Corpus Naturalis

 

Os desafios climáticos e sociais impostos pela relação conflituosa do ser humano com seu meio ambiente demandam uma resposta das instituições que trabalham com a formação dos profissionais da Arte. Se antes as tendências apontadas pela conferência da Unesco em Tbilisi (1977) eram apenas um devir, vivemos hoje as consequências de um agravamento da dissociação do ser com seu sistema expandido de relações.

 

Tal sistema de relações, proposto enquanto parlamento das coisas de Bruno Latour envolve em dar voz a todos os actantes que se relacionam. Artistas/professores precisam, necessariamente, dar conta de orquestrar diferentes atores em suas propostas, demandando, por sua vez, que tenham um repertório significativo de experiências estéticas que os integrem com seu meio ambiente. Propostas de arte ambiental como as de Carl André (1935), Robert Morris (1931) e Frans Krajcberg (1921), são viáveis apenas a partir desta consciência integradora. Suas propostas, dentre outras, colaboram com a reflexão sobre as complexas formas do viver contemporâneo.

 

Considerando os movimentos de compreensão sistêmica do ecossistema natural e do ecossistema da arte, a proposta de viagem para um sítio de preservação natural é uma oportunidade única. Oportunidade para que sejam vivenciados experimentos que colaborem com diálogos possíveis entre ser humano e seu meio ambiente através da Arte. Oportunidade também para que o meio ambiente seja parte integrante, em um processo de criação compartilhada, com experiências em arte contemporânea.

 

Pretende-se com estas vivências a integração do corpo com a natureza. Tal integração já foi experimentada em outros momentos de nossa história recente. Com a nossa natureza exuberante, incomum diversidade bio-socio-geológica, houve experiências no campo das Artes que envolviam a imersão do corpo do Artista com a natureza.

 

Desde experiências de representação da paisagem brasileira pelos aquarelistas, pintores e desenhistas estrangeiros que aqui aportaram no século XIX até propostas contemporâneas de residências artísticas no meio da floresta amazônica, nossa natureza convida artistas a ações. Tomando como referência os grandes artistas viajantes como Thomas Ender, Charles Landseer, Edward Hildrebrant e Jonas Moritz, iremos trabalhar a incursão no meio ambiente como matriz geradora das experiências de produção de imagens.

 

O corpo será pensado como medida de interação com a natureza. A base do trabalho, portanto, serão as relações possíveis sinestésicas do corpo em contato direto com seu ambiente. As pesquisas formais estabelecerão como princípio a ação integração diretas do nosso corpo físico e o espaço natural.

 

Com características de uma performance/instalação essa ação criadora tem por pressuposto o silencio. A percepção poética do espaço, pensada de forma fenomenológica, será a principal desencadeadora de processos. Após uma preparação conceitual e um trabalho de sensibilização serão realizados experimentos corporais em busca de uma amalgamação entre as possibilidades expressivas do corpo e o ambiente. Estas experimentações levaram em conta a diversidade biológica, geológica e morfológica dos corpos presentes.

 

Essa proposta consiste em uma imersão criativa possibilitada por uma viagem a uma reserva natural, organizada em três etapas: um ciclo de palestras preparatórias para a comunidade da UFMG, a realização do trabalho coletivo de campo e, posteriormente, o compartilhamento das experiências através de uma exposição.

 

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