Forma Diálogos da Luz e da Sombra

 

 

 

Um Olhar Fotográfico

 

Prof. Fabrício Fernandino
Escola de Belas Artes da UFMG

Primavera no Museu
Setembro de 2013


Centro Especializado em Arte e Educação Ambiental

 

 

Alegria.

 

Era uma daquelas tardes mornas , luminosas, de um tempo úmido e outonal.

Eu  acabara de chegar no parque do Rio Preto para um visita mais prolongada e solitária. Naquele momento meu espírito era pleno pela alegria de ter um novo tempo para o sentir. Respirava com profundidade o cheiro da brisa e enchia meus pulmões de luz.

 

Descera da caminhonete e experimentava a paisagem antes de tudo. Eu estava ali, único,  naquela colina que circundava a casa de hospede.

 

Á minha direita, além dos campos rupestres, uma paredâo de pedra descortinava do sul ao norte . Dourado pela luz do entardecer, quase que obrigava , incisivo, meu olhar a permanecer voltado para o infinito, naquela linha limite , entre o sólido e o imponderável, naquela fronteira entre as pedras íngremes e um céu de um azul já cobalto.

 

A esquerda a luz ofuscante, do sol rasante, entrecortada pelo verde água dos campos, cerrados de arvores tortuosas e gramíneas ondulantes , saborosas à brisa.

 

 Ali, ao som do silêncio, eu respirava luz.

 

Não me atrevi a buscar pelo abrigo da casa. Queria me aventurar, me embriagar naquele estado de contemplação.

 

Silenciosamente voltei me para o sul. Desci a colina trilha abaixo. Aquela terra umedecida, de pedregulhos soltos e brancos, mantinha mudo o meu caminhar.

Quando parava para descortinar a paisagem , o que fazia  com mais frequência que meus passos, o mundo transbordava em silêncio, salvo um raro zumbido de um inseto ou um piar longínquo de uma profunda nostalgia.

 

Entardecia com uma dignidade jamais sentida.

 

Um pequeno curso d’água entrecortava o fim da trilha alagando todo espaço.

Eu podia agora ouvir o amarfanhar da vegetação pisada  somada ao gorgolhar da água que acariciava as pedras.

 

Acompanhei  aquele  rio criança.

Desci a colina , seguindo o curso d’água e adentrando a uma pequena mata... sentia de súbito uma profunda mudança da ambiência.

 

Agora, obscurecida pela luz filtrada em suas folhagens a vegetação se adensava...

 Silêncio  surdo.

O pouco som existente era abafado e respeitoso frente à magnífica dança de luzes e de sombras.

 

Aquela luz dourada conseguia penetrar nas poucas cavidades da folhagem, projetando linhas diagonais luminosas, possíveis pela bruma que emanava de um chão umedecido.

 

Era uma tarde silêncio.

 

Estático, estupefato, me deparei com uma clareira  de solo empossado pela agua límpida,  totalmente pontilhada pela luz. Joia de raridade única.  A terra, a água, o ar morno e a luz confabulavam seus mistérios.

 

Quase tudo estático , um majestoso cenário para um bailar.

 

Miríades de borboletas, brancas e amarelas dançavam...

 

Um rodopiar continuo. Se acariciavam  e se deleitavam  com sua própria imagem refletida nas pequenas poças de água e de luz.

 

Era  a dança do amor.

 

Eu estava ali em meio aquele turbilhão de seres amorosos que preenchiam  todo espaço à minha volta e preenchiam minha alma.

 

Eu estava ali estático e me transformava em nevoa, branca e transparente.

 

 

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