As cidades estão em crise? Elas têm futuro? Como elas se configuram no século 21? Essas perguntas orientaram a 17ª edição de DIVERSA, que versa sobre um tema amplo, complexo e fascinante: os centros urbanos. Em seu texto de apresentação, o livro As cidades das cidades, lançado em 2006 pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat), resume, com propriedade, o desafio posto a quem pretende compreender a dinâmica da cidade e transformá-la em um lugar mais acolhedor.
“Talvez seja ela a maior invenção da história, o espaço onde é possível conquistar nossa liberdade e humanidade plenas. Contudo, a cidade encontra-se ameaçada e em vias de ser, até mesmo, desinventada. Urge pensá-la, entre e além das disciplinas, para construir o futuro que desejamos para ela, para nós e nossos filhos”, diz o texto. O tamanho desse desafio ficou explícito nas quase 60 páginas de artigos, reportagens e entrevistas produzidos por nossa equipe de jornalistas e articulistas convidados. As cidades são palco de uma complexa teia de relações – assim não podem ser encarceradas em abordagens estanques. Sem a intenção de esmiuçar detalhamente essa teia, DIVERSA tenta, dentro de seus limites físicos e técnicos, revelar um pouco desse objeto.
Já na entrevista que inaugura esta edição, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, defende a construção de um novo modelo de cidade, uma vez que aquele forjado no século 19 e que se baseia na aglomeração de pessoas para produzir e consumir está exaurido. Em suas palavras, é preciso buscar “outra funcionalidade” para as cidades.
O tema é multifacetado e recebe outros olhares. Como o do professor Carlos Antônio Leite Brandão, da Escola de Arquitetura e diretor do Ieat. No artigo “A cidade em crise”, ele avalia que os centros urbanos modernos perderam a característica de ser “o lugar do diálogo e do encontro”.
Em certa medida, o esforço jornalístico materializado nas páginas de DIVERSA transita entre esses dois ‘polos’: a busca de uma nova funcionalidade e o resgate da dimensão dialógica que está na gênese das cidades contemporâneas. Mas entre esses polos – falsamente antagônicos – se misturam outras questões abordadas em nossas matérias: a apropriação criativa dos espaços urbanos pela cultura; a presença avassaladora do urbano, que acabou com a dicotomia cidade-campo; a contribuição dos conflitos para o convívio democrático nas cidades; a linha tênue que separa as chamadas cidades legal e ilegal; e o desafio que os centros urbanos enfrentam para oferecer condições dignas de vida para sua gente – afinal, ainda que soe como clichê, o indivíduo ocupa, ou pelo menos deveria, lugar central na cena urbana.
Para lançar novas luzes sobre o conteúdo das reportagens, nossos articulistas convidados se debruçaram sobre questões igualmente relevantes, como a vitalidade dos centros das grandes cidades, a formação de um capital intelectual na Região Metropolitana de Belo Horizonte sob a égide da inovação e a integração dos índios ao universo urbano.
Compreender as cidades exige um esforço interdisciplinar. Ainda que em escala reduzida, esta edição tentou seguir tal receita. Além da nossa equipe de repórteres, designers gráficos e dos especialistas convidados – das áreas de Geografia, Música, Arquitetura e Economia –, voltamos a contar com o talento dos alunos da Escola de Belas-Artes, sob a supervisão dos professores Conceição Bicalho, Maria do Céu Diel e Vlad Eugen Poenaru, e da Comunicação, sob a batuta do professor Elton Antunes.
Longe de oferecer respostas conclusivas às questões apresentadas na abertura deste editorial, este número pode, pelo menos, ajudar a entender algumas tendências que perpassam a questão urbana.
Boa leitura.
Revista Diversa nº 17
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