
Mesa redonda refletiu sobre os usos da IA – Foto: Carol Carvalho
No dia 30 de outubro aconteceu, na Faculdade de Ciência Econômicas, FACE, o Encontro Formativo “(Des) Encontros com a Inteligência Artificial: ensinar e aprender por quê, para quê, para quem e como?”, promovido pela Diretoria de Inovação e Metodologias de Ensino (Giz) da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). O evento foi durante a manhã e tarde e contou com mesa redonda, oficinas e minicurso.
Durante a mesa redonda “Inteligência Artificial: tecnopolíticas, ética e imaginação criativa na educação universitária”, foram levantadas reflexões sobre como a Inteligência Artificial pode gerar uma padronização da visão de mundo e desestimular a criatividade. Debateu-se que é necessário pensar em como fazer um uso mais crítico e consciente, em especial em sala de aula com crianças e adolescentes que, muitas vezes, não tem maturidade para fazer um uso adequado das ferramentas.
Anna Luiza Coli, da Cátedra Darcy Rbeiro: Soberania, Educação e Política do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) da UFMG, deu exemplo de como a padronização de critérios pode ser prejudicial, como, por exemplo, nos casos dos rankings universitários. Isso porque as instituições podem passar a se comportar de forma a atender os critérios estabelecidos e, assim, não refletir, o que acontece de fato nas instituições. “Somos governados por ideias”, disse, e como os modelos são conjuntos de ideias, acaba havendo uma padronização. Isso pode gerar uma visão de mundo gerada por interesses e não pela diversidade, necesssidade individual, de cada pessoa. Pode trazer a perda da capacidade de ter o exercício de pensar.
“Os professores não são substituíveis”, falou Raquel Carrieri, da Cátedra Fundep (Fundação de Apoio da UFMG) Magda Soares, também do IEAT, durante a sua apresentação. É preciso ter inteligências múltiplas para dar conta da sala de aula, que exige adaptações para as situações cotidianas. Como exemplo, ela citou uma aula em que precisou apresentar um aparelho e, para isso, dividiu a sala em grupos. Para funcionar, ela precisou pensar em como deixar o restante dos estudantes ocupados e atender, também, aos que tinham necessidades especiais. Ela tentou “pedir ajuda” da Inteligência Artificial que deu respostas que não correspondiam à situação. Ela também citou a capacidade que ela desenvolveu de de ler expressões faciais, como ódio, cansaço, sono e como isso ajuda nesse trabalho na escola, o que não é feito pela IA.
A mediação da mesa foi realizada por Patrícia Nascimento Silva, da Comissão Permanente de IA da UFMG, que pediu que quem tivesse contribuições repassasse para a Comissão e lembrou que o problema não são os algoritmos e, sim, o uso que se faz deles.
Abertura
No início do evento a pró-reitora adjunta de Graduação, Maria José Flores, contou do seu entusiasmo pelo evento e da “importância de fazer a apropriação da avaliação do uso da IA no processo avaliativo” e de como a variedade de pessoas pode contribuir com a reflexão proposta no evento.
A diretora do Giz, Bréscia Nonato, lembrou que o evento já é uma preparação para a 8ª edição do Congresso de Inovação e Metodologias de Ensino nos Ensino Superior e Tecnológico (VIII CIM) que acontecerá na UFMG nos dias 3 e 4 de dezembro de 2026.
O evento também contou com as oficinas “Inteligência Artificial e seus usos pedagógicos”, na parte da manhã, e “Uso da inteligência artificial na avaliação da aprendizagem”, no turno da tarde, ministradas por Fernanda Abreu no SENAI/MG e João Pedro Araújo Ferreira Campos, da UFMG. Também teve o minicurso “Uso de inteligência artificial generativa no Ensino Superior”, na parte da tarde, com Roberto Massi de Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fernanda apresentou diversas ferramentas de IA voltadas à educação, ressaltando suas diferentes aplicações e níveis de confiabilidade, como Teachy Magic School, Diffit, CONKER, Perplexity, Character.ai, Zuno e Elicit sendo essa última, assistente de pesquisa que usa inteligência artificial para ajudar os usuários a automatizar fluxos de trabalho de pesquisa, como partes da revisão da literatura, destacada pela palestrante como menos insegura por realizar a curadoria de artigos de fontes confiáveis.
Já Roberto abordou boas práticas no uso de IA e apresentou estratégias para que docentes lidem com o mau uso das ferramentas por parte dos estudantes. Enfatizou a necessidade de validar as informações geradas, sobretudo no planejamento docente, e alertou para os riscos do uso não controlado por estudantes em formação. Segundo ele, mais do que discutir se devemos ou não usar essas ferramentas, é importante reconhecer que seu uso já é uma realidade. Por isso, é necessário refletir sobre como utilizá-las de forma crítica e pedagogicamente orientada, com critérios e diretrizes bem definidos.
Na oficina da tarde, João Pedro falou sobre o que é a IA, como foi sendo aprimorada e seu funcionamento. Também abordou como tem sido seu uso na educação, o que ela é capaz e se ela cumpre o que se espera, a diferença entre o diálogo gerado por IA e o humano e sobre detectores de plágio, entre outros temas.
Bréscia Nonato explica que “o evento foi um convite aos docentes para que conheçam, de forma crítica, os diferentes tipos e usos de IA. E, assim, fazer um uso mais consciente, pensando no seu potencial pedagógico e ético, mas também nos seus limites e riscos”.