Arredores, o novo filme do Con(fiar)

Entre agosto e dezembro de 2018 o projeto Lugares Imaginários de Memória, realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, percorreu as ruas dos bairros da cidade movidos por uma pergunta: como as narrativas dos moradores da cidade podem criar lugares de  memória em Tiradentes? A pergunta fez com que conhecêssemos a cidade que habita entre os fazeres e lembranças de suas pessoas, colhendo falas e silêncios, ouvindo histórias, encontrando os lugares imaginários de memória de cada uma das moradoras e moradores.

Bairro Mococa – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

A cidade de Tiradentes experimentou, a partir da década de 80 do século XX, um crescimento intenso da sua atividade turística, inclusive como forma de sustentação econômica do próprio município, com modificações profundas na estrutura de ocupação de seus espaços, principalmente no que diz respeito à área central da cidade, com reflexões nas regiões mais afastadas do centro, como consequência. A valorização do patrimônio histórico, se por um lado trouxe um fluxo intenso de turistas à cidade, com evidente impacto econômico, por outro produziu mudanças na ocupação do centro histórico. Os moradores mais antigos, em função da especulação e de processos de gentrificação já identificados em estudos realizados sobre a cidade migraram para a periferia da cidade, em que há menos equipamentos públicos e uma atenção menor em termos de serviços públicos, e o centro histórico se tornou local de exploração comercial e turística apenas.

Foram realizadas entrevistas com habitantes dos bairros que se situam fora do centro  histórico: Pacu, Mococa, Alto da Torre, Cuiabá, Várzea de Baixo e  Cascalho. Assim, o projeto Lugares Imaginários investigou de que forma a comunidade, por meio da memória de seus moradores, se relaciona atualmente com o seu espaço urbano, que se modificou de maneira muito intensa nas últimas décadas do século XX e, mais acentuadamente, no começo do século XXI, em função de  questões como a exploração do turismo, gentrificação, questões relacionadas ao patrimônio histórico, entre outras. 

O Con(fiar)

A memória é o conceito que permite agregar tanto as noções do imaginário quanto as noções do documental, uma vez que o próprio termo se define pela sua capacidade de reconstrução permanente, fazendo a ponte entre passado, presente e futuro. A opção por agrupar memória e imaginação tem como perspectiva a abertura de espaços de discussão para imaginar não um passado nostálgico, mas sim de que maneira produzir uma memória para o futuro, uma memória da Tiradentes que ainda está por vir.

Criança correndo em Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Desta forma, o projeto de extensão Con(fiar) revisitou em 2024 estes lugares de memória em busca de imagens de uma Tiradentes contemporânea. O projeto produzirá uma série de cinco curta-documentários, baseados nos depoimentos coletados dos habitantes de Tiradentes, com temas que abordam desde a religiosidade aos saberes tradicionais. Neste primeiro episódio, que chamamos de Arredores, pautamos as relações dos moradores com o lugar em que habitam. As memórias mais afetuosas estão entranhadas às pedras da cidade onde nos constituímos, a despeito do tumulto de nossa atual sociedade. A lembrança, fruto do coletivo, nasce numa comunidade afetiva, onde o sujeito se reconhece e se identifica como membro do grupo, e nele reforça e compartilha suas lembranças. Arredores aborda o lugar que habitam, onde têm o repouso, a segurança e o alimento.

Sobre as pedras da cidade estão apoiadas as memórias, mas não são apenas nelas. A cidade não é definida apenas por seus aspectos de “pedra e cal”, ela tem seus cheiros, cores e sabores. Sentidos e afetos que são compartilhados por aqueles que a habitam e que povoam as suas lembranças. A cidade tem também uma paisagem sonora que é diversa e cheia de movimentos, permitindo que a identifiquemos pelo ritmo em que os sons se apresentam; um ritmo que cresce e se abranda, e que se extingue todos os dias. Desde o som da primeira janela que se abre pela manhã, da vassoura de capim nas pedras da rua, das fechaduras antigas se abrindo, das charretes distantes e próximas, do badalar dos sinos, dos passos apressados, das conversas entre vizinhos, da algazarra das crianças indo para a escola. São estes sentimentos que a nova temporada de Con(fiar) quer revelar.

