Evento sobre ensino presencial recomenda o diálogo e adaptação das atividades acadêmicas curriculares

 “No começo do semestre, eu sempre gosto de perguntar para os alunos que estão matriculados nessa disciplina (que leciona) quais instrumento eles tocam e, para minha surpresa, nesses 21 alunos (que fazem a disciplina), eu descobri que tinha praticamente uma orquestra de câmara”, foi assim que o Prof. Antônio Lincoln, da Escola de Música, começou seu relato.

De uma dúvida inicial sobre como poderia trabalhar com os estudantes e durante o semestre, ao perceber as sequelas trazidas pela pandemia, ele parou para pensar que não era mais possível dar aulas como em 2019 ou como nos Ensino Remoto Emergencial (ERE) e Híbrido Emergencial (EHE). Ele montou uma orquestra com os alunos e, por meio dela, ensinou o conteúdo da disciplina que, em princípio, por ser de teoria musical, não previa prática. O ânimo e o entendimento dos estudantes foi outro. “Foi como se abrisse um novo horizonte para eles”, conta o professor. Os estudantes chegaram a comentar que precisavam fazer isso mais vezes, que estavam precisando de tocar, pois a pandemia não só os tirou da sala de aula e do convívio com as pessoas, mas também os deixou sem ter onde tocar.

Essa necessidade de acolhimento, de escuta, foi o principal ponto trazido nas reflexões do Seminário Especial Integração Docente que tratou da temática “Por que a retomada do ensino presencial em 2022 não pode ser o mesmo ensino de 2019?” que aconteceu na tarde de ontem. O evento, on-line, está disponibilizado no canal do YouTube do Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed) e nasceu do retorno das sete visitas que o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira, e a pró-reitora adjunta, Maria José Flores fizeram às unidades para compartilhar sua proposta de plano de trabalho e escutar as demandas dos colegiados, departamentos, Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs) e diretorias das Unidades.

“Aprendemos muito nesse processo e pudemos ouvir várias iniciativas que vêm sendo realizadas no âmbito dos cursos, dos departamentos, para atender às especificidades desse momento (de retomada presencial) que tem exigido de todos nós, em todos os níveis de organização, muitas reflexões, discussões e ações coletivas reafirmando nosso pacto, enquanto universidade, por uma educação de qualidade e socialmente relevante”, contou o pró-reitor de graduação. Ele também falou das iniciativas que existem para apoiar o ensino da graduação e que podem ajudar a atender às necessidades dos estudantes nessa nova transição.

Sensibilidade

A professora Conceição Travalha, da Faculdade de Educação, uma das convidadas do evento, em seu relato, lembrou que é preciso observar em qual contexto os estudantes estão voltando para a sala de aula. É um momento onde a pandemia ainda não acabou e que as sequelas dessa fase estão sendo vivenciadas, além dos cortes na educação e notícias como os assassinatos brutais na Amazônia e a guerra na Europa.

“Tenho ouvido de alguns colegas queixas sobre nossos alunos. Que esses alunos perderam o hábito de estudo, que eles estão desatentos, inquietos, pouco sociáveis, nervosos, mas eu gostaria de afirmar que os nossos alunos, nossos jovens, nossos adolescentes, aliás, todos nós, voltamos para uma das aprendizagens mais importantes para o ser humano: nós voltamos com uma aprendizagem sobre a morte e o morrer, sobre a luta pela vida, que eu acredito que são fundamentais para o ser humano”, disse.

O professor Pedro Henrique Pereira, da Escola de Engenharia, sobre a pergunta tema do evento, acredita que não é mais possível ter o mesmo ensino de 2019. “O mundo mudou, nós mudamos, a gente precisa reconectar uns com os outros, criar esses laços para a gente compreender o que é necessário para promover esse aprendizado com os estudantes, para a gente, então, adaptar as estratégias de ensino de acordo com a realidade atual”, falou. No seu depoimento, compartilhou sua experiência como coordenador do curso de Engenharia Metalúrgica e o que tem acontecido dentro de sala de aula nas matérias que leciona.