Na abertura do 9º Congresso de Extensão Universitária, pensador destacou a relação de partilha que indígenas, quilombolas e ribeirinhos estabelecem com os ambientes onde vivem
A relação entre direitos humanos e o direito à terra foi o tema abordado por Ailton Krenak, escritor e ativista do movimento socioambiental e de defesa dos povos indígenas, na conferência Direitos da terra e de humanos também, que abriu, na noite desta segunda-feira, dia 8, os trabalhos do 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU).
Em sua fala, Krenak destacou que os direitos humanos podem ser divididos em duas vertentes principais: o direito à vida e o direito ao pertencimento. Em se tratando do direito ao pertencimento, o ativista disse que ele se refere ao fato de que todo cidadão tem o direito de pertencer a uma comunidade.
“Pertencer a uma comunidade é algo que está diretamente relacionado ao direito à terra porque toda pessoa deveria poder se filiar à terra, se constituindo como um defensor da vida na terra e agindo em defesa do planeta. Assim, os direitos humanos e o direito à vida constituem uma mesma dinâmica, em que a ideias de cidadania e de florestania andam juntas. Não podemos esquecer que não existem direitos humanos sem o direito à terra”, disse.
Segundo o ativista, algumas comunidades que habitam o planeta, como os quilombolas, os ribeirinhos e os indígenas, já entenderam a importância de compartilhar a vida e a terra, “constituindo uma espécie de mutirão de pertencimento à terra. Esses povos já entenderam que a terra é nossa mãe, então não devemos enxergá-la como propriedade”, afirmou.
A terra prove
Ao chamar a terra de “mãe”, Krenak explicou que este tratamento transcende a dimensão poética. “A terra pode ser chamada assim porque ela faz exatamente o que uma mãe faria: ela prove. A terra é provedora dos homens.” Tal pensamento foi reafirmado diversas vezes pelo ativista, ao destacar que “a terra, como nossa mãe, precisa ser levada em conta. Se ela é deixada de lado, não existem direitos humanos. O homem moderno quer habitar a terra, mas sem se sentir parte integrante da mesma. Isso não é possível.”
Ailton Krenak também criticou a ação humana que mira o lucro e destrói o meio ambiente. Segundo o escritor, o agronegócio, as grandes empresas, o mercado e o desenvolvimento devem existir sem que as pessoas percam o direito à terra, à vida e ao pertencimento. “Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia e pouco sensíveis à nossa mãe-terra. Sem a natureza, seremos subjugados e deixaremos de ser cidadãos. Estamos revirando o planeta, e ele está respondendo. O corpo ferido da terra vai acabar se recuperando, mas aí talvez será tarde demais.”
Do assistencialismo aos direitos
A pró-reitora de extensão da UFMG, Claudia Andrea Mayorga, celebrou o fato de Minas Gerais sediar o Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU) pela terceira vez e destacou a importância da extensão nas atividades das universidades. “Nos anos 80, a extensão deu uma guinada, saindo do campo do assistencialismo para começar a atuar no campo dos direitos. Esse salto não foi trivial e é por isso que hoje a extensão universitária é tão importante para as universidades públicas e para a sociedade brasileira, pois atua em sintonia com as pautas importantes, questões e problemas do nosso povo”, afirmou.
A professora Olgamir Amancia Ferreira, decana de extensão da Universidade de Brasília (UnB) e vice-presidente do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex), acrescentou que a extensão é a maior expressão de ousadia no ambiente da educação superior brasileira e que o trabalho em rede é essencial para que a extensão consiga atuar de forma significativa e produtiva. “Trabalhar em rede é central na extensão. Devemos sempre nos questionar para que servem as universidades. Darcy Ribeiro dizia que elas deveriam produzir um conhecimento engajado e vinculado às necessidades do povo. E é ai que entra a extensão.”
O reitor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Sandro Amadeu Cerveira, disse que a extensão universitária é essencial para que as instituições de ensino cheguem ao cotidiano das pessoas, pois “somente por meio da extensão as universidades conseguirão construir um conhecimento verdadeiramente transformador”, concluiu.