Astronáutica no Brasil – Parte 2 – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Astronáutica no Brasil – Parte 2

14 de fevereiro de 2023

 

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No último mês, o Blog do Espaço realizou um resgate da história da astronáutica brasileira até o surgimento do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA). Neste texto, trataremos do início das atividades do CLA até os dias dias atuais.

 


Uma breve recapitulação

O Centro de Lançamento de Ponta Negra , desde o seu surgimento, apresentava inúmeras vantagens, entretanto, possuía restrições para o lançamento de veículos do porte do VLS-1. Diante disso, a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) inaugurou, em 1983, na região de Alcântara no Maranhão, o CLA,  que devido a sua posição conseguia aproveitar ao máximo a rotação da Terra para a inserção de satélites em órbitas equatoriais.

 

Foto da Base de Alcântara – Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão (Reprodução/Facebook/INNOSPACE)

 

Em 1987, os países ditos e lidos como desenvolvidos realizaram um boicote às importações brasileiras de peças necessárias para a construção do VLS-1 por meio do “Missile Technology Control Regime”, fazendo com que a data de conclusão do foguete fosse adiada.

 

Foto do VLS-1 (Fonte: Instituto Nacional de Aeronáutica e Espaço)

 

Em 1989, ocorreria o primeiro lançamento de satélite do CLA, contudo, por complicações no desenvolvimento, o foguete lançador ainda não estava pronto. Diante disso, seria necessário buscar um outro meio de colocar o satélite em órbita através de algum local no exterior. Em 1993, com auxílio de um foguete Pegasus da NASA, o primeiro satélite de coleta de dados brasileiro (SCD-1) foi colocado com sucesso em órbita. Esse feito fez com que o Brasil entrasse no seleto grupo de nações com capacidade de desenvolver satélites artificiais, como por exemplo: USA, Rússia, Índia, Japão, dentre outros. Inicialmente, sua vida útil era de aproximadamente um ano, contudo, mais de trinta anos depois o equipamento continua em atividade.

 

Um ano depois, acontecia a criação da Agência Espacial Brasileira, que tinha como objetivo coordenar todas as atividades espaciais nacionais e era subordinada diretamente à Presidência da República. Em 1997, ocorria o lançamento do primeiro protótipo do VLS-1 e, logo em seguida, em 1999 o lançamento de seu sucessor. O SCD-2, segundo satélite de coleta de dados brasileiro, foi colocado em órbita em 1998 por outro foguete, o Pegasus. Devido às diretrizes da MECB, o Brasil deveria ser capaz de colocar um satélite no espaço através de um foguete lançado do território nacional, diante disso, foi desenvolvido o SCD-2A que seria lançado da base de Alcântara. Entretanto, o lançamento não se concretizou devido a uma falha do equipamento, sendo necessário explodir completamente o foguete e, consequentemente, o satélite.

 

(Foguete Pegasus – Fonte: NASA/Randy Beaudoin)

 

Neste mesmo período, o Brasil ingressou no Programa da Estação Espacial Internacional (ISS). Em troca de serviços prestados pela AEB os centros de pesquisa e universidades brasileiras teriam acesso aos recursos que a ISS poderia oferecer durante toda a sua vida útil. Como resultado da parceria, a AEB realizou, em 1998, a seleção do primeiro astronauta brasileiro, que seria treinado pela NASA e enviado à ISS. 

 

(Foto da ISS – Fonte: ESA/NASA)

 

Ainda na década de 90, Brasil e China estabeleceram uma parceria no desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto para o monitoramento de de recursos naturais. A instituição brasileira que ficou responsável por operacionalizar essa parceria foi o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e no acordo feito, os satélites seriam lançados por foguetes chineses e o Brasil deveria contribuir com 30% dos custos de desenvolvimento e lançamento. O primeiro satélite da parceria foi lançado em 1999, pelo foguete chinês Longa Marcha 4B a partir de uma base em Taiwan. O equipamento recebeu o nome de China Brazil Earth Resources Satellite (CBERS-1 Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres). Devido ao sucesso do projeto, Brasil e China renovaram a parceria para o lançamento de novos satélites no futuro, tendo ocorrido o lançamento do CBERS-2 em 2003.

 

Foto de um CBERS – (Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)

 

O Centro de Lançamento de Alcântara segue auxiliando a Agência Espacial Europeia no monitoramento dos foguetes Ariane. Já o INPE se tornou referência internacional em imagens de monitoramento de recursos naturais, tendo registrado mais de cem mil imagens através dos CBERS. Nos dias atuais, o INPE também tem exercido papel fundamental no combate ao desmatamento nas florestas brasileiras, não poupando recursos no monitoramento de queimadas ilegais, “correntões” e outras técnicas de desmatamento. Do ponto de vista acadêmico o Brasil também tem despontado muito no setor aeroespacial, contando com inúmeras universidades e centros de pesquisa que oferecem cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Engenharia Aeroespacial, Engenharia Aeronáutica e Ciências Aeronáuticas. A UFMG é uma delas, possuindo um curso de Engenharia Aeroespacial referência em todo país, para saber mais sobre ele é só clicar aqui. Além da UFMG, o Brasil também conta com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, escola de engenharia vinculada à Força Aérea Brasileira, que figura entre as mais destacadas instituições de ensino voltada à aeronáutica do mundo inteiro. 

 

A Agência Espacial Brasileira também continua promovendo avanços para o nosso país, tendo nos últimos anos, coordenado o lançamento de inúmeros satélites, sendo eles oriundos de iniciativas públicas ou privadas. Além disso, a AEB também realiza atividades de extensão que buscam divulgar as ciências espaciais entre o grande público, seja na distribuição de cursos online relacionados ao tema ou recebendo visitas escolares em suas instalações. 

 

O Brasil tem tudo para figurar entre as principais potências mundiais no campo da exploração espacial e para aumentarmos nossa relevância é necessário cada vez mais investimento nas instituições públicas relacionadas, além de aumentar a disponibilidade de recursos para as instituições de ensino e incentivos à expansão do mercado espacial no país.

 

[Texto de autoria de João Thomaz Souza, estagiário no Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento UFMG.]

 

Referências Bibliográficas

Selecionadas empresas para operar no Centro Espacial de Alcântara

NASA – Pegasus Rocket

CBERS – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS

Agência Espacial Brasileira

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Livro “A Conquista do Espaço – Do Sputnik à Missão Centenário”