Assista ao filme em nosso canal no YouTube ou clicando aqui

Bairro Cascalho – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Lugares Imaginários de Memória – Tiradentes: Projeto de pesquisa coordenado pelo professor Carlos Henrique Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido  dentro da Residência Docente da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT-UFMG), realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do PPG-Artes como bolsistas, Cristina Horta e Lila Gaudêncio. 

Con(fiar): Projeto de extensão coordenado pelo servidor Jackson Jardel dos Santos, sob orientação acadêmica da Profa. Patricia Franca-Huchet, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFSJ, Marcelli Oliveira e Luísa Meinberg.

(Jardel Santos)

Canções (ensaio #2), de Mário Azevedo, participa do 56º Festival de Inverno da UFMG

Canções (ensaio #2)

Durante o 56º Festival de Inverno da UFMG, o artista plástico/visual Mário Azevedo vai expor cerca de 200 desenhos/pinturas no Quatro Cantos Espaço Cultural, em Tiradentes. As obras foram produzidas entre 2019 e 2023, em formatos entre 10 x 15 cm e 20 x 30 cm, elaboradas em nanquim, aquarela e guache, sobre montagens de papéis variados e colagens. A mostra será aberta às 18 horas do dia 12 de Julho e seguirá em cartaz até o dia 9 de setembro.

Sobre esses trabalhos, o próprio artista nos conta: “Mantenho uma área estável em meu ateliê para a movimentação de uma criação diária, em torno uma pequena mesa em que estão constantemente dispostos meus materiais de trabalho essenciais: lápis, canetas de nanquim, pincéis, tubos ou pastilhas de aquarelas e potes de guache, além de pilhas de papéis cortados ou montados previamente, de 20 x 30 cm aproximadamente. Sempre há por ali um projeto aberto, em pleno curso; e assim, é nesse tempo absorto – quase cotidianamente – que recarrego as minhas baterias e me dedico à atividade vital de fazer coisas e imagens, que se multiplicam e se transformam indefinidamente, ganhando vida própria ao forjar um mundo. E assim brotaram essas “Canções”, que continuam por aí, no ar.”

Sobre essa série, o poeta Carlos Ávila escreveu que “a essência do trabalho de Mário Azevedo é poética e também musical: suas canções remetem a visões, com tonalidade e ritmo próprios. As cores cantam azuis, vermelhos, rosas, cinzas, brancos, pretos, verdes, amarelos e roxos. As formas dançam quadrados e círculos, retângulos e triângulos, linhas, pontos, letras e números, setas, cruzes, bandeiras, grades, mapas e plantas baixas. A produção atual do artista reafirma seus eixos de criação: as referenciais cromático-construtivos de sempre, em um vivo e constante interesse por pictogramas, ideogramas, hexagramas, palavras, fragmentos de textos em vários idiomas, além de recortes de imagens de todo tipo.” E como um “miniuniverso plástico singular, em uma espécie de metonímia visual.”

56º Festival de Inverno UFMG 

Culturas e Territórios | 18 a 27 de julho de 2024

A relação entre as culturas e os territórios é tema mobilizador da curadoria do 56º Festival de Inverno UFMG. Pautado pelo contínuo exercício da democracia cultural, este Festival traz territorialidades e suas culturas diversas para colocar em jogo os sujeitos por meio de práticas de fruição e produção de cultura. A 56° edição do Festival de Inverno UFMG busca ampliar a diversidade em sua programação e, neste ano, é realizada em parceria com a 34ª Reunião de Antropologia — Territórios vivos, corpos plurais: Antropologia e saberes críticos, e inaugura ações de integração entre os festivais de Inverno da Universidade Federal de Ouro Preto e da Universidade Federal de São João del Rey. Essa edição reafirma a noção ampliada de cultura, forjada na transversalidade de saberes e conhecimentos, que baliza as diretrizes da Pró-reitoria de Cultura da UFMG.

Ao fomentar ações culturais diversas, que abarcam experiências poético-culturais de saberes das artes, tecnologias, saberes tradicionais, entre outros, este Festival de Inverno propõe-se também a dar continuidade ao fortalecimento da pluralidade epistemológica no campo das artes e culturas. Diferentes territórios de criação propiciam não apenas oportunidades de acesso aos bens culturais, mas também condições para que artistas e produtores proponham e desenvolvam ações artístico-culturais que tem sua origem em linguagens e práticas.

As relações tecidas na dinâmica da programação do Festival são constituídas no compartilhamento de territorialidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Fruto desses intercâmbios teremos exposições de artes visuais e audiovisuais, oficinas, residências, apresentações teatrais, performance, shows musicais, manifestações da tradição, lançamento de mais um número da Revista Guaicurus do Centro Cultural UFMG e reflexões sobre política cultural nas universidades. As temáticas dessas ações culturais abrangem questões postas pela existência nas metrópoles, nas comunidades indígenas, nas universidades, nos países da América Latina. O habitar nesses territórios culturais desdobra-se, durante o Festival de Inverno, em ações compartilhadas de pertencimento, reveladas nas produções artístico-culturais.

Serviço

Exposição “Canções (ensaio #2)”

Abertura: 12 de julho às 18h

Visitação: de 12/07/2024 a 09/09/2024 | Horário: terça e quarta, de 9h às 18h; quinta a sábado, de 9h às 20h e domingo, de 9h às 18h.
Local: Quatro Cantos Espaço Cultural – Rua Direita, 5, Tiradentes
Entrada gratuita e aberta ao público

Mais informações: (31) 98378 0157

 

Duas mulheres e o amor pelo seu ofício: a escultura em madeira

No Dia Internacional das Mulheres, encerramos a temporada de 2023 do projeto de extensão Con(fiar) com o documentário Entre nós, que nos apresenta duas mulheres de Prados-MG, Vicentina Julião e Juliana Julião, mãe e filha. A história das duas e da família Julião, dentro do artesanato e da arte popular, começa com o pai de Vicentina que fazia cabeças de arreio para selas de cavalo em madeira. Foi então que Itamar Julião (1959-2004), irmão de Vicentina, reinventou o saber familiar desenvolvendo a sua própria expressão artística. 

Vicentina Julião e Juliana Julião

Um dia, capinando a horta de couve, Francisca, mãe de Itamar e Vicentina, encontrou um galho de limeira que naturalmente formava uma cruz e entregou para Itamar. No galho Itamar esculpiu a imagem de Jesus crucificado, iniciando ali o legado da família com a escultura em madeira. A inspiração surgia num simples galho ou chegava juntamente com o circo e leões e outros. Itamar ensinou a arte da escultura a todos os irmãos.

Vicentina Julião trabalhou na roça desde muito nova, ajudando o pai. Plantava milho, feijão, batata e ajudava ele desde arar a terra até colher. Ao se casar, ajudou seu marido na roça por um tempo ainda, até aprender a esculpir com seu irmão Itamar e trabalhar apenas com o artesanato, o que faz há aproximadamente 30 anos. Aprimorou a técnica e desenvolveu sua própria linguagem artística. Suas obras são marcantes pelas formas e temas retratados como as árvores da vida, repletas de pássaros, macacos, flores e frutos. 

Entre madeiras, leões, pássaros e pessoas de várias partes do mundo, Juliana teve uma infância rica e desenvolveu também suas habilidades. Juliana aprendeu a esculpir com sua mãe, que incentiva sua arte. A natureza e os animais são a grande inspiração. Juliana adora dar vida à madeira , transformá-la e assim sente-se feliz, por revelar em cada peça uma parte de sua história. Trabalha com delicadeza, mas também com intensidade, deixando assim sua marca na arte popular do Brasil. Juliana costuma brincar com seus filhos dizendo que ao invés de sangue nas veias, a família Julião tem serragem. Para ela o trabalho com a escultura é uma paixão, uma loucura que faz com perfeição e carinho, não se importando com o tempo que levará para fazer uma peça.

Vicentina e Juliana

Ao evidenciar a história e o trabalho artístico de duas mulheres, Vicentina e Juliana, no Dia Internacional das Mulheres, temos a intenção de contribuir para o reconhecimento destas mestras da escultura em madeira que vivem em uma sociedade patriarcal que enaltece a arte masculina. São mulheres que enfrentam o etarismo, o machismo, o preconceito e a desigualdade de gênero nas artes, exercendo o ofício da escultura com paixão e perfeição. O Con(fiar) encerra este ciclo de lindas histórias de vida e se prepara para iniciar outro. O fio da confiança nos ajudou a tecer laços com pessoas que perpetuam ofícios e saberes no Campo das Vertentes, onde encontramos aconchego e afeto servidos com uma boa prosa, histórias, confidências e conversa fiada. Nosso desejo é contribuir com a valorização da multiplicidade de saberes que marcam a região.  

