Mãos do Amor
O filme Mãos do Amor é o terceiro da temporada de 2023 do projeto de extensão Con(fiar), desenvolvido pelo Campus Cultural UFMG em Tiradentes em parceria com a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade. Gravado na cidade de Resende Costa, Minas Gerais, o episódio conta um pouco das memórias de Conceição Aparecida da Cruz, popularmente conhecida como Dona São, e sua trajetória nas artes manuais: seja no bordado, crochê, tricô ou na confecção de bonecas de pano. Como entoado por Dona Ivone Lara na canção Sorriso Negro, “um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade”, e foi com sorriso largo e abraço apertado que Dona São recebeu a nossa equipe, ainda que amarrasse sua dor em cada ponto que dava. Na sua simplicidade e timidez revelou o seu segredo, inspiração para o nome deste curta-documentário. Para ela “tudo na vida a gente tem que ter uma pitada de amor no meio”, e foi com amor que produzimos este filme e convidamos você a assistir.
Tradicionalmente o ensino das técnicas e motivos do bordado pertence à oralidade, mas não foi assim que se deu o encontro de nossa bordadeira com seu ofício. Dona São começou a trabalhar cedo, com onze anos de idade, logo após completar a quarta série na escola. Mesmo querendo continuar os estudos isso não foi possível. Partiu para o artesanato e foi aprender a fazer os bordados em um curso à distância, pago por sua mãe, no Instituto Universal Brasileiro. Foram nove meses de curso, onde ela fazia os trabalhos, mandava para conferência e recebia as notas. E era muito feliz porque seus trabalhos só ganhavam nota dez, que era a nota máxima.
Dona São diz que já não sabe viver sem esse trabalho. São cinquenta anos fazendo bordados, crochê e tricô, e, segundo ela, o trabalho manual lhe ajuda muito. Tricotar é uma atividade que pode ser realizada em qualquer lugar, sozinho ou em grupo. Em grupo, é facultado fazer novas amizades e fomentar a sociabilidade. É o que Dona São gosta de fazer, se reunir com suas alunas às quartas feiras para fazer tricô juntas. Um momento muito gratificante em sua vida como ela ressalta: “Mal de mim se não são minhas agulhas de tricô!”
Chita, a boneca da sorte
A primeira boneca de pano feita por Dona São foi numa brincadeira, com restos de tecido. Ao ver essa boneca finalizada, batizada com o nome de Chita, disse: “Essa Chita só falta falar”. Nascia ali uma relação de amor de Dona São com as bonecas de pano. As bonecas pretas, até então ausentes dos presentes de Natal ou aniversário, e do repertório cultural de toda uma comunidade que construiu uma estética visual da palidez, tornou-se cada vez mais presente no seu repertório criativo e de sua filha Sildes Maria. Aquela Conceição, que na infância brincava com espigas de milho, fez bonecas de pano para cada uma de suas netas, e com felicidade ela ressalta: “bonecas da cor da gente”. Em nossa sociedade, por não valorizar as características dos variados tipos humanos, os brinquedos contribuem para a conservação e padronização de estereótipos de beleza. O que temos na maioria das vezes são bonecas com estilo europeu: brancas, com cabelos loiros e olhos azuis. Um padrão que foi quebrado por Dona São e sua filha Sildes.
Resende Costa
A cidade de Resende Costa está localizada na região do Campo das Vertentes, próximo a Tiradentes e São João del-Rei. Foi por muitos anos caminho de tropeiros, rota para outras cidades que viviam da mineração. A cidade nasceu em cima de uma laje, com vista para um mar de serras, com casas de arquitetura colonial e uma igreja para Nossa Senhora da Penha de França. O nome do município é em homenagem ao inconfidente José de Resende Costa (Filho), degredado pela participação na Inconfidência Mineira e um dos poucos a regressar ao Brasil. O município e a população acolheram a importância do artesanato como pilar social, cultural e econômico na cidade.
O filme está disponível para visualização em nosso canal no YouTube e você pode acessá-lo clicando aqui. Você também pode ter acesso a todos os outros filmes produzidos pelo Con(fiar) clicando aqui.