A nossa crença de cada dia

Sala dos Milagres – Igreja da Santíssima Trindade em Tiradentes. Foto: Luísa Meinberg

Entre agosto e dezembro de 2018 o projeto Lugares Imaginários de Memória percorreu as ruas dos bairros de Tiradentes  realizando entrevistas com habitantes dos bairros que se situam fora do centro  histórico e investigando a forma da comunidade se relacionar com o seu espaço urbano. Em 2024, o projeto de extensão Con(fiar) está revisitando esses lugares de memória em busca de imagens de uma Tiradentes contemporânea, e produzindo uma série documental abordando as memórias confidenciadas. 

No segundo episódio da série, Crença, abordamos as tradições e festas religiosas desta cidade do interior de Minas Gerais, as histórias e lendas contadas e que atravessam gerações. Pautamos as relações dos moradores com aquilo que crêem e no lugar em que habitam. A lembrança faz o passado  surgir no presente, tornando o antigo sempre atual.

Sabemos que as manifestações culturais produzidas pelos homens estão inseridas dentro do que chamamos de patrimônio tangível e intangível, e ambos devem ser preservados. Tanto o patrimônio construído fisicamente quanto aquele que se constrói enquanto expressão – no modo de criar, de tocar o sino, de falar, de bordar, de contar histórias, de expressar sua fé – se complementam e estão intimamente ligados.

O que se registra enquanto patrimônio, não é o valor religioso de uma manifestação, mas seu aspecto de participação e pertencimento no tempo, dando à sociedade que se transforma a noção de temporalidade e duração. Portanto, Crença não se trata de um filme que visa propagar ou difundir uma determinada fé, mas bens culturais que resultam de práticas tradicionais que muitas vezes estão relacionadas com a religião popular, expressando valores de diversas crenças.

Sala das Velas – Igreja da Santíssima Trindade em Tiradentes. Foto: Luísa Meinberg

Em referência à Semana do Patrimônio, em que se comemora o Dia Nacional do Patrimônio Cultural em 17 de agosto, o Dia do Historiador em 19 de agosto e o Dia do Folclore Brasileiro em 22 de agosto, o Campus Cultural UFMG em Tiradentes convida você a assistir o novo filme do Con(fiar) em parceria com o projeto Lugares Imaginários de Memória: CRENÇA.

Acesse aqui  para assistir ao documentário.

Sobre os projetos

Lugares Imaginários de Memória – Tiradentes: Projeto de pesquisa coordenado pelo professor Carlos Henrique Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido  dentro da Residência Docente da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT-UFMG), realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do PPG-Artes como bolsistas, Cristina Horta e Lila Gaudêncio. 

Con(fiar): Projeto de extensão coordenado pelo servidor Jardel dos Santos, sob orientação acadêmica da Profa. Patricia Franca-Huchet, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFSJ, Marcelli Oliveira e Luísa Meinberg.

(Por Jardel Santos)

 

Fechamento do Museu Casa Padre Toledo para pintura interna

Prezando sempre pelo nosso objetivo de valorização e preservação do patrimônio cultural e artístico, informamos que o Museu Casa Padre Toledo, espaço integrante do Campus Cultural UFMG em Tiradentes, está passando pelo processo de pintura de sua estrutura física. Tal ação foi possibilitada através de emenda parlamentar da deputada estadual Andreia de Jesus, a qual tem nossos sinceros agradecimentos pelo incentivo a cultura.

Museu Casa Padre Toledo

Desde maio deste ano, o trabalho tem sido realizado nas áreas externas do museu. A próxima etapa deste trabalho é a pintura interna, e para ser realizada de modo a garantir a preservação do acervo e o bem estar da população, visitantes e equipe do museu, devemos fechar o espaço à visitação.
Portanto, a partir do dia 06 de agosto o Museu Casa Padre Toledo estará fechado para este trabalho interno, com previsão de reabertura para o mês de outubro.
Os agendamentos de visitas escolares presenciais estarão suspensas neste período, mas caso tenham interesse em visita virtual solicitamos que entrem em contato através do e-mail educativomcpt@gmail.com. Fiquem atentos ao nosso site e redes sociais, pois iremos informar o andamento desse processo e da reabertura através destes canais.
Instagram: @campustiradentes e @museupadretoledo

Arredores, o novo filme do Con(fiar)

Entre agosto e dezembro de 2018 o projeto Lugares Imaginários de Memória, realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, percorreu as ruas dos bairros da cidade movidos por uma pergunta: como as narrativas dos moradores da cidade podem criar lugares de  memória em Tiradentes? A pergunta fez com que conhecêssemos a cidade que habita entre os fazeres e lembranças de suas pessoas, colhendo falas e silêncios, ouvindo histórias, encontrando os lugares imaginários de memória de cada uma das moradoras e moradores.

