Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 6- março 2005

Editorial

Entrevista
Ministro Tarso Genro

Pesquisa e desenvolvimento
A hora e a vez dos Parques Tecnológicos

O Parque Tecnológico de Belo Horizonte
Mariana de Oliveira Santos e Francisco Horácio Pereira de Oliveira

Ciência e Tecnologia
Da "prateleira" da academia para o mercado

Propriedade intelectual e transferência tecnológica
Sérgio Oliveira Costa e Juliana Crepalde

Educação
Celeiro pedagógico

Entre a pesquisa e a ação, o desafio pedagógico
Magda Becker Soares

Inclusão
Os esquecidos da Terra

Patrimônio
Ontem, hoje e sempre

Contando pedra e cal

Saúde
Rede virtual, saúde real

Excelência na prática médica
Ênio Pietra

Saúde Pública
Homem/bicho/homem,
a cadeia alimenta
r

A multiplicidade do Hospital Vterinário
Cleuza Maria de Faria Rezende

Arte e Cultura
Quatro festivais décadas

O Festival de Inverno da UFMG
Evandro José Lemos da Cunha

UFMG Diversa
Expediente

UFMG em números

Outras edições

 

Pesquisa & desenvolvimento

A hora e a vez dos parques tecnológicos

UFMG lidera consórcio que viabilizará empreendimento para geração de tecnologia de ponta em BH

Tendência mundial, com experiências de sucesso em diversos países desenvolvidos, os parques tecnológicos começam a ganhar no Brasil a força que buscavam desde a década de 1980. “Naquela época, quando houve um incentivo real para que eles fossem implantados, não havia, no País, empresas de base tecnológica em número suficiente para dar consistência aos projetos”, lembra José Eduardo Fiates, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

Vlad Eugen Poenaru

Passados 20 anos, o Brasil exibe 39 parques tecnológicos, ainda que apenas pouco mais de uma dezena deles esteja em operação. “Mas, hoje, temos as condições convenientes para a existência dos parques, a começar pelas empresas inovadoras, grande parte delas nascidas de incubadoras. Elas querem se instalar definitivamente em um ambiente favorável ao seu contínuo crescimento”, assinala Fiates.

E é nessa atmosfera que, no segundo semestre deste ano, serão iniciadas as obras de infra-estrutura do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, o BHTec, projeto intensamente trabalhado ao longo dos dois últimos anos e que conquistou múltiplos parceiros. Inspirados e ancorados na UFMG, a Prefeitura de Belo Horizonte, o governo do Estado de Minas Gerais, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) formam o consórcio que viabilizará o empreendimento. “O Parque Tecnológico permitirá a integração entre o conhecimento científico promovido pela Universidade e a demanda tecnológica das empresas”, assinala o professor Mauro Borges Lemos, coordenador-geral do projeto.

Arranjo institucional

Previsto para funcionar a partir de 2006, o BHTec começou a ser formatado com os estudos de viabilidade financeira e técnica patrocinados pela Finep, por intermédio do Fundo Setorial Verde e Amarelo, lançado, em 2002, para incentivar projetos que prevêem parques tecnológicos associados a instituições de pesquisa. Desde o início, a idéia da UFMG era implantar o empreendimento em terreno de sua propriedade, de quase 550 mil metros quadrados, o que foi aprovado pelo Conselho Universitário. O arranjo institucional que sustenta o BHTec, segundo Mauro Borges, é tão complexo quanto o arranjo financeiro. “Não é nada trivial, mas a UFMG, a Prefeitura e os parceiros estão muito cientes do passo que estão dando e do que esse significa para a cidade e para o País em termos de desenvolvimento econômico e social.”

O professor lembra que são poucas as universidades brasileiras que têm condições para assumir um projeto do porte do BHTec. “Estamos entre as cinco maiores instituições produtoras de conhecimento no País e temos escala de pesquisa que permite a transformação desse conhecimento em tecnologia”, afirma Borges. “A UFMG concentra mais de 50% das pesquisas realizadas no Estado”, reforça ele.

