Transversais, saúde e educação devem impulsionar a Agenda 2030

 As perspectivas para a educação superior brasileira trazem questões que precisam ser tratadas no presente, como respeito, igualdade e solidariedade. Valores que devem ser incorporados pelas instituições para que possam responder a tantas demandas da sociedade, especialmente nas áreas da saúde, educação, indústria, inovação e infraestrutura, agrupadas nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2, 4 e 9 da Agenda 2030.

Na mesa de debates que integrou a programação da Semana do Conhecimento UFMG no segundo dia do evento, os palestrantes, representantes de diversas áreas do conhecimento – educação, saúde e ciência da computação  –concordaram sobre a necessidade da interação dos saberes e das instituições como requisito para a construção de respostas que atendam as demandas e questões ainda abertos na sociedade.

Uma delas: como a Inteligência Artificial pode contribuir para acelerar a descoberta de novos medicamentos, melhorar o acesso e a assertividade dos diagnósticos clínicos, de forma automatizada, sem cair no risco de perpetuação de preconceitos e racismos, por meio dos algoritmos?

Segundo o professor Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação e coordenador do Centro de Inovação em Inteligência Artificial para a Saúde (CIIA-Saúde), em implementação na UFMG, a multidisciplinaridade de profissionais envolvidos no Centro, as parcerias com outras instituições de ensino, empresas e sistemas de saúde público e privados darão condições para que “os valores éticos e o foco no ser humano não se percam”.

“As tecnologias também têm que ser colaborativas e auxiliar as equipes de saúde na precisão das decisões. A formação de pessoas, o desenvolvimento de protótipos, de startups e a transferência das tecnologias não devem perder esse foco, nessa perspectiva transversal da difusão do conhecimento, saúde e bem-estar”, acrescentou.

O CIIA-Saúde UFMG reúne 113 pesquisadores da saúde e de outras diversas áreas do conhecimento, 11 instituições e quatro empresas parceiras. Selecionado entre os outros cinco centros nacionais pela chamada lançada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Fapesp e Comitê Gestor da Internet do Brasil (GCI.BR), o CIIA da UFMG terá aporte financeiro, público e privado, por cinco anos, renovável por mais cinco, para atuar em cinco eixos: Prevenção e qualidade de vida, Diagnóstico, prognóstico e rastreamento, Medicina terapêutica e personalizada, Sistemas de saúde e gestão e Epidemias e desastres.

Transferência tecnológica

Outra questão urgente, demandada pela sociedade, para enfrentamento da pandemia da covid-19, é o desenvolvimento de kits diagnósticos e de vacinas. Mas como foi possível fazer que o conhecimento produzido nas universidades fosse rapidamente transformado em produtos e chegasse à população? Um exemplo de resposta a essa necessidade, foi a  “ponte construída entre a UFMG, por meio de seus pesquisadores, com o setor industrial”, que possibilitou a transformação de provas de conceitos em produtos, como os testes rápidos para detecção de anticorpos e de antígenos, desenvolvidos no CTVacinas, que foram transferidos para a fábrica Biomanguinhos, da Fiocruz. O desenvolvimento da vacina SpiN-TEC contra a covid-19 também pode ser considerada uma resposta assertiva da ciência brasileira às demandas abertas pela pandemia.

Segundo o fundador do CTVacinas, professor Ricardo Tostes Gazzinelli, o conhecimento acumulado, novas plataformas vacinais e a estratégica aliança das universidades com o setor industrial tornaram possível o desenvolvimento recorde das vacinas contra a covid-19 – menos de um ano frente aos 15 a 20 anos necessários em circunstâncias normais para se disponibilizar imunizantes para a população.

“Os problemas de saúde pública afetam também o desenvolvimento econômico do país. Por isso, o foco do CTVacinas é o controle e enfrentamento de epidemias como a aids, a malária e outras doenças tropicais e doenças transmissíveis, como a covid-19”, observa o pesquisador.

Entretanto, na avaliação de Gazzinelli, “apesar de o Brasil possuir fábricas com capacidade de produção das vacinas e um bom sistema de distribuição, falta uma infraestrutura que permita a transferência tecnológica das universidades para a indústria, de forma mais fluida, o que contribuiria para a independência nacional nessa área”, argumenta.

Foco transversal nos ODS

A expectativa de Gazzinelli é que o foco nos ODS da saúde e bem-estar, indústria, tecnologia e infraestrutura sejam perpassados, “inevitavelmente, pelo foco da educação de qualidade”, para que a multidisciplinaridade e a interação contribuam para o desenvolvimento sustentável do país.

Isso significa, segundo a pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira, uma perspectiva de formação transversal, em que o estudante de determinado curso possa adquirir formação técnica e profissional na sua área de competência, enriquecida por conhecimentos de outras áreas.

“Mais do que a interdisciplinaridade, é importante pensar na interculturalidade”, acrescentou o professor Paulo Roberto Maia Figueiredo, coordenador da Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), ofertada pela Faculdade de Educação.

Ele observa que a transversalidade e a interculturalidade que caracterizam os estudantes de vários povos indígenas na UFMG contribuem para a compreensão de um plano integrador e universal de futuro.

Multicompetências

“Com as novas regras do ensino da Graduação, aprovadas desde 2018, e o Plano de Desenvolvimento Institucional para 2018-2023, que integram o esforço permanente de flexibilização do currículo, a UFMG definiu possibilidades para essa formação ampliada de estudantes, com perfis diversificados e competências que os tornem profissionais comprometidos com suas áreas e com as transformações necessárias na sociedade”, explicou a pró-reitora de graduação.

Benigna de Oliveira ressaltou que cada um dos 91 cursos de graduação tem seu núcleo específico e prevê percursos de complementação em áreas de interesse do estudante. Além disso, a UFMG ampliou a interação da graduação com a pós-graduação ao institucionalizar o aproveitamento de disciplinas dos graduandos em um futuro mestrado ou doutorado.

As nove Formações Transversais atualmente ofertadas contam com quase nove mil estudantes matriculados (incluindo pessoas da comunidade externa) e uma centena de professores. Ainda assim, a pró-reitora espera que essa participação aumente, e que  o Sistema de Gestão Acadêmica Siga-UFMG seja adaptado para acompanhar o impacto dessa formação na sociedade e na carreira dos estudantes. Ela acrescentou que a Formação em Extensão é outra importante contribuição para a interação Universidade e sociedade.

Os palestrantes desta terça-feira foram recebidos pelo diretor do IEAT, professor Estevam Las Casas. A mediação foi feita pelo professor Ricardo Takahashi, do Instituto de Ciências Exatas.

programação da Semana do Conhecimento UFMG segue até sexta-feira, dia 29, com transmissão pelo Canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no Youtube.

(Cedecom/UFMG)