Bairro Mococa – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

A cidade de Tiradentes experimentou, a partir da década de 80 do século XX, um crescimento intenso da sua atividade turística, inclusive como forma de sustentação econômica do próprio município, com modificações profundas na estrutura de ocupação de seus espaços, principalmente no que diz respeito à área central da cidade, com reflexões nas regiões mais afastadas do centro, como consequência. A valorização do patrimônio histórico, se por um lado trouxe um fluxo intenso de turistas à cidade, com evidente impacto econômico, por outro produziu mudanças na ocupação do centro histórico. Os moradores mais antigos, em função da especulação e de processos de gentrificação já identificados em estudos realizados sobre a cidade migraram para a periferia da cidade, em que há menos equipamentos públicos e uma atenção menor em termos de serviços públicos, e o centro histórico se tornou local de exploração comercial e turística apenas.

Foram realizadas entrevistas com habitantes dos bairros que se situam fora do centro  histórico: Pacu, Mococa, Alto da Torre, Cuiabá, Várzea de Baixo e  Cascalho. Assim, o projeto Lugares Imaginários investigou de que forma a comunidade, por meio da memória de seus moradores, se relaciona atualmente com o seu espaço urbano, que se modificou de maneira muito intensa nas últimas décadas do século XX e, mais acentuadamente, no começo do século XXI, em função de  questões como a exploração do turismo, gentrificação, questões relacionadas ao patrimônio histórico, entre outras. 

O Con(fiar)

A memória é o conceito que permite agregar tanto as noções do imaginário quanto as noções do documental, uma vez que o próprio termo se define pela sua capacidade de reconstrução permanente, fazendo a ponte entre passado, presente e futuro. A opção por agrupar memória e imaginação tem como perspectiva a abertura de espaços de discussão para imaginar não um passado nostálgico, mas sim de que maneira produzir uma memória para o futuro, uma memória da Tiradentes que ainda está por vir.

Criança correndo em Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Desta forma, o projeto de extensão Con(fiar) revisitou em 2024 estes lugares de memória em busca de imagens de uma Tiradentes contemporânea. O projeto produzirá uma série de cinco curta-documentários, baseados nos depoimentos coletados dos habitantes de Tiradentes, com temas que abordam desde a religiosidade aos saberes tradicionais. Neste primeiro episódio, que chamamos de Arredores, pautamos as relações dos moradores com o lugar em que habitam. As memórias mais afetuosas estão entranhadas às pedras da cidade onde nos constituímos, a despeito do tumulto de nossa atual sociedade. A lembrança, fruto do coletivo, nasce numa comunidade afetiva, onde o sujeito se reconhece e se identifica como membro do grupo, e nele reforça e compartilha suas lembranças. Arredores aborda o lugar que habitam, onde têm o repouso, a segurança e o alimento.

Sobre as pedras da cidade estão apoiadas as memórias, mas não são apenas nelas. A cidade não é definida apenas por seus aspectos de “pedra e cal”, ela tem seus cheiros, cores e sabores. Sentidos e afetos que são compartilhados por aqueles que a habitam e que povoam as suas lembranças. A cidade tem também uma paisagem sonora que é diversa e cheia de movimentos, permitindo que a identifiquemos pelo ritmo em que os sons se apresentam; um ritmo que cresce e se abranda, e que se extingue todos os dias. Desde o som da primeira janela que se abre pela manhã, da vassoura de capim nas pedras da rua, das fechaduras antigas se abrindo, das charretes distantes e próximas, do badalar dos sinos, dos passos apressados, das conversas entre vizinhos, da algazarra das crianças indo para a escola. São estes sentimentos que a nova temporada de Con(fiar) quer revelar.

Assista ao filme em nosso canal no YouTube ou clicando aqui

Bairro Cascalho – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Lugares Imaginários de Memória – Tiradentes: Projeto de pesquisa coordenado pelo professor Carlos Henrique Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido  dentro da Residência Docente da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT-UFMG), realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do PPG-Artes como bolsistas, Cristina Horta e Lila Gaudêncio. 