O filme Entre nós está disponível para visualização em nosso canal no YouTube e você pode acessá-lo clicando aqui. Você também pode ter acesso a todos os outros filmes produzidos pelo Con(fiar) clicando aqui.

A UFMG no 13º Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta

Começa no dia 6 de março o 13º Festival de Fotografia de Tiradentes, um dos mais importantes eventos do calendário da fotografia brasileira. Como acontece nos últimos anos, a UFMG marca presença na programação com atividades que envolvem professores, técnicos, alunos e ex-alunos da universidade. Em 2024, haverá exposições no Quatro Cantos Espaço Cultural e nos jardins do Museu Casa Padre Toledo, que integram o Campus Cultural UFMG em Tiradentes, além de uma projeção noturna na praça principal da cidade.  

Paula Huven, água viva

As exposições Água viva e outros seres, de Paula Huven, e Três momentos de um rio, do duo Paisagens Móveis, formado por Bárbara Lissa e Maria Vaz, serão apresentadas no Quatro Cantos Espaço Cultural. Em um mundo distópico, as obras convidam-nos a imaginar o que não podemos ver, mas sentir, e a sonhar outros futuros possíveis. Paula Huven expõe um conjunto de trabalhos desenvolvidos nos últimos anos acerca das relações entre o sensível e o visível, entre o real e a imaginação. O duo Paisagens Móveis, por sua vez, parte do material de arquivo para explorar as possibilidades de fabulação inscritas nas imagens fotográficas. No trabalho das três artistas, percebe-se o diálogo entre a pesquisa artística e a pesquisa acadêmica. Paula Huven defendeu recentemente o Doutorado no PPG-Artes (UFMG). Sua tese, Reativar o vivo, atravessar a floresta: corpos, imagens, sonhos, traz uma investigação acerca da imagem como vínculo com as forças vivas da floresta, a partir de uma aproximação com a cosmologia Yanomami, e recebeu o Prêmio UFMG de Tese 2023. Bárbara Lissa e Maria Vaz, por sua vez, cursaram o mestrado na EBA, onde desenvolveram pesquisas sobre os arquivos fotográficos, e atualmente são doutorandas na UFMG, no PÓS-LIT (FALE) e no PPG-Artes, respectivamente. Na sexta, dia 8 de março, às 16h, o trio vai conversar com os curadores Anna Karina Bartolomeu e Eduardo Queiroga, dentro da programação de palestras do festival. No sábado, dia 9, às 11h, haverá uma visita guiada no espaço expositivo.

Gustavo Rizzo e Gustavo Franca, em si há raiz, 2022

Nas noites de 8 e 9 de março, às 20h, no Largo das Forras, será exibida Impermanências do visível, mostra em formato de projeção audiovisual, com trabalhos selecionados a partir de uma chamada aberta a estudantes, servidores e participantes de projetos de extensão e pesquisa da UFMG. A Comissão Curadora, formada por Anna Karina Bartolomeu, Eduardo Queiroga e Marcelo Drummond, selecionou obras de: André Ferreira Carneiro; Beatriz Pessoa; Carlos Henrique Rezende Falci; Cia da Hebe, Tika Tiritilli, Mônica Sucupira, João Barim; Daniel Borges, Maria Eduarda Espindula Marques, Matheus Arcanjo e Livia Radane; Daniel Pettersen; Equipe do Espaço Arteducação FaE/UFMG; Fernando Costaa; Gabriel Lauriano; Gustavo Franca; Gustavo Rizzo; Isabela Santos; Jeanne O. Santos; Juliana Sarti; Mariana Laterza; Marília Lima; Rogerio D. Pateo; Victória Sofia; Vit Leão; Yurika Morais. A projeção será acompanhada por trilha sonora executada ao vivo pelo percussionista Rick Vargas. Tanto a projeção quanto as exposições do Quatro Cantos têm a realização do N’Foto – Núcleo de Pesquisa em Fotografia (EBA), Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade e Campus Cultural UFMG em Tiradentes. 

