Evento discutiu impactos das ações afirmativas na UFMG

A UFMG está maior em opções de cursos e números de estudantes, melhor, como mostram as avaliações do Inep e rankings nacionais e internacionais, e mais inclusiva. As ações afirmativas, o bônus e as cotas, ajudaram a transformar o perfil dos estudantes da instituição e contribuíram para a Universidade ter, atualmente, 54% de seus estudantes de graduação vindos de escola pública. Para pensar em como, não só possibilitar o acesso, como a permanência qualificada desses discentes e, principalmente, avaliar o impacto das medidas já aplicadas, foi criado o Grupo de Trabalho (GT) Graduação Plural, uma das ações da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd).

Na tarde dessa quarta, 30 de novembro, no seminário “Transformação do ensino de graduação em 13 anos de ações afirmativas: avanços e desafios”, que foi gravado e pode ser acessado no canal do YouTube da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (Cac) foram apresentados os resultados preliminares dos estudos que vêm sendo realizados pelo GT. A apresentação foi realizada por uma das membras do grupo, Ana Paula Karruz, professora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).

Ana Paula apresentou os resultados preliminares dos estudos do GT. Foto: Mayara Veloso

Ela tratou de quatro segmentos: alguns fatos sobre acesso ao ensino superior; as primeiras ações afirmativas, Lei de Cotas e demandas continuadas por inclusão racial; efeitos da Lei de Cotas em dimensões de impacto selecionadas e propostas de ajuste da Lei de Cotas identificadas na literatura.

Entre os principais achados do grupo, ao comparar as políticas de cotas e bônus, os dados mostram que o bônus diversificou o conjunto do alunado, econômica e racialmente, mas bonistas se concentravam em cursos menos seletivos e as cotas diversificaram de forma mais uniforme todos os cursos. Também foi apresentado que os cotistas têm desempenho acadêmico muito próximo ao de não cotistas.

Em gráfico (slide 44) apresentado por Ana Paula Karruz, relacionado à distribuição da Nota Semestral Global (NSG) de graduandos na UFMG, matriculados entre o 1° semestre de 2016 e o segundo semestre de 2020, por modalidade de entrada, aparece que, na modalidade de cotas M1 (escola pública, baixa renda e pretos, pardos e indígenas), a NSG média (75, numa escala 0-100) é apenas 4 pontos menor que na M5 (ampla concorrência) (79); na M4 (escola pública), a diferença de médias (-0,26) é negligenciável.

Sobre as taxas de evasão, elas são semelhantes entre cotistas e não cotistas, entretanto cotistas pretos, pardos e indígenas (PPI) tendem a evadir um pouco mais que os demais cotistas.

Um outro gráfico (slide 49)  mostra o percentual de graduandos que evadiram o curso, por área do curso e modalidade de entrada (situação do registro em 2020/2 dos ingressantes da UFMG admitidos entre 2014/1 e 2020/2* – excluindo Letras e modalidades de reserva para pessoas com deficiência). Nele consta uma variação entre 28 e 33% de evasão entre as diferentes modalidades de entrada.

Com relação às pessoas com deficiência, as cotas triplicaram seu acesso à UFMG e diversificaram cursos frequentados por esse grupo, com aumento expressivo nas Ciências da Saúde e Engenharias.

Ao final do evento, o GT participou de debate com os presentes.

Ao final do evento, os presentes puderam tirar suas dúvidas e compartilhar experiências com o GT. Foto: Carol Carvalho

Rumos

Na abertura do evento, a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, falou sobre o impacto dos cortes que a instituição vem sofrendo, que não só afetam a universidade, como, também a sociedade. A UFMG está maior, melhor e mais inclusiva, como ela reforçou, porém, com o  orçamento atual a “conta não fecha”. Ela disse, porém, que “isso não vai impedir a UFMG de fazer sua missão como instituição pública nos rumos da educação superior e do nosso país”.

O pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira lembrou da importância de “enquanto UFMG nos apropriarmos dos avanços que já foram construídos nesses 13 anos de ações afirmativas com um olhar para os muitos desafios que ainda esperam ser devidamente tratados”. Ele também destacou que a Lei de Cotas é muito recente, que é importante avaliar os dados já existentes, mas que é preciso acompanhar essa política ao longo dos anos.

Saandra Regina Goulart Almeida e Bruno Otávio Soares Teixeira fizeram a abertura do evento. Foto: Mayara Veloso

Graduação Plural

A criação do GT Graduação Plural foi motivada pela necessidade de examinar a presença na UFMG de grupos com histórico de exclusão dos sistemas formais de ensino no Brasil, como negros, indígenas, pessoas com deficiência, com baixa renda familiar per capita e oriundos de escolas públicas. Representantes desses segmentos ingressaram na Universidade por meio da política de bônus, que vigorou de 2009 a 2012, ou das cotas, adotadas desde 2013.

Além de Ana Paula Karruz, o GT reúne as professoras Ana Valéria Carneiro Dias, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia, Cleida Aparecida de Oliveira, do Departamento de Morfologia do ICB, e Paula Rita Bacellar Gonzaga, do Departamento de Psicologia da Fafich, além de duas servidoras técnico-administrativas: Cármen Regina Maia, do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), e Cristina Aparecida Pimenta dos Santos Ângelo, da Pró-reitoria de Graduação.

O GT iniciou suas atividades em setembro deste ano para avaliar as duas políticas, além de outras ações afirmativas destinadas à inclusão e permanência qualificada nos cursos de graduação da UFMG.