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(R) EVOLUÇÃO

 

"Frans Krajcberg, o poeta dos vestígios”3

 

“Frans Krajcberg, polonês de origem judaica, veio para o Brasil no período pós-guerra procurando esquecer a perseguição nazista, a maldade dos homens e toda a destruição que abateu sobre sua família e sobre seu país.

 

Aqui, a princípio, ele trabalhou como engenheiro no Paraná e como montador da Bienal de São Paulo, na qual veio participar como artista, ganhando o grande prêmio em 1947.

 

Também ganhou o grande prêmio da Bienal de Veneza em 1964, que lhe confirmou uma posição inequívoca no cenário artístico mundial.

 

Seu refúgio junto à natureza direcionou a sua arte para uma linha naturalista, onde utilizando os recursos plásticos e materiais, desenvolveu um trabalho de forte apelo poético e filosófico.

 

No início trabalhou com as terras em Minas Gerais, que ofereciam um amplo leque de pigmentos, cores e formas rochosas, expostas generosamente através das feridas da terra revolvida pelas minerações. Foi neste momento, de sua trajetória artística, que começaram a ser executadas as suas primeiras esculturas, fato ocorrido na região do Pico do Itabirito.

 

Em sua fuga contínua do mundo dos homens destruidores, Frans Krajcberg vai buscar na Floresta Amazônica e no sul da Bahia, um maior isolamento e paz.

 

Em 1974 juntamente com Sepp Banderec e o crítico francês Pierre Restany, do alto do Rio Negro, elaboraram o “Manifesto do Naturalismo Integral”, onde defendem a idéia de que o artista brasileiro tem na natureza uma possível forma de originalidade expressiva, sendo desnecessário copiar formas e padrões estéticos  importados, os quais não nos dizem muito de nossa sensibilidade como povo e nação.

 

Entretanto, para Krajcberg a sombra da destruição estava sempre em seu encalço. A floresta ardeu consumida e retorcida pelo fogo, pela ganância e insensatez dos homens. Então o seu trabalho se tornou denúncia e instrumento do grito, da dor e da revolta.

 

Reconhecido mundialmente pela sua obra ligada à Eco-Arte, esta é mais que um instrumento de fruição estética, é um instrumento de denúncia e alerta. Hoje para Krajcberg é mais importante a militância em defesa do planeta e a formação de uma nova consciência do que ser simplesmente um artista. Ele desenvolve um trabalho escultórico e fotográfico onde utiliza as sobras da destruição como forma de sensibilizar e mostrar ao mundo a ação devastadora do homem.

 

Este é um breve relato de um homem, de um guerreiro, o qual lhe foi negado o direito de não lutar. A destruição o acompanha como uma sombra, e uma vez guerreiro assumiu a luta, corajoso em seu grito pela vida.

 

E é pôr tudo isto que Krajcberd faz parte de um reduzido número de homens imprescindíveis para a aurora de um novo tempo e de uma nova consciência universal.”

 

 

“Minas…

 Paisagens devastadas”

 Fotografias de Frans Krajcberg

 

 

De origem polonesa, nascido em 1921, Frans Krajcberg hoje, brasileiro de alma, cidadão do mundo, tem uma trajetória singular, pela sua luta em defesa da vida através da arte.

Escultor e artista plástico de renome internacional e que se declara ambientalista, iniciou seus estudos com um dos mestres da Bauhaus, Willi Baumeister. O começo de sua carreira foi ceifado pelos horrores da guerra onde perdeu toda a sua família, tornando-se um refugiado do holocausto. Em sua fuga foi para a Rússia e, engajado, partiu para a luta na frente russa que invadia a Alemanha ao final da  2 ª Guerra Mundial.

Profundas foram as marcas desse tempo de destruição do homem pelo homem que vincaram de forma indelével a sua sensibilidade poética.

Finda a guerra, transfere-se para Paris onde estabelece contatos com artistas, cujos trabalhos são referências a arte do século XX. Teve relações de amizade com Picasso, Braque, Lergé, dentre tantos outros, o que o torna uma referência viva desse momento tão revolucionário da história da arte contemporânea.

