprodução: YouTube Extensão UFMG

Em sua atuação, as atividades de extensão da UFMG são transformadas e impactadas pela interação com comunidades, saberes e sujeitos diversos. Essa relação dialógica, que é um dos pilares do pensamento e método do educador Paulo Freire, foi demostrada na 20ª Jornada de Extensão da UFMG. O evento foi realizado virtualmente no dia 16 de junho com o tema 20 anos da Jornada de Extensão e centenário de Paulo Freire – extensão para a autonomia, o diálogo e a esperança.

O Projeto Pequi, vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB), nasceu, em 2012, como alternativa de renda para a comunidade quilombola de Pontinha, em Paraopeba (MG). Segundo a extensionista, Luisa Couto de Souza, todo trabalho é realizado “em comunhão” e utilizando ferramentas participativas. “Houve a participação ativa e crítica, a construção do conhecimento e da autonomia dos comunitários, que passaram a produzir e a vender produtos à base de pequi de forma sustentável”, relatou a estudante, que mencionou, ainda, o impacto da experiência na sua formação. “É uma contribuição que vai além da academia. A interação com o mundo contribuiu para eu dar sentindo ao que aprendo e me tornou ‘mais humana’”.

Na área da comunicação, o estudante Ian Figueiredo Braga Netto apresentou sua participação no projeto ‘Ciência na Web’, iniciativa do programa ‘1000 Futuros Cientistas’, do Departamento de Química da UFMG. O projeto busca democratizar a ciência por plataformas virtuais a partir de situações corriqueiras e experiências do cotidiano. “Dedicamo-nos a explicar química de forma acessível e democrática. Assim como sugerido por Paulo Freire, todas as pessoas têm um conhecimento proveniente da sua cultura, da vivência, que não é menos importante do que o conhecimento teórico”, afirmou Ian, para quem o educador homenageado é, desde o ensino médio, “uma grande fonte de inspiração”.

Discente do curso de Química, Ian Figueiredo inspira-se em Paulo Freire para desenvolver ações de divulgação da ciência (Reprodução YouTube)

Discente do curso de Química, Ian Figueiredo inspira-se em Paulo Freire para desenvolver ações de divulgação da ciência (Reprodução YouTube)

O projeto Observatório de Estomaterapia: feridas e estomas foi representado na Jornada pela discente do curso de Enfermagem, Laura Ellen França Soares. Ela explicou que, a partir dos princípios de Freire, a iniciativa visa contribuir para a qualidade de vida de pacientes atendidos no Hospital das Clínicas da UFMG, provenientes do Sistema Único de Saúde. “Há uma troca recíproca de conhecimentos com o paciente, que se torna sujeito ativo do tratamento para que ele possa alcançar a autonomia do autocuidado e a qualidade de vida”.

Ao mediar debate com os discentes acerca dos ideais freireanos, a professora da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, Lúcia Helena Alvarez Leite, disse que “a proposta do homenageado visa problematizar a partir da realidade, da interação, da troca e da prática social. É um grande desafio ‘viver Paulo Freire’ dentro ou fora da UFMG”.

Inspiração de longe

A pró-reitora de Extensão da UFMG, Claudia Mayorga, ressaltou que Paulo Freire inspirou a concepção, na década de 80, das diretrizes da extensão universitária no Brasil, como a interação dialógica, a formação do estudante, a transformação social e a interdisciplinaridade. “Essa inspiração é fundamento para que cumpramos, hoje, nossa função de universidade pública”, afirmou.

Para a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, homenagear o educador nos 20 anos da Jornada é uma forma também reafirmar a importância assumida pela extensão. “Esse evento atesta a qualidade dos trabalhos que vêm sendo desenvolvidos com as comunidades e a extensão como elemento integrador das ações da Universidade. Que Paulo Freire nos inspire sempre no cotidiano, na formação humana e no desafio de lutar por um país mais equânime, justo e melhor”.

A programação da edição de 20 anos da Jornada de Extensão também incluiu a participação da Orquestra de Choro, da Escola de Música da UFMG, coordenada pelo professor Marcos Flávio, que interpretou a música Ele e eu, de Pixinguinha, e do projeto Arte e Diferença, da Escola de Belas Artes, que apresentou a performance Freiriarte.

Orquestra de Choro da UFMG se apresentou no evento com a canção ‘Ele e Eu’, do mestre Pixinguinha (Reprodução YouTube)

Ao fim do evento, foi apresentado vídeo do cordel Aprendi lendo caju, escrito e encenado pelo professor do Teatro Universitário (TU), Fernando Limoeiro, em que o próprio Limoeiro interpreta o protagonista ‘Vitorino Sabe-Ler’, um lavrador que sente vergonha de não ser alfabetizado. Ao conhecer Paulo Freire, ‘Vitorino’ descobre um mundo de possibilidades descortinado pela leitura e pela escrita.

A 20ª Jornada de Extensão contou com intérpretes de Libras.

Acompanhe as novidades da Jornada no site oficial do evento.