Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 6- março 2005

Editorial

Entrevista
Ministro Tarso Genro

Pesquisa e desenvolvimento
A hora e a vez dos Parques Tecnológicos

O Parque Tecnológico de Belo Horizonte
Mariana de Oliveira Santos e Francisco Horácio Pereira de Oliveira

Ciência e Tecnologia
Da "prateleira" da academia para o mercado

Propriedade intelectual e transferência tecnológica
Sérgio Oliveira Costa e Juliana Crepalde

Educação
Celeiro pedagógico

Entre a pesquisa e a ação, o desafio pedagógico
Magda Becker Soares

Inclusão
Os esquecidos da Terra

Patrimônio
Ontem, hoje e sempre

Contando pedra e cal

Saúde
Rede virtual, saúde real

Excelência na prática médica
Ênio Pietra

Saúde Pública
Homem/bicho/homem,
a cadeia alimenta
r

A multiplicidade do Hospital Vterinário
Cleuza Maria de Faria Rezende

Arte e Cultura
Quatro festivais décadas

O Festival de Inverno da UFMG
Evandro José Lemos da Cunha

UFMG Diversa
Expediente

UFMG em números

Outras edições

 

Artigo

O Parque Tecnológico de Belo Horizonte

Mariana de Oliveira Santos
Pesquisadora do Núcleo Executivo do Parque Tecnológico de Belo Horizonte

Francisco Horácio Pereira de Oliveira
Gestor em C&T do Parque Tecnológico de Belo Horizonte

Vlad Eugen Poenaru

Todo processo de desenvolvimento econômico e social de uma nação, região ou município deve contemplar múltiplos aspectos inerentes às esferas política, social e econômica. No entanto, o presente artigo buscará enfatizar um aspecto muito específico – mas não menos importante – da esfera econômica no processo de desenvolvimento, que diz respeito ao progresso tecnológico por parte das empresas. Mais especificamente, um dos “motores” do desenvolvimento econômico é a capacidade com que as firmas de determinado sistema social conseguem incorporar e difundir tecnologias novas, seja por um intenso processo de inovação, seja pela imitação tecnológica. A intensidade desses processos está diretamente relacionada aos esforços internos das firmas, mas existem aspectos institucionais, externos a elas, que são cruciais para a eficiência do processo de inovação e de imitação tecnológica.

Nesse sentido, é possível listar uma série de instituições relevantes para a eficiência do progresso tecnológico, mas, sem dúvida alguma, o papel que as universidades desempenham é crucial. Elas possuem, no mínimo, um duplo papel nos sistemas locais de inovação: o de fornecer a força de trabalho qualificada para trabalhar nas empresas com atividades de inovação e o de gerar o conhecimento científico necessário para o desenvolvimento dessas atividades. Nas duas possibilidades, o papel do conhecimento científico é fundamental, principalmente por se tratar do insumo mais básico para a geração ou a incorporação de novas tecnologias.

No entanto, a interação entre Universidade e indústria, antes de ser uma relação trivial, envolve complexidades, principalmente no que diz respeito às formas como o conhecimento científico gerado pode “transbordar” sobre o setor produtivo. Em outras palavras, apesar de o conhecimento científico ser um bem público, a decodificação desse conhecimento e sua transformação em inovações tecnológicas envolve arranjos institucionais, que não são definidos a priori. O esforço de construção do relacionamento entre Universidade e setor produtivo é fundamental para consolidar a eficiência do processo de inovação tecnológica e potencializar os efeitos positivos que o conhecimento científico pode produzir sobre o desenvolvimento econômico local e nacional.

O objetivo do presente texto está inserido na discussão proposta nesses parágrafos iniciais. Mais especificamente, este artigo busca apresentar o estágio atual do projeto do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, uma iniciativa, originalmente proposta pela UFMG e pela Prefeitura de Belo Horizonte, que se constitui exatamente nesse esforço de construção da relação entre Universidade e setor produtivo, caracterizando um arranjo institucional fundamental para o amadurecimento do nosso sistema local de inovação.

Arrojo

O Parque Tecnológico de Belo Horizonte é uma iniciativa conjunta da Universidade Federal de Minas Gerais e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e possui como parceiros estratégicos o governo do Estado de Minas Gerais, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG). O projeto conta com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia – Finep/MCT e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig. Esse arranjo institucional nada trivial sugere o arrojo do projeto, que reúne os principais atores do desenvolvimento econômico e social de Belo Horizonte.

Antes de continuar, importa definir, sucintamente, em que consiste um parque tecnológico. Um parque tecnológico constitui-se em um espaço, geograficamente delimitado, destinado à realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que envolvam a interação entre empresas e universidade, bem como a cooperação entre firmas. Para isso, o parque tecnológico abriga laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de micro, pequenas, médias e grandes empresas – especialmente micro e pequenas, que, por meio de convênios entre si, com grandes empresas, universidades e centros de pesquisa, passam a ter condições de desenvolver P&D internamente. O parque tecnológico abriga, também, incubadoras de empresas, empresas recém-saídas de incubadoras (condomínios de empresas), centros de transferência de tecnologia, escritórios de patentes, além de serviços diversos de apoio – como salas de conferência, áreas de convivência, restaurantes e outros.

O grande desafio é promover uma interação mais fluida entre as instituições de pesquisa e as empresas instaladas no parque, a partir do pressuposto de que a transferência de tecnologia não ocorre linearmente das universidades ou centros de pesquisa para as empresas, mas, também, a partir da convivência e da cooperação entre os atores. Tal objetivo justifica a instalação de equipamentos que tornem mais cômodo o dia-a-dia dentro da área, incentivando a convivência entre os que trabalham no parque, bem como sua permanência próximo a seu local de trabalho.

Independência econômica

Vlad Eugen Poenaru

A idéia é não apenas buscar aplicação para o conhecimento produzido dentro da universidade, mas também solucionar problemas que surgem nas empresas locais, a partir da utilização de novas tecnologias. Nesse sentido, um parque tecnológico que funcione plenamente pode tornar uma região ou um país mais independente com relação a outras economias, dinamizando o progresso tecnológico local. Certamente, serão potencializadas áreas reconhecidamente consolidadas em Belo Horizonte* – como biotecnologia e tecnologias da informação – e desenvolvidas aquelas que precisam ser incentivadas – como design, eletroeletrônica, engenharia de automação e tecnologias ambientais, entre outras.

A Universidade Federal de Minas Gerais é o principal pilar de sustentação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte. Com uma notável produção científica e tecnológica em diversificadas áreas de excelência, além de uma forte tradição na atividade de transferência de tecnologia, a UFMG é, sem dúvida, o parceiro mais importante do projeto. O envolvimento dessa Universidade ficou mais explícito em julho de 2004, com a decisão do Conselho Universitário de conceder o uso do terreno propriedade dela, por 30 anos, renováveis por mais 30, para implantação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte. O terreno localiza-se em área privilegiada, próximo ao campus Pampulha, na área delimitada pelas avenidas José Vieira de Mendonça e Presidente Carlos Luz e pelo Anel Rodoviário. Tal terreno é avaliado em, aproximadamente, R$ 30 milhões.

A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, o segundo pilar do projeto, assumiu o compromisso de acompanhar e facilitar as atividades ligadas aos estudos básicos de viabilidade. Além disso, as obras de infra-estrutura urbana do terreno para construção do Parque Tecnológico de Belo Horizonte serão executadas com recursos do orçamento municipal e também estão estimadas em R$ 10 milhões. A PBH fará também outros aportes de recursos, totalizando a participação do município em R$ 30 milhões.

Atualmente, estão em fase de finalização os estudos de viabilidade. Esses estudos englobam elaboração do projeto arquitetônico e urbanístico, estudo de impacto ambiental, estudo de prospecção de demanda e oferta potenciais, estudo de viabilidade financeira, além da formatação do modelo jurídico de gestão. A estratégia de execução do cronograma proposto tem sido a de realização simultânea dos estudos, que têm evoluído de acordo com as especificidades associadas às dificuldades legais, institucionais e operacionais particulares de cada caso. A superação dessas dificuldades tem-se baseado em soluções criativas, em que se busca reafirmar a natureza do projeto como um empreendimento urbano que procura efetivamente articular a produção de ciência com a inovação tecnológica.

A expectativa é a de que as obras de infra-estrutura urbanística no referido terreno tenham início em abril de 2005 e de que o surgimento do Parque Tecnológico de Belo Horizonte possa dinamizar a economia regional, consolidando as relações de cooperação entre empresas e Universidade.

* A proposta do projeto Parque Tecnológico de Belo Horizonte é a de abranger além de Belo Horizonte e da Região Metropolitana de Belo Horizonte, os municípios de Sete Lagoas e Ouro Preto, dada sua proximidade à capital mineira.