Desiludido e inconformado com o mundo dos homens transfere-se para o Brasil na busca do silêncio e do distanciamento necessários para abrandar a sua revolta.

Sem conhecimento do idioma português, com quase nenhum dinheiro, chega a São Paulo. E lá, por um curto período, passa por dificuldades extremas. A convite de amigos começa a trabalhar como montador da I Bienal de São Paulo em 1951 onde também expôs duas de suas pinturas. Já em 1957 conquistou o prêmio de melhor pintor nacional. Em 1964, também ganha o primeiro prêmio da Bienal de Veneza, o que o torna um artista reconhecidamente internacional permitindo dedicar inteiramente à sua arte.

Não menos intensas do que em Paris, estabelece amizades com expressivos artistas brasileiros, criando um circuito de relacionamentos que possibilita permanente reconhecimento de sua obra. A partir de então, busca refúgio na natureza, esta que é o alimento para sua criatividade.

Transfere-se, então, para Catabranca, região de Itabirito/MG, onde morou por 5 anos dentro de uma Kombi e lá, ao ar livre, instala seu ateliê. Até então o artista vinha trabalhando intensamente com gravuras modeladas a partir do relevo de pedras e areias, desenhos e pinturas. Como ele declara, “em Minas Gerais foi onde criei as minhas primeiras esculturas”. Aqui, em meio às montanhas é que foi o palco que permitiu o desenvolvimento de sua obra escultórica, hoje uma referência internacional.

Nessa época, mantém um ateliê em Paris, que vista ate hoje com uma regularidade anual e transfere sua residência para Nova Viçosa, sul da Bahia. Uma região de densa floresta, hoje extinta, onde instala definitivamente seu ateliê no sítio Natura. A partir daí, a obra de Krajcberg passa a ser um alerta, um grito de dor de uma outra guerra, não do homem contra o homem, mas do homem contra a natureza.

Busca nos vestígios de uma Amazônia devastada pelo fogo o material para a sua arte, nesses dejetos carbonizados cria uma obra única, monumental, que mostra a violência da sociedade civilizada contra o planeta. Auto declarando ambientalista, mais do que artista, a obra de Krajcberg vai além de uma fruição estética. É a denuncia de uma natureza aviltada.

 

 

Paralelo às suas esculturas desenvolve um trabalho de fotografia de extrema sensibilidade a partir de um olhar preparado, poético e atento. Como um dedo em riste, suas imagens comovem, mais que belas, são um documento da destruição.

O trabalho de Krajcberg está representado nos principais museus e galerias internacionais. A partir dos anos 80, mostras de grande vulto têm sido produzidas, associadas à uma densa publicação que tem documentado sua obra, cumprindo os objetivos da sensibilização humana nas principais capitais culturais do planeta.

Essa exposição “Minas... paisagens devastadas” é uma reação à sua recente indignação ao ver nossa Minas Gerais sendo agredida pelas atividades predatórias de algumas mineradoras, sem critérios ambientalistas. Da terra revirada fica o rejeito, um terreno infértil e desértico em que campeia  a morte e a destruição.

As 30 imagens dessa exposição são exatamente um registro da região de Itabirito e dessa intensa atividade mineradora. Através das belas imagens, percebemos a crueza de uma atividade mórbida que, na busca pelo lucro, perde-se o senso da preservação da vida.

Essa curadoradoria é a nossa resposta àquela pergunta que nos fez Frans Krajcberg, pergunta que ainda ecoa e incomoda  nosso espírito “Por que não estamos fazendo nada para defender as Minas Gerais, suas belezas e suas montanhas? Por que estão destruindo tudo?”

 

Fabrício Fernandino – curador da amostra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Texto para segundo banner

 

“Minas... paisagens devastadas”

Exposição fotográfica de Frans Krajcberg

Região de Itabirito/MG

Curadoria: Fabrício Fernandino