[Opinião] Stock Car na Pampulha trafega na contramão do futuro

Para Regina Bertola, do Grupo Ponto de Partida, é ‘surreal imaginar que a PBH coloque em risco anos de pesquisa, a qualidade da vida acadêmica e o território intocável de um campus universitário’

Cidades como Paris e Amsterdã arrebentam os concretos que aprisionavam águas e terras e correm para conquistar qualidade de vida. Nações como Reino Unido, Holanda, Índia e China plantam centenas de florestas urbanas em seus territórios numa corrida, vital e urgente, para combater e minimizar as mudanças climáticas e proteger suas populações. Na marcha à ré, Belo Horizonte corta as suas árvores para construir uma pista de concreto no coração da Pampulha e expor seus moradores.

Enquanto o mundo gasta bilhões em busca de soluções para diminuir o fluxo de carros nas grandes cidades, Belo Horizonte investe milhões para atrair carros para a sua.

Não são mais aceitáveis pela sociedade investimentos que buscam lucros financeiros usando como moeda de troca o bem-estar, o equilíbrio e a saúde das cidades, das pessoas e do planeta. A palavra de ordem é desenvolvimento sustentável, e os grandes financiadores e administradores aceleram para conquistar a vitória de uma economia verde.

Para além de tudo isso, esse projeto se impõe, sem nenhum respeito, à revelia de uma das instituições de aprendizagem mais respeitadas do Brasil, a UFMG, patrimônio dos mineiros. É surreal imaginar que a Prefeitura de Belo Horizonte coloque em risco anos de pesquisa, a qualidade da vida acadêmica, o território intocável de um campus universitário para construir uma pista de corrida.

Não há de ser contra os apaixonados por carros e corridas, os empresários que quiserem investir nesse esporte. O que se questiona aqui é a insensatez de uma decisão política que vai na contramão da história e da ciência, do emprego do recurso público, da escolha de uma região completamente inadequada para esse propósito. Cuidado, pois o maior perigo é de que, se houver essa largada, todos serão perdedores. E falando sério, não há compensações efetivas para agressões à vida.

O que se questiona aqui é a insensatez de uma decisão política que vai na contramão da história e da ciência, do emprego do recurso público, da escolha de uma região completamente inadequada para esse propósito.

A esperança é que os mineiros estejam preparados para as boas lutas e não hão de permitir que a Pampulha, símbolo do modernismo, espaço pensado para abrigar o verde e as águas, com as pistas desimpedidas para os passos e as corridas das crianças e dos anciões, seja destituída da sua vocação. Os milhares de profissionais formados na UFMG, as centenas de alunos, mestres e funcionários, os que investem para ocupar um lugar nessa universidade não vão abandonar sua escola, hão de cerrar fileiras para defendê-la.

Que se encontre lugar adequado para a pista de Stock Car e que a corrida seja um sucesso. Na Pampulha, não!

É hora da nossa própria largada! Escolha em que direção quer correr, qual cidade deseja, quão empenhado está para proteger a frágil espécie humana e nosso pequenino e poderoso planeta azul.

Vamos fazer da Pampulha um símbolo de preservação da vida. Vamos abraçá-la com o cuidado que as sementes necessitam para crescer. Vamos transformá-la em uma enorme e permanente pista de corridas comunitárias, onde os sonhos e as ações para construir uma cidade humanizada sejam os vencedores.

Regina Bertola | diretora do Grupo Ponto de Partida

stock car na ufmg não