Inclusão e acessibilidade no Espaço do Conhecimento – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Experiências de inclusão social e acessibilidade no Espaço do Conhecimento UFMG

O museu busca acolher as diversidades e promover a acessibilidade atitudinal

 

20 de setembro de 2023

 

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No dia 21 de setembro é comemorado o “Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência”. Essa data é celebrada desde 1982, oficializada em 2005 pela Lei nº 11.133. A efeméride surgiu como uma iniciativa do Movimento pelos Direitos das Pessoas Deficientes (MDPD), que enfatiza a importância da acessibilidade de edifícios públicos ou privados, ruas, escolas, locais de trabalho, entre outros. O dia 21 de setembro tem como objetivo conscientizar e divulgar o movimento pelos direitos das pessoas com deficiência, em busca de uma sociedade mais acessível e inclusiva para todos. Esse movimento teve início em função de o estigma e a inacessibilidade pública gerarem grandes transtornos para pessoas com deficiência por todo o país e no mundo. Em paralelo a esta importante data, o  mês de setembro também é celebrado como o mês da valorização da cultura surda e da Libras. Para conhecer um pouco mais sobre a história da Libras e sobre o movimento do “Setembro Azul” ou “Setembro Surdo”, clique aqui.

 

Podemos dizer que, nos últimos anos, alguns desafios foram superados, mas as pessoas com deficiências ainda possuem grandes dificuldades para garantir os seus direitos de acessos e inclusão a serviços básicos e essenciais. Entre os avanços, no ano de 2015, foi estabelecida a Lei 13146 –  Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), que estabelece também o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Essa legislação busca assegurar e promover o exercício dos direitos das pessoas com deficiência, entre eles o de acesso à cultura, ao esporte e lazer. 

 

Datas como o “Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência” são importantes para a conscientização da população sobre a inclusão social. Nesse sentido, entendemos que a inclusão envolve, em seu cerne, a igualdade de oportunidades, a interação e o intercâmbio de ideias entre pessoas com e sem deficiência, ​​e a plena utilização dos recursos sociais por todos os públicos, com a redução de barreiras de acesso. Ressaltando que as barreiras, neste sentido, são obstáculos que impedem a participação social plena do indivíduo, como, por exemplo: exclusão social e isolamento, falta de rampas de acesso em edifícios, ensino defasado, devido a dificuldade de comunicação na escola com alunos surdos e/ou cegos, recusa ao atendimento prioritário a pessoas com deficiências “ocultas”. 

 

Visita mediada à exposição “Mundos Indígenas” – acessível em Libras, no Espaço do Conhecimento UFMG

 

Vale destacar a diferenciação entre acessibilidade e inclusão, a acessibilidade é entendida como a condição necessária e a existência de tecnologias assistivas para o acesso das pessoas com deficiências aos locais, a produtos e equipamentos. Já o ato de incluir, é colocado como o respeito e acolhimento das diversidades das pessoas, tendo uma dimensão mais subjetiva, incidindo sobre as barreiras atitudinais. De acordo com Desirée Salasar (2019), “para que um espaço seja inclusivo, ele deve proporcionar que o maior número de pessoas com e sem deficiência possa desfrutar das experiências ali colocadas.” A autora chama também a atenção para a realidade de que nem todos os locais com acessibilidade são inclusivos, isso acontece pelo fato de, muitas vezes, os recursos e as tecnologias assistivas estarem guardados ou separados para serem utilizados apenas por pessoas com deficiência. Salasar (2019) considera que “incluir significa entender as potencialidades dos sujeitos frente às suas diversidades e disponibilizar os recursos para todos os públicos em um mesmo espaço”. 

 

Tendo em vista premissas de acessibilidade e inclusão social, o Espaço do Conhecimento UFMG tem realizado projetos educativos para se tornar cada vez mais acessível e inclusivo. Por meio de ações formativas realizadas com a equipe interna do museu, busca-se eliminar atitudes discriminatórias e preconceitos para com as pessoas com deficiência. Tal iniciativa visa estabelecer, na equipe, o entendimento da diversidade humana, bem como desenvolver atitudes acolhedoras, promovendo, assim, a acessibilidade atitudinal. Além disso, o museu tem trabalhado para o protagonismo das pessoas com deficiências em suas ações, bem como a presença delas em sua equipe de trabalho. Ao longo do ano, são realizadas visitas mediadas acessíveis em Libras, oficinas multissensoriais que buscam fornecer estimulação sensorial por meio de materiais táteis diversos, e estímulos visuais, motores, auditivos e proprioceptivos. Entre as diversas ações educativas já realizadas, destacamos abaixo duas delas:

 

Oficina “TaTEAndo o Museu”, no Espaço do Conhecimento UFMG.

