Interatividades

Fabrício Fernandino *

A transdisciplinaridade pressupõe o pensamento e a experiência; a ciência e a consciência; a efetividade e a afetividade. Nesse sentido, a transformação de visão e de ação no mundo passa por um diálogo transdisciplinar, baseado em pontes que ligam os seres e as coisas, acompanhado por uma revolução da inteligência que transforma nossa vida individual em social, através de um ato estético e ético, desvelando a dimensão poética, superando o interesse da eficácia pela eficácia e resgatando o Humano.

Nicolescu Basarab – Manifesto da transdisciplinaridade.

Os conceitos de rede, parceria e interatividade vêm movimentando os meios acadêmicos, científicos e empresariais há algum tempo. No meio artístico, isso não tem ocorrido de forma diferenciada. Os diálogos são possíveis sim. São necessárias as conversas, as trocas de idéias e de experiências. A arte mais do que nunca cumpre seu papel, se não de antecipar, pelo menos de balizar, pela sensibilidade, a evolução humana. A arte, com toda a sua liberdade, reflete o homem no seu tempo, na medida de sua sensibilidade, e de maneira muitas vezes diferenciada, ao falar desse homem. Para estar afinado com seu tempo, urge para o artista estar interagindo com esse tempo. Aí sim, cumprindo seu papel, o artista embaralha as cartas do jogo e propõe novos desdobramentos, dentro de uma lógica própria, com outra forma de pensar e  agir.

Mais do que nunca, o universo da ação e da pesquisa na arte deve ser horizontalizado, amplo, irrestrito. Seus limites, se existirem, devem ser suficientemente alargados, não só por sua experiência pessoal, mas também por seus relacionamentos, suas linhas de influências e seus níveis de conhecimento. É preciso conhecer o homem para falar do homem, mesmo que esse homem seja o “eu”, esse eterno desconhecido...

Estabelecer diálogos da arte com outras frentes de conhecimento — com a ciência e a tecnologia, por exemplo — coloca o Festival de Inverno em novo patamar propositivo. Esse é o espaço da experimentação, da pesquisa aliada à ação. Esse é o espaço para ousar.

Assim, construímos mais que um momento: construímos uma proposta, laboriosamente arquitetada para outra estrutura que permita ao Festival manter-se oxigenado pelas novas vertentes do pensamento e da arte do novo século.

Nossa contemporaneidade está inevitavelmente condicionada a uma decisão dramática. O século XXI coloca-nos na situação desconfortável de decidir, ou não, sobre nossa própria existência enquanto humanidade.

Sem perda de tempo urge conversar, promover entendimentos. E a arte tem um papel fundamental nesse processo.

Sob essa ótica, é que se criou uma nova estrutura para o Festival de Inverno: estabelecer diálogos necessários e urgentes, criar redes interativas entre as áreas do conhecimento orquestradas por um conselho curatorial transdisciplinar. Assim, contribuímos para o exercício democrático do pensar e do criar em um horizonte mais amplo, generoso e diverso.

Em 2006, o Festival de Inverno da UFMG terá uma estrutura diferenciada e inovadora. A partir das experiências vividas e do amadurecimento das propostas de interatividade, chegou o momento de um novo salto na estruturação do Festival. O objetivo é colocá-lo em novo patamar e mantê-lo como um evento de ponta e referência nos cenários artísticos nacional e internacional. A proposta é criar núcleos de excelência interagindo entre si e orquestrados por um conselho curador. O objetivo é estabelecer relações diferenciadas dentro da programação do Festival, gerar novos conhecimentos e ampliar os horizontes da prática artística.

Nessa perspectiva, a programação do Festival prevê a oferta de oficinas em duas modalidades: iniciação e atualização. Dentro da iniciação, serão realizadas oficinas específicas de cada área e outras híbridas, que relacionam duas áreas de conhecimento. Para a modalidade atualização, as ofertas de oficinas serão também específicas de cada área, dentro dos núcleos temáticos propostos: arte-aprofundamento, arte-ciência, arte-conceito, arte-poética e arte-tecnologia. Nessa modalidade a interatividade será efetivada por meio dos eventos, relacionando-se os núcleos e as áreas.

* Coordenador-geral do Festival de Inverno da UFMG


38º Festival de Inverno da UFMG - 16 a 29 de julho de 2006 - Diamantina - MG
Homenagem ao Centenário do Presépio do Pipiripau - Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG