Arredores, o novo filme do Con(fiar)

Entre agosto e dezembro de 2018 o projeto Lugares Imaginários de Memória, realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, percorreu as ruas dos bairros da cidade movidos por uma pergunta: como as narrativas dos moradores da cidade podem criar lugares de  memória em Tiradentes? A pergunta fez com que conhecêssemos a cidade que habita entre os fazeres e lembranças de suas pessoas, colhendo falas e silêncios, ouvindo histórias, encontrando os lugares imaginários de memória de cada uma das moradoras e moradores.

Bairro Mococa – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

A cidade de Tiradentes experimentou, a partir da década de 80 do século XX, um crescimento intenso da sua atividade turística, inclusive como forma de sustentação econômica do próprio município, com modificações profundas na estrutura de ocupação de seus espaços, principalmente no que diz respeito à área central da cidade, com reflexões nas regiões mais afastadas do centro, como consequência. A valorização do patrimônio histórico, se por um lado trouxe um fluxo intenso de turistas à cidade, com evidente impacto econômico, por outro produziu mudanças na ocupação do centro histórico. Os moradores mais antigos, em função da especulação e de processos de gentrificação já identificados em estudos realizados sobre a cidade migraram para a periferia da cidade, em que há menos equipamentos públicos e uma atenção menor em termos de serviços públicos, e o centro histórico se tornou local de exploração comercial e turística apenas.

Foram realizadas entrevistas com habitantes dos bairros que se situam fora do centro  histórico: Pacu, Mococa, Alto da Torre, Cuiabá, Várzea de Baixo e  Cascalho. Assim, o projeto Lugares Imaginários investigou de que forma a comunidade, por meio da memória de seus moradores, se relaciona atualmente com o seu espaço urbano, que se modificou de maneira muito intensa nas últimas décadas do século XX e, mais acentuadamente, no começo do século XXI, em função de  questões como a exploração do turismo, gentrificação, questões relacionadas ao patrimônio histórico, entre outras. 

O Con(fiar)

A memória é o conceito que permite agregar tanto as noções do imaginário quanto as noções do documental, uma vez que o próprio termo se define pela sua capacidade de reconstrução permanente, fazendo a ponte entre passado, presente e futuro. A opção por agrupar memória e imaginação tem como perspectiva a abertura de espaços de discussão para imaginar não um passado nostálgico, mas sim de que maneira produzir uma memória para o futuro, uma memória da Tiradentes que ainda está por vir.

Criança correndo em Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Desta forma, o projeto de extensão Con(fiar) revisitou em 2024 estes lugares de memória em busca de imagens de uma Tiradentes contemporânea. O projeto produzirá uma série de cinco curta-documentários, baseados nos depoimentos coletados dos habitantes de Tiradentes, com temas que abordam desde a religiosidade aos saberes tradicionais. Neste primeiro episódio, que chamamos de Arredores, pautamos as relações dos moradores com o lugar em que habitam. As memórias mais afetuosas estão entranhadas às pedras da cidade onde nos constituímos, a despeito do tumulto de nossa atual sociedade. A lembrança, fruto do coletivo, nasce numa comunidade afetiva, onde o sujeito se reconhece e se identifica como membro do grupo, e nele reforça e compartilha suas lembranças. Arredores aborda o lugar que habitam, onde têm o repouso, a segurança e o alimento.

Sobre as pedras da cidade estão apoiadas as memórias, mas não são apenas nelas. A cidade não é definida apenas por seus aspectos de “pedra e cal”, ela tem seus cheiros, cores e sabores. Sentidos e afetos que são compartilhados por aqueles que a habitam e que povoam as suas lembranças. A cidade tem também uma paisagem sonora que é diversa e cheia de movimentos, permitindo que a identifiquemos pelo ritmo em que os sons se apresentam; um ritmo que cresce e se abranda, e que se extingue todos os dias. Desde o som da primeira janela que se abre pela manhã, da vassoura de capim nas pedras da rua, das fechaduras antigas se abrindo, das charretes distantes e próximas, do badalar dos sinos, dos passos apressados, das conversas entre vizinhos, da algazarra das crianças indo para a escola. São estes sentimentos que a nova temporada de Con(fiar) quer revelar.

Assista ao filme em nosso canal no YouTube ou clicando aqui

Bairro Cascalho – Tiradentes (MG). Foto: Luísa Meinberg

Lugares Imaginários de Memória – Tiradentes: Projeto de pesquisa coordenado pelo professor Carlos Henrique Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido  dentro da Residência Docente da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT-UFMG), realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do PPG-Artes como bolsistas, Cristina Horta e Lila Gaudêncio. 

Con(fiar): Projeto de extensão coordenado pelo servidor Jackson Jardel dos Santos, sob orientação acadêmica da Profa. Patricia Franca-Huchet, da Escola de Belas Artes da UFMG, desenvolvido no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFSJ, Marcelli Oliveira e Luísa Meinberg.

