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Fome Zero e Agricultura Sustentável

 

Garantir que todas as pessoas tenham acesso à alimentação de qualidade é imprescindível, quando pensamos na criação de um futuro mais justo e equilibrado para o planeta e seus habitantes. Por isso, acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável são os principais propósitos do segundo item da lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU): Fome Zero e Agricultura Sustentável. Você pode conhecer mais sobre os ODS por aqui.

 

Acabar com a fome no mundo é o segundo item da lista dos ODS. Créditos: ONU Brasil

 

Mas o que exatamente é considerado fome? Para explicar essa questão, os especialistas utilizam o conceito de segurança e insegurança alimentar. Pela definição da ONU, “a segurança alimentar só existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a uma alimentação suficiente, segura e nutritiva que satisfaça as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável”. Quando isso não acontece, dizemos que ocorre uma situação de insegurança alimentar, ou, em termos práticos, fome.

 

Até o ano de 2015, quando os países signatários da ONU desenvolveram os ODS, os números da fome vinham caindo em todo o globo. O rápido crescimento econômico e o desenvolvimento da agricultura ajudaram a reduzir pela metade a proporção de pessoas subnutridas no mundo. Porém, de 2015 aos dias atuais, voltamos a regredir nesse objetivo.

 

A fome no mundo

Nos últimos cinco anos, de acordo com um estudo de 2019 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), houve um aumento de quase 60 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no mundo, fazendo com que a fome passasse a afetar quase 690 milhões de pessoas. Em termos percentuais, isso equivale a aproximadamente 8,9% da população mundial. 

 

A África é o continente mais duramente atingido pela fome, com 19,1% de sua população subnutrida. Na Ásia, esse número corresponde a 8,3% dos indivíduos. Já na América Latina e no Caribe, a porcentagem é de 7,4%. 

 

Apenas de 2018 para 2019, mais de 10 milhões de pessoas passaram a viver em estado de insegurança alimentar, segundo relatório da ONU. Créditos: Pixabay

 

A pandemia de Covid-19 agravou a situação da fome pelo mundo. Estima-se que entre 83 e 132 milhões de pessoas passarão a viver em situação de insegurança alimentar como resultado da recessão econômica desencadeada pela doença. Se a tendência continuar, a estimativa é que, até 2030, esse número exceda 840 milhões de pessoas, o que vai na contramão do estipulado pela ONU.

 

A fome no Brasil

O nosso país seguiu uma tendência parecida com a mundial em relação à fome. O número de brasileiros em situação de insegurança alimentar grave caiu pela metade na primeira década do milênio, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passando de quase 15 milhões de indivíduos em 2004 para cerca de 7,2 milhões em 2013. Porém, nos últimos tempos, os números da fome voltaram a crescer. Em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões a quantidade de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, chegando a cerca de 10,3 milhões o contingente de brasileiros nesta situação, até o ano de 2018. Isso equivale a quase 5% da população do país.

 

Evolução da quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil. Créditos: Jornal O Globo

 

Se a situação continuar se agravando, o Brasil corre sérios riscos de voltar a figurar no Mapa da Fome. Para os critérios da ONU, que organiza a publicação, a porcentagem de 5% da população em situação de insegurança alimentar grave é o parâmetro para que os países sejam inseridos no mapa. O nosso país deixou de figurar nas estatísticas da fome em 2014, mas as projeções atuais são pouco animadoras, principalmente devido à pandemia de Covid-19 e ao fim do auxílio emergencial do governo à população.

 

Pandemia de Covid-19 ameaça a segurança alimentar de muitos brasileiros. Créditos: Ministério da Cidadania/Divulgação

 

No Brasil, a zona rural é mais duramente afetada pela fome. Segundo dados de 2018 do IBGE, cerca de 40% da população que vive nesta área sofre com a insegurança alimentar, enquanto no perímetro urbano essa porcentagem é de aproximadamente 23%. A região Nordeste ainda é a mais afetada, reunindo 41,5% do total de famintos no país.

 

E como a agricultura sustentável pode nos ajudar a vencer a fome? 

Além de zerar a fome e melhorar a qualidade de nutrição das pessoas, o segundo objetivo da ONU compreende um importante passo: promover a agricultura sustentável. O plantio e cultivo de alimentos de uma forma que respeita o meio ambiente e consegue suprir as necessidades da atual geração – sem comprometer as gerações futuras – é um grande aliado na garantia da segurança alimentar.

 

A agricultura sustentável gera renda e promove a qualidade de vida nas comunidades em todo globo. Créditos: ONU Mulheres

 

Quando falamos de agricultura sustentável, abordamos um conceito vasto, em que podem ser incluídas inúmeras estratégias. A diminuição de adubos químicos, a criação de sistemas de captação de águas das chuvas para irrigação e outras técnicas que não poluem nem desmatam os ambientes são algumas delas. Métodos como esses são muito importantes, pois ajudam a manter as nossas terras férteis, combatendo assim a escassez de alimentos.

 

As metas das Nações Unidas para zerar a fome até 2030

Meta 2.1

Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.

Meta 2.2

Até 2030, acabar com todas as formas de má-nutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas.

Meta 2.3

Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, outros recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de emprego não agrícola.

Meta 2.4

Até 2030, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo.

Meta 2.5

Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas respectivas espécies selvagens, inclusive por meio de bancos de sementes e plantas diversificados e bem geridos em nível nacional, regional e internacional, e garantir o acesso e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados, como acordado internacionalmente.

Meta 2.a

Aumentar o investimento, inclusive via o reforço da cooperação internacional, em infraestrutura rural, pesquisa e extensão de serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de genes de plantas e animais, para aumentar a capacidade de produção agrícola nos países em desenvolvimento, em particular nos países menos desenvolvidos.

Meta 2.b

Corrigir e prevenir as restrições ao comércio e distorções nos mercados agrícolas mundiais, incluindo a eliminação paralela de todas as formas de subsídios à exportação e todas as medidas de exportação com efeito equivalente, de acordo com o mandato da Rodada de Desenvolvimento de Doha.

Meta 2.c

Adotar medidas para garantir o funcionamento adequado dos mercados de commodities de alimentos e seus derivados, e facilitar o acesso oportuno à informação de mercado, inclusive sobre as reservas de alimentos, a fim de ajudar a limitar a volatilidade extrema dos preços dos alimentos.

 

Para saber mais: 

Plataforma Agenda 2030 – Fome Zero e Agricultura Sustentável

Unicef – À medida que mais pessoas não têm o suficiente para comer e a desnutrição persiste, acabar com a fome até 2030 é uma incerteza, alerta relatório da ONU

Fome no Brasil: em 5 anos, cresce em 3 milhões o nº de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, diz IBGE

ODS 2 Agricultura Sustentável – Um Estudo

 

[Texto de autoria de Gabriela Sorice, assistente do Núcleo de Comunicação e Design]