Mineiro de Boa Esperança, ainda que tenha se mudado com a família para o Rio de Janeiro quando criança, o pianista Nelson Freire acredita que carrega consigo inúmeras marcas do jeito mineiro de ser. É com esse sentimento que ele recebe amanhã, dia 15, o mais importante título honorífico outorgado pela Universidade: o Doutor Honoris Causa.
A cerimônia, pública, ocorre em sessão solene do Conselho Universitário, no auditório da Reitoria, a partir das 17h, e integra as comemorações dos 90 anos da UFMG, que tiveram início em setembro deste ano e seguem até setembro de 2017.
Aclamado pela crítica mundial como um dos maiores pianistas de todos os tempos, o mineiro Nelson Freire deixou sua cidade natal, no Sul de Minas Gerais, aos 5 anos, para morar no Rio de Janeiro. Foi lá que, orientado pelas pianistas Nise Obino e Lúcia Branco, pôde desenvolver o talento que já começara a demonstrar aos três anos. Desde então, Freire, hoje com 72, percorreu o mundo por causa da música, tendo tocado em cerca de 70 países.
“Graças à música tenho tido o privilégio de conhecer meio mundo. Deixei Minas com apenas cinco anos, mas Minas não me deixou. São aquelas paisagens, o modo de ser das pessoas, os usos da terra, a culinária, tudo isso me marcou de modo muito profundo. Quem me conhece de perto sabe bem disso: continuo mineiro como se nunca tivesse saído daqui”, diz o pianista.
Essa percepção confere significado especial a um título que ele já recebeu de outras duas instituições: as federais do Rio de Janeiro, em 2011, e do Rio Grande do Sul, em 2014. “É o inesperado. Estamos tão acostumados a sentir-nos sozinhos no trabalho diário com a música – no caso de um pianista, isso, então, é mais evidente – que não imaginamos que uma instituição como a Universidade possa vir a nos encorajar e legitimar com uma distinção dessas”, comemora.
Nelson Freire defende que as universidades existem para se ocupar de tudo, inclusive do campo das artes. “É muito interessante o que se pode aprender com os musicólogos. Ajuda a interpretação, sobretudo em questões de estilo. As boas edições de música se baseiam em saberes acadêmicos do mais alto nível. Sou-lhes muito grato”, avalia.
O primeiro Doutor Honoris Causa da UFMG foi entregue ao jurista José Xavier Carvalho de Mendonça, em 1928, por proposição da Faculdade de Direito. Dois anos depois, em 1930, o título foi outorgado ao então presidente (título equivalente, atualmente, ao de governador) do Estado de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.
Trinta anos depois, voltar a conceder sua maior honraria: foi em 1960, ao então presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, graduado em medicina pela UFMG. A indicação foi feita pela Faculdade de Odontologia e Farmácia (as duas faculdades foram desmembradas apenas três anos depois, em 1963).
Em 1973, a Faculdade de Letras (Fale) indicou o também ex-aluno da UFMG e escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, natural de Itabira, para outorga do título. Graduado em Farmácia pela Universidade, ele se tornou a sexta personalidade a receber o reconhecimento da UFMG.
Em 1987, por indicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984, foi homenageado por sua luta pelos direitos humanos e contra a discriminação racial.
O 11º homenageado foi o arquiteto Oscar Niemeyer, em 1997, por proposição da Escola de Arquitetura. Dois anos depois, em 1999, foi aprovada a outorga, proposta pela Fale, ao escritor português José Saramago, Nobel de Literatura do ano anterior. O compositor, escritor e cantor Chico Buarque foi o 13º homenageado, em proposta de 14 membros do Conselho Universitário, em 2008.
Em setembro deste ano, foi entregue o 21º título à cantora lírica Maria Lúcia Godoy. Aos 72 anos, Nelson Freire se tornará, nesta quinta-feira, o 22º Doutor Honoris Causa da UFMG. Veja aqui a lista de todos os agraciados.
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