Con(fiar): Projeto de extensão coordenado pelo servidor Jackson Jardel dos Santos, sob orientação acadêmica da Profa. Patricia Franca-Huchet, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFSJ, Marcelli Oliveira e Luísa Meinberg.

(Jardel Santos)

Canções (ensaio #2), de Mário Azevedo, participa do 56º Festival de Inverno da UFMG

Canções (ensaio #2)

Durante o 56º Festival de Inverno da UFMG, o artista plástico/visual Mário Azevedo vai expor cerca de 200 desenhos/pinturas no Quatro Cantos Espaço Cultural, em Tiradentes. As obras foram produzidas entre 2019 e 2023, em formatos entre 10 x 15 cm e 20 x 30 cm, elaboradas em nanquim, aquarela e guache, sobre montagens de papéis variados e colagens. A mostra será aberta às 18 horas do dia 12 de Julho e seguirá em cartaz até o dia 9 de setembro.

Sobre esses trabalhos, o próprio artista nos conta: “Mantenho uma área estável em meu ateliê para a movimentação de uma criação diária, em torno uma pequena mesa em que estão constantemente dispostos meus materiais de trabalho essenciais: lápis, canetas de nanquim, pincéis, tubos ou pastilhas de aquarelas e potes de guache, além de pilhas de papéis cortados ou montados previamente, de 20 x 30 cm aproximadamente. Sempre há por ali um projeto aberto, em pleno curso; e assim, é nesse tempo absorto – quase cotidianamente – que recarrego as minhas baterias e me dedico à atividade vital de fazer coisas e imagens, que se multiplicam e se transformam indefinidamente, ganhando vida própria ao forjar um mundo. E assim brotaram essas “Canções”, que continuam por aí, no ar.”

Sobre essa série, o poeta Carlos Ávila escreveu que “a essência do trabalho de Mário Azevedo é poética e também musical: suas canções remetem a visões, com tonalidade e ritmo próprios. As cores cantam azuis, vermelhos, rosas, cinzas, brancos, pretos, verdes, amarelos e roxos. As formas dançam quadrados e círculos, retângulos e triângulos, linhas, pontos, letras e números, setas, cruzes, bandeiras, grades, mapas e plantas baixas. A produção atual do artista reafirma seus eixos de criação: as referenciais cromático-construtivos de sempre, em um vivo e constante interesse por pictogramas, ideogramas, hexagramas, palavras, fragmentos de textos em vários idiomas, além de recortes de imagens de todo tipo.” E como um “miniuniverso plástico singular, em uma espécie de metonímia visual.”

56º Festival de Inverno UFMG 

Culturas e Territórios | 18 a 27 de julho de 2024

A relação entre as culturas e os territórios é tema mobilizador da curadoria do 56º Festival de Inverno UFMG. Pautado pelo contínuo exercício da democracia cultural, este Festival traz territorialidades e suas culturas diversas para colocar em jogo os sujeitos por meio de práticas de fruição e produção de cultura. A 56° edição do Festival de Inverno UFMG busca ampliar a diversidade em sua programação e, neste ano, é realizada em parceria com a 34ª Reunião de Antropologia — Territórios vivos, corpos plurais: Antropologia e saberes críticos, e inaugura ações de integração entre os festivais de Inverno da Universidade Federal de Ouro Preto e da Universidade Federal de São João del Rey. Essa edição reafirma a noção ampliada de cultura, forjada na transversalidade de saberes e conhecimentos, que baliza as diretrizes da Pró-reitoria de Cultura da UFMG.

Ao fomentar ações culturais diversas, que abarcam experiências poético-culturais de saberes das artes, tecnologias, saberes tradicionais, entre outros, este Festival de Inverno propõe-se também a dar continuidade ao fortalecimento da pluralidade epistemológica no campo das artes e culturas. Diferentes territórios de criação propiciam não apenas oportunidades de acesso aos bens culturais, mas também condições para que artistas e produtores proponham e desenvolvam ações artístico-culturais que tem sua origem em linguagens e práticas.