Noemia Augusto – OP – Comboio d´Olhos

Nos jardins do Museu Casa Padre Toledo, está programada a exposição Comboio d’Olhos, que resultou do encontro de Justino Cardoso, desenhista e teatrólogo moçambicano, com Eduardo Vargas, antropólogo, fotógrafo e professor da UFMG, em torno do trem de passageiros que corta o norte de Moçambique e de seus usuários makuas. A realização é do LACS – Laboratório de Antropologia das Controvérsias Sociotécnicas (FAFICH-UFMG). Na sexta, dia 8, às 16h, Eduardo Vargas receberá o público para uma visita guiada no local da exposição.

PROGRAMAÇÃO

Exposições

Água viva e outros seres, de Paula Huven

Sinopse: A exposição reúne trabalhos desenvolvidos nos últimos anos acerca das relações entre o visível e o sensível; entre o humano e as forças misteriosas da natureza. Água-viva é um ser marinho, mas sua presença imaginária e temida pela menina na cachoeira não o torna menos real, ao contrário, o que não vemos diante de nós, mas relampeja dentro de nós, compõe a experiência sensível. Se durante o dia a mineração pode ser invisível no horizonte da paisagem, a escuridão da noite revela os dentes afiados dos “comedores de terra”, os espíritos forasteiros, segundo Kopenawa. Ainda que não possamos vê-los, suas forças não param de atuar. E o que vemos é sempre mais do que os olhos veem. O vivo – a água, a natureza, os corpos, os espíritos – vibra, ressoa e se afeta. Ver é sentir.

Quatro Cantos Espaço Cultural – Rua Direita, 5

6 de março a 28 de abril

Horários de funcionamento durante o festival: Quarta, de 19h às 21h; Quinta a sábado, de 9h às 20h e Domingo, de 9h às 18h

Três momentos de um rio, do duo Paisagens Móveis | Bárbara Lissa e Maria Vaz

Sinopse: Em 2025, a cidade de Belo Horizonte é tomada por um dilúvio consequente do descaso público de seus rios urbanos. Rios que transbordam o asfalto, atravessam tempos, transportam a cidade, sonham barcos. Rios que insistem. “Três Momentos de um Rio” (2017-2024) é uma fabulação poética e fotográfica dos rios urbanos da cidade de Belo Horizonte, numa profusão de tempos que olham seu passado, presente e futuros possíveis: no limiar entre a realidade e a imaginação e na busca por resgatar o azul e seus afetos de volta à paisagem urbana. Em meio à narrativa distópica, um trabalhador constrói um barco. Não ignorando as águas que submergem a cidade, ele agora navega rumo a um outro futuro.

Quatro Cantos Espaço Cultural – Rua Direita, 5

6 de março a 28 de abril

Horários de funcionamento durante o festival: Quarta, de 19h às 21h; Quinta a sábado, de 9h às 20h e Domingo, de 9h às 18h

Comboio d’Olhos, de Justino Cardoso e Eduardo Vargas

Sinopse: Comboio d´Olhos resulta do encontro de Justino Cardoso, desenhista e teatrólogo moçambicano, com Eduardo Vargas, antropólogo e fotógrafo brasileiro. A exposição aborda o trem de passageiros que corta o norte de Moçambique e cuja circulação tem sido duramente afetada na última década por comboios carregados de carvão mineral. Desenvolvimento é o sortilégio invocado. Paisagens biodiversas e modos de vida tradicionais ou alternativos das pessoas, makuas em especial, são o que estão em risco. É a favor de suas (r)existências que Comboio d´Olhos se movimenta.

Jardins do Museu Casa Padre Toledo – Rua Padre Toledo, 190 

6 a 22 de março

Palestra

Água viva e rios rompantes: a fotografia entre o testemunho e a imaginação
Bárbara Lissa e Maria Vaz, do duo Paisagens Móveis, e Paula Huven conversam sobre suas produções e pesquisas em artes visuais, com mediação de Anna Karina Bartolomeu e Eduardo Queiroga. Além de uma reflexão sobre a fotografia que se situa entre o testemunho e a imaginação, serão abordadas as potencialidades da prática artística associada à pesquisa acadêmica, bem como as particularidades de um pensamento que se produz com as imagens.

Centro Cultural Yves Alves – Rua Direita, 168

Sexta, 08/03, 16h

Projeção

Impermanências do visível

Largo das Forras – 8 e 9 de março, às 20h

Projeção fruto de uma chamada aberta a estudantes, servidores e participantes de projetos de extensão e pesquisa da UFMG.

Visitas guiadas

No Museu Casa Padre Toledo: sexta, dia 08/03, às 16h

Comboio d’Olhos

No Quatro Cantos Espaço Cultural: sábado, dia 09/03, às 11h

Água viva e outros seres

Três momentos de um rio

Pé na estrada com Didico do Rapé

Didico do Rapé

Pé na estrada é o sétimo episódio apresentado pelo projeto de extensão Con(fiar) e conta as muitas histórias de Anísio Ferreira, conhecido como Didico do Rapé, natural da cidade de Dores de Campos, que foi tropeiro em sua juventude. Didico nos relata que começou o tropeirismo aos 12 anos como cozinheiro de tropa, uma criança que, para ajudar a mãe decidiu colocar o pé na estrada.

Os tropeiros de Dores de Campos eram comerciantes e viajavam vendendo mercadorias de fazenda em fazenda, até em povoados de difícil acesso. As tropas que partiam da cidade seguiam para o Sul de Minas, interior de São Paulo e também para cidades em direção à divisa com o Espírito Santo. No início do século XIX se firmaram como grandes fornecedores de material para montaria. Era esse comércio que dominava a economia local. Didico conta que toda semana pelo menos 15 tropas, das mais de cem existentes, deixavam Dores compostas pelo proprietário, um ou dois ajudantes e cerca de dez burros carregando mercadorias. O legado deixado pelos tropeiros é econômico e cultural e a cidade de Dores de Campos tem a economia baseada no couro, na produção de selas e artigos de montaria em geral, muito em função do papel desempenhado pelos tropeiros. 

Em cada parada da longa viagem de nove meses e 12 quilômetros diários, procuravam abrigo e se alimentavam com culinária própria que hoje tem lá um caráter quase gourmet. Didico acompanhava o patrão a pé e abrindo porteira para o burro de guia, enquanto ele ia a cavalo. Era ele o cozinheiro a preparar o café forte que ajudava a iniciar a jornada do dia e o feijão tropeiro nas paradas de descanso e de saciar a fome. Ele nos conta que após seis anos de estrada, decidiu que queria ir pra São Paulo tentar a sorte. No entanto, a experiência e a paixão por viagens o fizeram um cavaleiro do asfalto, virou motorista de uma viação paulistana e em 1967 se tornou caminhoneiro, deixando o mesmo legado aos filhos. 

Tiradentes e o pé na estrada

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, também passou parte de sua vida na estrada, trabalhando como mascate. Em Minas, os mascates percorriam longas distâncias, como os tropeiros, oferecendo mercadorias como: tecidos, aguardente, sal, secos e molhados. Isso fez com que Tiradentes tivesse contato com uma grande quantidade de pessoas e fosse um importante elo entre pessoas e grupos, levando informações por onde passava.

O ofício de mascate, como o de tropeiro, que nos foi narrado por Didico do Rapé, era duro. O mascate deixava a vila cedo, antes do sol nascer, quase sempre viajava a pé e solitário, levando as mercadorias em lombo de burros. Nas tabernas do caminho eles encontravam cachaça e fumo, e encontravam também toda sorte de gente, de padre a charlatão, fazendeiro a escravo. Como os tropeiros, nas paradas de descanso em um rancho ou em uma clareira, Tiradentes devia buscar a lenha para acender a fogueira e ali cozinhar o feijão que seria comido no jantar. Em volta dessa fogueira também deve ter se reunido com tropeiros para contar causos.

O mascate, como o tropeiro, caminhava cerca de oito horas diárias, algo em torno de três léguas ou 14 quilômetros, dependendo das condições da estrada. Como vendedor ambulante Tiradentes se tornou um profundo conhecedor dos caminhos de Minas e dos anseios de sua gente.

O filme está disponível para visualização em nosso canal no YouTube e você pode acessá-lo clicando aqui. Você também pode ter acesso a todos os outros filmes produzidos pelo Con(fiar) clicando aqui.