O BHTec é um projeto de mais de R$ 500 milhões, que será erguido no chamado “Triângulo das Bermudas”, um terreno no campus Pampulha, entre as avenidas Carlos Luz e Professor José Vieira de Mendonça e a BR 262, próximo ano Anel Rodoviário. A área, avaliada em R$ 30 milhões, foi cedida, por 30 anos, para uso da Associação BHTec, entidade civil de direito privado que gerenciará o empreendimento. O valor do terreno será recuperado pela UFMG, ao longo desses 30 anos, a partir da ocupação dos lotes, pois o contrato de cessão de cada área prevê uma taxa de retorno, considerando, inclusive, a valorização imobiliária advinda dos equipamentos urbanos a ela incorporada.

Capital social

A UFMG participa do empreendimento não apenas com o terreno, mas especialmente com o capital social, dividido em capital intelectual, infra-estrutura de conhecimento e infra-estrutura física. O capital social, explica Borges, é algo intangível, mensurável pelos índices de qualificação científica e técnica da Universidade impregnados pelos recursos humanos, recursos laboratoriais e de bibliotecas, bem como pela infra-estrutura física já existente nos campi da UFMG. “A Universidade apresenta índices de excelência em várias áreas, com mais da metade de seu corpo docente com doutorado e pós-doutorado. Só de laboratórios, são mais de 120 mil metros quadrados de área construída”, ressalta o coordenador-geral.

Dos 535 mil metros quadrados do terreno, 360 mil são reservados à preservação ambiental. Mas é apenas nos 175 mil metros quadrados restantes que serão erguidas as construções que darão vida ao BHTec. Essas edificações abrigarão empresas de base tecnológica e de serviços e a área pública. O projeto urbanístico abrigará, em todos os setores, empresas-âncoras, grandes, médias e pequenas. A proposta valoriza a área de preservação ambiental e divide o terreno em sete zonas, que definem áreas para edificações da administração e gestão do Parque e para construção de hotel, centro de convenção, comércio e serviços de apoio ao Parque e à região; área para incubadoras, para a implantação de empresas e para edificações de apoio e serviços compartilhados pelas empresas; espaço para recreação e lazer, que servirá como faixa de transição entre a entrada do Parque; e a sétima zona, a de proteção ambiental.

Diálogo com o mundo

Vlad Eugen Poenaru

“O BHTec segue a vocação da cidade, que não mais comporta indústrias pesadas. Além do mais, a inovação é a palavra-chave de hoje e que combina perfeitamente com a Capital”, salienta o secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Informação, Aluísio Marques. Para ele, os investimentos que serão feitos pela Prefeitura no BHTec ampliarão o diálogo de Belo Horizonte com o mundo. “Estamos investindo no futuro e temos a garantia de uma governança, em torno do Parque Tecnológico, bem estruturada, que abre espaço para outros parceiros. Não há receio, porque é um caminho muito seguro, um trabalho com muitas perspectivas”, afirma.

O orçamento de R$ 517 milhões será executado em dez anos, sendo que 60% no período de 2005 a 2009 e o restante, no de 2010 a 2014. As obras de terraplanagem e de infra-estrutura urbana, que começam em julho próximo, contrapartida da Prefeitura no projeto, custarão R$ 10 milhões. A parte pública desse investimento, bancada por bancos de desenvolvimento e agências de fomento, é estimada em mais de R$ 70 milhões. Ela refere-se à construção de edificações que são os pilares do BHTec – como o centro administrativo, o prédio da incubadora de empresas e outro onde será instalado um condomínio de empresas graduadas em incubadoras.

