A trajetória dos direitos humanos não é linear, registra progressos e regressos. Os últimos anos foram especialmente marcados por movimentos de retrocesso que, em certa medida, abalaram as conquistas anteriores. O momento é de recomeço, na avaliação do estudante João Victor Reis, do oitavo período do curso de Direito da UFMG, inscrito no Curso de Verão – Educação para os Direitos Humanos, promovido pela Universidade em parceria com a Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM). “A universidade pública é um ótimo local para se fazer essa reflexão”, diz o estudante.
A opinião do estudante vai ao encontro da avaliação da reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que preside a AUGM. Durante a abertura do curso, realizada na segunda-feira, dia 17 de fevereiro de 2023, ela destacou a missão das 46 universidades integrantes da Cátedra Aberta para a Educação em Direitos Humanos “de contribuir para que as pessoas conheçam seus direitos e se encorajem para que eles nunca mais sejam violados”.
“Este é um momento especial para a reflexão sobre a importância de termos esperança e força para lutar por tempos melhores. Os países da América Latina são marcados pela violação dos direitos humanos, e precisamos nos preparar para que nunca mais isso venha a acontecer”, afirmou a reitora.
Para Kaique Wesley Ferreira do Nascimento, que também cursa Direito na UFMG e tem deficiência visual, a expectativa é grande em relação à Escola de Verão. “Espero que traga uma perspectiva ampliada sobre os direitos humanos, sociais e culturais, assuntos que não aparecem na mídia tradicional. Além disso, estou muito ansioso pela palestra sobre direitos humanos e pessoas com deficiência”, acrescentou.
Essa aula, que será ministrada nesta quarta-feira, das 9h às 12h, pelas professoras da Universidad de Mar del Plata Maria Laura Tejon e Julieta Villa, também é esperada por João Victor de Castro Ruas, colega de Kaique no curso de Direito, que também tem deficiência visual. “Estou muito animado e me preparei com antecedência, lendo toda a bibliografia que foi sugerida. Quanto à programação, vou ‘puxar a sardinha’ para meu lado, pois no Brasil, apesar de 14% da população ter algum tipo de deficiência, esse assunto é muito negligenciado. Além disso, esse é um dos poucos cursos de extensão em que fui bem acolhido, porque, na maioria das vezes, quando manifesto interesse em participar de um curso e relato minha deficiência visual, nem obtenho respostas, ou então dizem assim: ‘tudo bem, você é cego, vai ter tradução em Libras’”.
Para a estudante de jornalismo da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG Helena Novaes Passos, que também já se graduou em História pela mesma Unidade, “falar sobre direitos humanos no Brasil será cada vez mais recorrente, especialmente após o governo dos últimos quatro anos”.