Entre agosto e dezembro de 2018 o projeto Lugares Imaginários de Memória percorreu as ruas de Tiradentes, realizando entrevistas com os habitantes dos bairros que se situam fora do centro histórico: Pacu, Mococa, Alto da Torre, Cuiabá, Várzea de Baixo e Cascalho e investigando a forma da comunidade se relacionar com o seu espaço urbano.
Agora, em 2024, o projeto de extensão Con(fiar) está revisitando esses lugares de memória em busca de imagens de uma Tiradentes contemporânea, e produzindo uma série que aborda estas memórias confidenciadas. No quarto episódio da série, Sensações, abordamos as memórias dos habitantes de Tiradentes relacionadas aos cinco sentidos do corpo humano.
Sobre as pedras da cidade estão apoiadas as memórias, mas não apenas nelas. A cidade não é definida apenas por seus aspectos de “pedra e cal”, ela tem seus cheiros, cores e sabores. Sentidos e afetos que são compartilhados por aqueles que a habitam e que povoam as suas lembranças. A cidade tem também uma paisagem sonora que é diversa e cheia de movimentos, permitindo que a identifiquemos pelo ritmo em que os sons se apresentam; um ritmo que cresce e se abranda, e que se extingue todos os dias. Desde o som da primeira janela que se abre pela manhã, da vassoura de capim nas pedras da rua, da chuva caindo nos telhados, do badalar dos sinos, dos passos apressados, das conversas entre vizinhos, das crianças jogando bola e soltando pipa.
Basta o despertar dos sentidos para que as lembranças aflorem de forma mais eficaz que o revirar deliberado das gavetas da memória. A memória, muitas das vezes, precisa do corpo para aflorar. O cheiro de uma broa de fubá, que perfuma a rua de nosso bairro, pode perfumar também a nossa memória, trazendo para perto a infância longínqua e suas travessuras. Os acontecimentos simples, com o tempo, podem se transformar em profundo sentimento pelo lugar.
Sensações fala desses sentidos compartilhados, juntamente com a materialidade das coisas. Fala das experiências íntimas, vivenciadas por cada habitante de uma cidade, que, por vezes, não encontram palavras para expressá-las. Os relatos orais contidos neste filme permitem vislumbrar e imaginar uma Tiradentes que está muito além da visão e da materialidade das coisas. Através dos cheiros, sabores e sons da cidade que foram narrados, percebemos a íntima relação do tiradentino com seu lugar e com o seu passado.
Sobre o Lugares Imaginários de Memória e o Con(fiar)
O Lugares Imáginários de Memória é um projeto de pesquisa coordenado pelo professor Carlos Henrique Falci, da Escola de Belas Artes da UFMG, que foi desenvolvido dentro da Residência Docente da Pró-reitoria de Cultura (PROCULT-UFMG), realizado no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, com participação de duas alunas do PPG-Artes como bolsistas, Cristina Horta e Lila Gaudêncio. O Con(fiar) é um Projeto de extensão desenvolvido no Campus Cultural UFMG em Tiradentes, e tem a participação de duas alunas do curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFSJ, Marcelli Oliveira e Luísa Meinberg. Iniciado em 2021, no contexto da pandemia de COVID-19, o projeto Con(fiar) foi uma das formas de aproximação e interlocução com a comunidade, com perspectivas de fortalecer a presença da UFMG na cidade em suas múltiplas formas de atuação nos campos da cultura e do patrimônio. O projeto Con(fiar) tem como propósito realizar o registro das memórias e trajetórias de pessoas comuns, especialmente de mestres e mestras de ofício e portadores de saberes e heranças culturais da cidade de Tiradentes e da região do Campo das Vertentes. O projeto tem como desafio pensar estratégias para contribuir com a preservação, valorização e promoção da identidade cultural da região.