“A engenharia financeira caracteriza o projeto como eminentemente de natureza privada, porém numa parceria profunda com entidades públicas que lhe dão sustentação”, assinala Borges. Os cerca de R$ 440 milhões do setor empresarial serão aplicados em edificações, máquinas e equipamentos. Esses recursos, explica Borges, serão viabilizados com a formação de um fundo imobiliário, cujos principais investidores deverão ser fundos de pensão e de previdência complementar, bancos de fomento, po intermédio de suas empresas de investimentos e participações, bancos comerciais públicos e privados e outros tipos de investidores.

Investidores

“Montamos uma engenharia financeira de grande alcance, que não é de fácil execução, mas que é viável e já demonstrou ser capaz de atrair os futuros investidores”, garante Mauro Borges. Ele lembra que a composição financeira inclui, também, a criação de fundos de capital de risco, fundos públicos de financiamento e fundos setoriais. “Os cotistas participarão dos resultados dos empreendimentos”, reforça.

A articulação financeira, capaz de conquistar o mercado, tanto do ponto de vista dos investidores quanto das empresas locais e de fora que vão integrar o projeto, é destacada pelo presidente da Anprotec, José Eduardo Fiates. Ele, no entanto, ressalta que os parques tecnológicos têm outras condicionantes, tão importantes quanto a financeira, para ter sucesso. “São vários os modelos de parques tecnológicos e muitos já provaram eficiência, mas é preciso ter bem claro que a cooperação entre as entidades de conhecimento, de apoio e de fomento, enfim, as parcerias devem ser muito bem construídas”, diz ele, apontando, ainda, o modelo de gestão como instrumento essencial de alta diferenciação, de competitividade e de atratividade.

“Não se pode ter um parque tecnológico como solução de um problema ou de uma oportunidade que não existe”, afirma Fiates. “Antes de tudo, é preciso caracterizar muito bem a vocação local, seu potencial e sua oportunidade, para, depois, se pensar no parque tecnológico”, avalia, lembrando que o Brasil iniciou o processo de implantação de parques tecnológicos em 1984, por meio de incentivo do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Na época, avalia Fiates, não existia no País a massa de empresas que atenderia a esse chamado do governo e, por isso, esse processo só deslanchou no início desta década. “Mas, nesses 20 anos, conseguimos estimular as incubadoras de empresas de base tecnológica, que se tornaram um mecanismo muito oportuno para o desenvolvimento da área”, completa.

Há 280 incubadoras ativas no Brasil. A grande maioria é ligada às universidades e apóia mais de 2,1 mil empresas, fora as 1.580 já graduadas e as mais de 1.300 associadas, que utilizam a infra-estrutura sem utilizar o espaço físico. “As incubadoras são grandes geradoras de emprego. Essas mais de cinco mil empresas ligadas às incubadoras garantem cerca de 27 mil empregos”, destaca Fiates. “As incubadoras têm papel muito importante nesse processo, mas é claro que elas não justificam um parque tecnológico, ainda que o lugar ideal para serem instaladas sejam os parques”, enfatiza.

Modelos

Vlad Eugen Poenaru

Os diferentes modelos de parques tecnológicos existentes no Brasil e no exterior demonstram a versatilidade dessa opção de desenvolvimento econômico, como esclarece Fiates, destacando a posição da capital mineira como pólo de biotecnologia e a importância da aproximação de empresas, ressalvando que ,seja qual for a opção, ela deve estar inserida no âmbito de uma política global de governo. “Para a Prefeitura, esse é um investimento-âncora para o desenvolvimento de Belo Horizonte, porque ele terá um efeito multiplicador muito positivo”, confirma Aluísio Marques. O BHTec será um parque multitemático, acompanhando a característica generalista da UFMG, porém os parceiros no investimento identificam a área de biotecnologia e de informática como de forte presença futura no projeto. “São áreas bem estruturadas na cidade e várias empresas já mostraram interesse pelo Parque, porque essa é uma demanda quase natural de Belo Horizonte”, diz Borges.