(Jardel Santos)

Canções (ensaio #2), de Mário Azevedo, participa do 56º Festival de Inverno da UFMG

Canções (ensaio #2)

Durante o 56º Festival de Inverno da UFMG, o artista plástico/visual Mário Azevedo vai expor cerca de 200 desenhos/pinturas no Quatro Cantos Espaço Cultural, em Tiradentes. As obras foram produzidas entre 2019 e 2023, em formatos entre 10 x 15 cm e 20 x 30 cm, elaboradas em nanquim, aquarela e guache, sobre montagens de papéis variados e colagens. A mostra será aberta às 18 horas do dia 12 de Julho e seguirá em cartaz até o dia 9 de setembro.

Sobre esses trabalhos, o próprio artista nos conta: “Mantenho uma área estável em meu ateliê para a movimentação de uma criação diária, em torno uma pequena mesa em que estão constantemente dispostos meus materiais de trabalho essenciais: lápis, canetas de nanquim, pincéis, tubos ou pastilhas de aquarelas e potes de guache, além de pilhas de papéis cortados ou montados previamente, de 20 x 30 cm aproximadamente. Sempre há por ali um projeto aberto, em pleno curso; e assim, é nesse tempo absorto – quase cotidianamente – que recarrego as minhas baterias e me dedico à atividade vital de fazer coisas e imagens, que se multiplicam e se transformam indefinidamente, ganhando vida própria ao forjar um mundo. E assim brotaram essas “Canções”, que continuam por aí, no ar.”

Sobre essa série, o poeta Carlos Ávila escreveu que “a essência do trabalho de Mário Azevedo é poética e também musical: suas canções remetem a visões, com tonalidade e ritmo próprios. As cores cantam azuis, vermelhos, rosas, cinzas, brancos, pretos, verdes, amarelos e roxos. As formas dançam quadrados e círculos, retângulos e triângulos, linhas, pontos, letras e números, setas, cruzes, bandeiras, grades, mapas e plantas baixas. A produção atual do artista reafirma seus eixos de criação: as referenciais cromático-construtivos de sempre, em um vivo e constante interesse por pictogramas, ideogramas, hexagramas, palavras, fragmentos de textos em vários idiomas, além de recortes de imagens de todo tipo.” E como um “miniuniverso plástico singular, em uma espécie de metonímia visual.”

56º Festival de Inverno UFMG 

Culturas e Territórios | 18 a 27 de julho de 2024

A relação entre as culturas e os territórios é tema mobilizador da curadoria do 56º Festival de Inverno UFMG. Pautado pelo contínuo exercício da democracia cultural, este Festival traz territorialidades e suas culturas diversas para colocar em jogo os sujeitos por meio de práticas de fruição e produção de cultura. A 56° edição do Festival de Inverno UFMG busca ampliar a diversidade em sua programação e, neste ano, é realizada em parceria com a 34ª Reunião de Antropologia — Territórios vivos, corpos plurais: Antropologia e saberes críticos, e inaugura ações de integração entre os festivais de Inverno da Universidade Federal de Ouro Preto e da Universidade Federal de São João del Rey. Essa edição reafirma a noção ampliada de cultura, forjada na transversalidade de saberes e conhecimentos, que baliza as diretrizes da Pró-reitoria de Cultura da UFMG.

Ao fomentar ações culturais diversas, que abarcam experiências poético-culturais de saberes das artes, tecnologias, saberes tradicionais, entre outros, este Festival de Inverno propõe-se também a dar continuidade ao fortalecimento da pluralidade epistemológica no campo das artes e culturas. Diferentes territórios de criação propiciam não apenas oportunidades de acesso aos bens culturais, mas também condições para que artistas e produtores proponham e desenvolvam ações artístico-culturais que tem sua origem em linguagens e práticas.

As relações tecidas na dinâmica da programação do Festival são constituídas no compartilhamento de territorialidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Fruto desses intercâmbios teremos exposições de artes visuais e audiovisuais, oficinas, residências, apresentações teatrais, performance, shows musicais, manifestações da tradição, lançamento de mais um número da Revista Guaicurus do Centro Cultural UFMG e reflexões sobre política cultural nas universidades. As temáticas dessas ações culturais abrangem questões postas pela existência nas metrópoles, nas comunidades indígenas, nas universidades, nos países da América Latina. O habitar nesses territórios culturais desdobra-se, durante o Festival de Inverno, em ações compartilhadas de pertencimento, reveladas nas produções artístico-culturais.

Serviço

Exposição “Canções (ensaio #2)”

Abertura: 12 de julho às 18h

Visitação: de 12/07/2024 a 09/09/2024 | Horário: terça e quarta, de 9h às 18h; quinta a sábado, de 9h às 20h e domingo, de 9h às 18h.
Local: Quatro Cantos Espaço Cultural – Rua Direita, 5, Tiradentes
Entrada gratuita e aberta ao público

Mais informações: (31) 98378 0157