Imunizante, que está em fase de testes laboratoriais, irá auxiliar dependentes químicos em tratamento contra a dependência de cocaína e crack
A pesquisa Calixcoca, que busca um tratamento para a dependência química de cocaína e crack, venceu a categoria “Terapias e Tratamentos Inovadores” do Prêmio Veja Saúde & Oncoclínicas de Inovação Médica. A entrega foi realizada em cerimônia nesta quarta-feira, 13 de dezembro.

Professor do Departamento de Psiquiatria (PSQ), Frederico Garcia, recebeu o prêmio. Foto: Divulgação/Veja Saúde/Oncoclínicas
O prêmio tem o propósito de divulgar os avanços e conquistas de equipes que se dedicam a encontrar soluções inovadoras para melhorar a assistência médica no Brasil. A iniciativa recebeu dezenas de trabalhos vindos de todas as regiões do país. Eles foram avaliados por um júri técnico, formado por grandes nomes da saúde, como Margareth Dalcolmo e Gonzalo Vecina.
As notas foram atribuídas de acordo com critérios como abrangência e aplicabilidade, impacto e relevância, inovação e capacidade disruptiva, além do emprego de tecnologia. Além do troféu, os vencedores terão os projetos divulgados na revista, no site e nas redes sociais de Veja Saúde e da Oncoclínicas.
Em outubro, a pesquisa venceu o Prêmio Euro Inovação na Saúde.
Função inibidora
Capaz de criar mecanismos terapêuticos para que pacientes em tratamento da dependência química – pessoas que estão em processo de abandono da cocaína e/ou do crack – enfrentem com êxito a chamada síndrome da abstinência narcótica, a vacina Calixcoca, desenvolvida por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pode, em breve, começar a ser testada em seres humanos.
Até o momento, o imunizante foi utilizado em animais de laboratório. Nesses testes, a vacina estimulou a produção de anticorpos, que já dentro do organismo, viajam até “encontrarem” partículas das drogas, também presentes na corrente sanguínea. No momento do encontro, os anticorpos se “colam” sobre a superfície das partículas da cocaína e do crack, aumentando o volume original. Essa expansão de tamanho faz com que os entorpecentes fiquem retidos em uma estrutura que regula a passagem de substâncias para o sistema nervoso central, chamada de barreira hematoencefálica. Como não chegam ao cérebro, as drogas não produzem os efeitos estimulantes.

Aumento do volume das partículas das drogas impede que elas cheguem ao sistema nervoso central. Arte: TV Globo
A vacina é entendida pelos pesquisadores da UFMG como uma estratégia alternativa e complementar aos tratamentos usuais para a dependência química. “A vacina que desenvolvemos não substitui o trabalho dos médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Ela não deve ser associada à aplicação indiscriminada em dependentes químicos ou apontada como solução para problemas complexos de saúde pública, como a dependência de drogas e a vulnerabilidade social”, destaca o professor Frederico Garcia, coordenador da pesquisa e integrante do Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (NAVeS), onde o projeto está sendo desenvolvido desde 2015.
Financiamento
O desenvolvimento da vacina Calixcoca está sendo realizado com recursos do governo federal e com o apoio do poder executivo estadual, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Frederico Garcia, que é médico-psiquiatra, também esclarece que existem sinalizações positivas de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados, que devem destinar recursos para o projeto por meio da indicação de emendas parlamentares. O resultado preliminar da indicação de emendas sinaliza para a destinação de recursos, mas esta situação ainda pode se alterar até a fase final, de autógrafo da LOA 2024.
A pesquisa da UFMG tem chamado a atenção. Afinal, o uso e a dependência à cocaína e ao crack são causas importantes de morbidade e mortalidade em todo o mundo. “O consumo desta droga é considerado um problema de saúde pública que acomete até 1% da população mundial”, segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas – O uso da Cocaína no Brasil 2012. No Brasil estima-se que 1,7% da população já fez uso de cocaína, que 1,5% da população faça uso regular e 1% tenha uma dependência dessa droga. A resultante da dependência pela cocaína é, muitas vezes, a incapacidade psíquica, uma ruptura de laços familiares e a exclusão social.
[Com informações do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG]