Participantes da mesa (em sentido horário): Moacyr (UEMG), Filippo (MUSA); Guilherme (Intérprete UFMG); Débora (UFMG) e Tatiana (UFRJ) |Foto: Reprodução YouTube.

Mesa-redonda do 9º CBEU discutiu a importância dos esforços da extensão universitária em propagar o conhecimento científico para a sociedade, principalmente na situação atual no país provocada pela pandemia de covid-19. Com o tema Divulgação Científica e Extensão Universitária, a mesa foi mediada por Moacyr Laterza Filho, pró-reitor de Extensão da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Crise de confiança 

A professora Tatiana Marins Roque, do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comentou o desafio que se coloca para difusão científica, que é superar a crise de confiança.

“Uma questão que tem se tornado importante dentro da estratégia de divulgação científica é como a sociedade tem se relacionado, ou não, com a ciência. Como as pessoas percebem a ciência e utilizam a ciência para, assim, estabelecer confiança. Com a pandemia esse obstáculo foi mais visível, expondo as dificuldades de convencer a população em seguir as recomendações preventivas e sanitárias”.

A docente observou que “esse fenômeno não está acontecendo somente no Brasil, mas, aqui, a desconfiança e o negacionismo tomaram proporções maiores. “Há dois fatores que contribuem para esse cenário: falha educacional e descrença nas instituições governamentais”, argumentou.

Tatiana Roque emendou “que não tem como resolver o problema apenas comunicando mais e melhor, porque o que vemos é uma camada de ataque entre a ciência e política”.

Popularização da ciência em comunidades tradicionais

Filippo Stampanoni Bassi, diretor Adjunto Científico do Museu da Amazônia (MUSA), destacou experiências de popularização da ciência em seu Estado e sua importância para as populações tradicionais.

“A Amazônia é famosa no mundo inteiro pela impressionante biodiversidade. No entanto, as pessoas não sabem como é a situação social e como é o modelo de conhecimento; são desconhecidas a imensa variação cultural e a grande distribuição de idiomas – estima-se que na Amazônia tem 240 línguas faladas”, afirmou Filippo.

Em razão disso, comentou o palestrante, “a Amazônia tem que lidar com problemas extremamente complexos. A alternativa para contornar esses conflitos seria englobar a popularização da ciência diretamente no cotidiano das famílias, criando uma ponte solidificada e produtiva entre as pessoas que moram em Manaus e nas comunidades tradicionais”.

Divulgação científica contextualizada  

A professora Débora d’Ávila Reis, diretora de Divulgação Científica da UFMG, destacou que a extensão universitária pode contribuir para uma “divulgação científica contextualizada”.

“Seria mais interessante pensar uma divulgação científica a partir dos problemas da sociedade, assim, não seria a universidade que definiria os temas que entrariam em pauta. Essa forma propõe a estabelecer um diálogo verdadeiro e horizontalizado entre as duas dimensões”.

Infodemia

Com a necessidade de passar informações cientificamente embasadas para orientar a população de uma forma geral, surgiu um novo fenômeno: a infodemia.

Segundo Débora d’Ávila Reis, ele consiste no aumento expressivo de informações em circulação durante a pandemia de Covid-19. Como alternativa, Débora diz que é necessário ir além da concepção educativa internalizada na ciência universal e pensar a divulgação científica localmente.

“Contextualizar a informação científica é difícil, mas é preciso lembrar que ela só passa a fazer sentido e se transforma quando se tem um impacto direto na população. É preciso dar às pessoas uma resposta concreta, em termos de linguagem e transferência de informação. A divulgação científica não é apenas informacional, ela também é emocional e cultural”.

 Assista ao vídeo completo da mesa (realizada, ao vivo, no dia 9 de março) disponível no canal da Proex UFMG no YouTube. 

Reportagem: Gabriela Francine  – Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão da UFMG