As relações tecidas na dinâmica da programação do Festival são constituídas no compartilhamento de territorialidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Fruto desses intercâmbios teremos exposições de artes visuais e audiovisuais, oficinas, residências, apresentações teatrais, performance, shows musicais, manifestações da tradição, lançamento de mais um número da Revista Guaicurus do Centro Cultural UFMG e reflexões sobre política cultural nas universidades. As temáticas dessas ações culturais abrangem questões postas pela existência nas metrópoles, nas comunidades indígenas, nas universidades, nos países da América Latina. O habitar nesses territórios culturais desdobra-se, durante o Festival de Inverno, em ações compartilhadas de pertencimento, reveladas nas produções artístico-culturais.

Serviço

Exposição “Canções (ensaio #2)”

Abertura: 12 de julho às 18h

Visitação: de 12/07/2024 a 09/09/2024 | Horário: terça e quarta, de 9h às 18h; quinta a sábado, de 9h às 20h e domingo, de 9h às 18h.
Local: Quatro Cantos Espaço Cultural – Rua Direita, 5, Tiradentes
Entrada gratuita e aberta ao público

Mais informações: (31) 98378 0157

 

Duas mulheres e o amor pelo seu ofício: a escultura em madeira

No Dia Internacional das Mulheres, encerramos a temporada de 2023 do projeto de extensão Con(fiar) com o documentário Entre nós, que nos apresenta duas mulheres de Prados-MG, Vicentina Julião e Juliana Julião, mãe e filha. A história das duas e da família Julião, dentro do artesanato e da arte popular, começa com o pai de Vicentina que fazia cabeças de arreio para selas de cavalo em madeira. Foi então que Itamar Julião (1959-2004), irmão de Vicentina, reinventou o saber familiar desenvolvendo a sua própria expressão artística. 

Vicentina Julião e Juliana Julião

Um dia, capinando a horta de couve, Francisca, mãe de Itamar e Vicentina, encontrou um galho de limeira que naturalmente formava uma cruz e entregou para Itamar. No galho Itamar esculpiu a imagem de Jesus crucificado, iniciando ali o legado da família com a escultura em madeira. A inspiração surgia num simples galho ou chegava juntamente com o circo e leões e outros. Itamar ensinou a arte da escultura a todos os irmãos.

Vicentina Julião trabalhou na roça desde muito nova, ajudando o pai. Plantava milho, feijão, batata e ajudava ele desde arar a terra até colher. Ao se casar, ajudou seu marido na roça por um tempo ainda, até aprender a esculpir com seu irmão Itamar e trabalhar apenas com o artesanato, o que faz há aproximadamente 30 anos. Aprimorou a técnica e desenvolveu sua própria linguagem artística. Suas obras são marcantes pelas formas e temas retratados como as árvores da vida, repletas de pássaros, macacos, flores e frutos. 

Entre madeiras, leões, pássaros e pessoas de várias partes do mundo, Juliana teve uma infância rica e desenvolveu também suas habilidades. Juliana aprendeu a esculpir com sua mãe, que incentiva sua arte. A natureza e os animais são a grande inspiração. Juliana adora dar vida à madeira , transformá-la e assim sente-se feliz, por revelar em cada peça uma parte de sua história. Trabalha com delicadeza, mas também com intensidade, deixando assim sua marca na arte popular do Brasil. Juliana costuma brincar com seus filhos dizendo que ao invés de sangue nas veias, a família Julião tem serragem. Para ela o trabalho com a escultura é uma paixão, uma loucura que faz com perfeição e carinho, não se importando com o tempo que levará para fazer uma peça.

Vicentina e Juliana

Ao evidenciar a história e o trabalho artístico de duas mulheres, Vicentina e Juliana, no Dia Internacional das Mulheres, temos a intenção de contribuir para o reconhecimento destas mestras da escultura em madeira que vivem em uma sociedade patriarcal que enaltece a arte masculina. São mulheres que enfrentam o etarismo, o machismo, o preconceito e a desigualdade de gênero nas artes, exercendo o ofício da escultura com paixão e perfeição. O Con(fiar) encerra este ciclo de lindas histórias de vida e se prepara para iniciar outro. O fio da confiança nos ajudou a tecer laços com pessoas que perpetuam ofícios e saberes no Campo das Vertentes, onde encontramos aconchego e afeto servidos com uma boa prosa, histórias, confidências e conversa fiada. Nosso desejo é contribuir com a valorização da multiplicidade de saberes que marcam a região.  

O filme Entre nós está disponível para visualização em nosso canal no YouTube e você pode acessá-lo clicando aqui. Você também pode ter acesso a todos os outros filmes produzidos pelo Con(fiar) clicando aqui.