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Nº 1824 - Ano 39
10.6.2013

Entrevista / Antônia Vitória Aranha

“Introduzimos mais cores ao arco-íris da UFMG”

Apesar das dificuldades, a Universidade conseguiu efetivar sua expansão na graduação com um mínimo de infraestrutura e acompanhamento acadêmico. É o que diz a pró-reitora de Graduação, Antônia Vitória Aranha, nesta entrevista ao BOLETIM, na qual faz um balanço dos últimos quatro anos da UFMG na área de ensino. A pró-reitoria também avalia como positivos os resultados do processo de inclusão posto em prática pela Instituição, mas vê necessidade de mudanças mais profundas na graduação, ainda “amarrada” por disciplinas e cargas horárias muito rígidas.

Flávio de Almeida

Nos últimos quatro anos, quais foram os grandes marcos da UFMG no que se refere à graduação?

O primeiro foi a garantia da expansão propiciada pelo Reuni. Asseguramos o funcionamento dos cursos implantados com um mínimo de infraestrutura, ainda que com dificuldades. Outra alteração significativa se deu com relação ao processo de ingresso dos alunos. Isso ocorreu de início com a substituição da primeira etapa do vestibular, incorporando o Enem, e agora, com a extinção completa da segunda etapa, exceto nos casos em que o Sisu não permite. Também conseguimos que os bolsistas Reuni fossem efetivamente incorporados a atividades na graduação como havia sido acertado com o MEC. Vou explicar melhor: na grande maioria das universidades, não há monitoramento desses bolsistas, mas a UFMG criou um comitê Reuni, que acompanha, capacita e facilita a integração dos bolsistas de pós-graduação ao universo da graduação.

Eles inclusive recebem uma complementação...

Nenhuma outra universidade fez isso. Não foi uma definição tirada no nosso Reitorado, mas mantida e garantida integralmente pela atual gestão. Conseguimos ainda estruturar melhor nossa educação a distância por meio do Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed). Também ampliamos o número de bolsas na graduação e conseguimos delinear melhor o perfil de nossos alunos a partir de estudos e projeções feitas pela Comissão de Acompanhamento e Inclusão Social (Cais).

Que mudanças a democratização do acesso já trouxe para o perfil do alunado da UFMG?

Ainda é cedo para análises definitivas. Mas os estudos já feitos, com base em dados de 2010 e 2011 da própria Cais, mostram que os bonistas evadem cerca de 50% menos que os alunos que entraram sem bônus. Em termos de rendimento escolar, em geral, apresentam, no primeiro e segundo semestres, algum tipo de desnível, em alguns cursos, mas, a partir do terceiro semestre, eles se igualam ou até superam os não bonistas. Temos problemas de reprovação, mas eles não são provocados pela inclusão. Não foram os cotistas que trouxeram problemas dessa natureza para a universidade. Alguns são históricos. Professores e coordenadores nos informam que há uma queda de nível entre os ingressantes, mas não podemos imputar isso ao processo de inclusão, e sim à crise da educação básica no país.

Essa mudança de perfil é nítida em algumas áreas, mas em outras nem tanto. Refiro-me a cursos como Medicina e Direito, tradicionalmente mais elitizados. A senhora acredita que essas medidas são suficientes para mudar o perfil desse aluno, majoritariamente branco, de classe média alta e egresso de escolas particulares?

A lei das cotas, no meu modo de entender, resolve essa questão. Até 2016, 50% dos alunos deverão vir de escolas públicas, contemplando, inclusive, a questão étnica e socioeconômica. O bônus trouxe alguns impactos positivos, no sentido de introduzir mais cores ao arco-íris da Universidade. Mas acredito que, com a lei das cotas, esse processo termina por se consolidar.

O que a Universidade tem feito para que os jovens que chegam com uma base mais deficiente possam alcançar padrões de desempenho mais próximos dos esperados pela própria instituição?

Existe um esforço para minimizar a repetência. Há coordenadores e diretores que se preocupam até mesmo em verificar notas dos vestibulares para organizarem turmas específicas. Algumas áreas estão pensando em criar cursos de férias. O Departamento de Física tem oferecido disciplinas a distância, pois chegou à conclusão de que para o aluno que repete uma, duas vezes certa disciplina, o ambiente de sala de aula não é mais atrativo, às vezes é até traumático. Eles têm montado grupos a distância com resultados que chegam a superar os das turmas presenciais.

O reitor Clélio Campolina disse, em seminário recente sobre interdisciplinaridade na graduação, que o futuro do ensino representa um desafio para países e instituições de ensino superior. Em sua visão, que desafios são esses?

Implantar a interdisciplinaridade é essencial para se avançar. Outro aspecto muito importante é a necessidade de quebrar essa visão de que o aluno só aprende na sala de aula.

Como a senhora avalia o estágio da UFMG em relação a essa mudança de paradigma?

Uma das questões postas é a flexibilização curricular, aspecto que inclui atividades complementares para além das aulas, tais como bolsas de iniciação científica e monitorias.

Mas a flexibilização não chega a ser uma novidade...

Sim, ela existe há muitos anos, mas a grande maioria das cargas horárias ainda está muito fechada. Há cursos que tentam criar espaços diferenciados de aprendizado, mas isso é incipiente. É uma necessidade, a própria câmara de graduação tem cobrado isso nas reformas curriculares, mas não é uma coisa tão simples. Não é só a UFMG e o colegiado do curso que interferem na estrutura curricular. Temos, por exemplo, o Conselho Nacional de Educação, que estipula cargas horárias mínimas para os cursos, e a regulamentação feita por associações e corporações profissionais que apontam na direção do aumento de disciplinas e cargas horárias. Diferentemente dos cursos de pós-graduação, onde há mais liberdade para a interdisciplinaridade, a graduação ainda sofre com as muitas amarras.