 

Oficina TaTEAndo

A oficina “TaTEAndo o Museu” foi elaborada por Beatriz Correia e Lorrane Oliveira, estudantes do curso de Terapia Ocupacional e por Christopher Eugênio, aluno do curso de Psicologia, mediadores do Núcleo de Ações Educativas do museu. Essa ação teve como objetivo proporcionar um ambiente museal inclusivo para todos os públicos, em especial crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus familiares. Em uma de suas edições o foco foi a instalação “Cosmogonias”, a atividade contou com contações de histórias sobre a origem do universo de acordo com os povos: Grego, Yorubá, Maia Quiché e Maxacali. O ambiente para a atividade foi preparado com espaço para descanso e para organização sensorial dos participantes. Foram disponibilizados ainda abafadores para os participantes com sensibilidade a estímulos sonoros. Após a narração das histórias, foram realizadas atividades relacionadas a essas narrativas, envolvendo a colagem com papel e EVA, modelagem com massinha e com argila.

 

Assim, foi proporcionado aos participantes o contato com parte do conteúdo presente na exposição “Demasiado Humano”, por meio de uma abordagem multissensorial, importante para o desenvolvimento e aprendizagem da pessoa autista. Essa importância se dá pelo fato de que é muito comum ao Transtorno do Espectro Autista uma “hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente” (Associação Psiquiátrica Americana, 2014, p. 50). Deste modo, oportunidades de estimulação sensorial costumam ser benéficas para uma melhor regulação de estímulos e processamento sensorial. 

 

Projeto “Que sinal é esse?”

Como proposta para o mês de setembro de 2023, por meio de uma vídeo-instalação, promovida pelo Núcleo de Ações Educativas, foram expostos na fachada do prédio do Espaço do Conhecimento UFMG, vídeos de sinais em Libras relacionados ao contexto do museu. A atividade tem por objetivo divulgar a Libras para o público transeunte externo ao museu, favorecendo a conscientização sobre a importância do aprendizado da Língua Brasileira de Sinais. O vídeo também está disponível.

 

 

O apoio às bandeiras de conscientização do Setembro Verde e Azul não apenas reforçam a importância da inclusão na nossa sociedade e no ambiente museal, mas também nos instiga a refletir sobre como podemos constantemente adaptar e expandir as possibilidades de uso e fruição dos diversos espaços das cidades e das práticas neles desenvolvidas.

 

Texto de autoria de Camila Velasquez [1], Daniela Campos [2], Dinalva Andrade [3], Priscila Gabriele Martins [4] e Wellington Luiz Silva [5]

 

[1] Estudante do curso de Terapia Ocupacional e bolsista do Programa de Apoio a Inclusão e Promoção à Acessibilidade, no Espaço do Conhecimento UFMG.

[2] Estudante do curso de Letras e bolsista do Programa de Apoio a Inclusão e Promoção à Acessibilidade no Espaço do Conhecimento UFMG.

[3] Tradutora e intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG.

[4] Assistente educacional do Espaço do Conhecimento UFMG.

[5] Assessor educacional do Espaço do Conhecimento UFMG.

 

Para saber mais!

A inclusão social das pessoas com deficiência no mundo

Dia de Luta da Pessoa Com Deficiência busca por inclusão

Lei Brasileira de Inclusão – Estatuto da Pessoa com Deficiência

Setembro Verde – Mês da Pessoa com Deficiência | Prefeitura de Belo Horizonte

ARAÚJO, D. L. S; KLAUSS, J. Os benefícios da terapia de integração sensorial no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista: revisão integrativa de literatura. In: Autismo: avanços e desafios. Editora Científica Digital, vol. 2, 2022. Disponível em: https://downloads.editoracientifica.com.br/articles/220207680.pdf. Acesso em: 15 set. 2023.

ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA. DSM-V: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: ARTMed. 2014.

CARDOSO, N. R; BLANCO, M. B. Terapia de Integração Sensorial e Transtorno do Espectro Autista: uma revisão sistemática de literatura. Revista Conhecimento Online | Novo Hamburgo | a.11 | v.1 | jan./abr. 2019. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/1547/2273. Acesso em: 15 set. 2023.

MACIEL, M. R. C. Portadores de Deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo em Perspectiva, 14(2), São Paulo, 2000 . Disponível em: https://www.scielo.br/j/spp/a/3kyptZP7RGjjkDQdLFgxJmg/?lang=pt. Acesso em: 15 set. 2023.

PESSOA, S. C.; MANTOVANI, C. M. C. A. ; MARQUES, A. C. S.  ; JACOME, P. (Orgs.) . Comunicação e acessibilidades: um guia para práticas hospitaleiras. 1. ed. Porto Alegre: Editora Fi, 2023. v. 1. 134p. Disponível em: https://www.editorafi.org/ebook/706-comunicacao-acessibilidades. Acesso em: 15 set. 2023.

SALASAR, D. N; SILVA,  L. D, MICHELON, F. F. Atuações da terapia ocupacional no contexto museológico: sensibilização para a diversidade. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 24, n. 1, p. 147-153, 2016 DOI: http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoRE0682. Acesso em: 23 jun. 2023.

SALASAR, D. N. Um museu para todos: manual para programas de acessibilidade. Pelotas: Editora da UFPel, 2019. Disponível em: https://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/4390?show=fullAcesso em: 15 set. 2023.