Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 6- março 2005

Editorial

Entrevista
Ministro Tarso Genro

Pesquisa e desenvolvimento
A hora e a vez dos Parques Tecnológicos

O Parque Tecnológico de Belo Horizonte
Mariana de Oliveira Santos e Francisco Horácio Pereira de Oliveira

Ciência e Tecnologia
Da "prateleira" da academia para o mercado

Propriedade intelectual e transferência tecnológica
Sérgio Oliveira Costa e Juliana Crepalde

Educação
Celeiro pedagógico

Entre a pesquisa e a ação, o desafio pedagógico
Magda Becker Soares

Inclusão
Os esquecidos da Terra

Patrimônio
Ontem, hoje e sempre

Contando pedra e cal

Saúde
Rede virtual, saúde real

Excelência na prática médica
Ênio Pietra

Saúde Pública
Homem/bicho/homem,
a cadeia alimenta
r

A multiplicidade do Hospital Vterinário
Cleuza Maria de Faria Rezende

Arte e Cultura
Quatro festivais décadas

O Festival de Inverno da UFMG
Evandro José Lemos da Cunha

UFMG Diversa
Expediente

UFMG em números

Outras edições

 

Educação

Celeiro pedagógico

Experiências de ensino produzidas pela UFMG são referência para o País

Não somente o terceiro grau mas todos os níveis de ensino integram o elenco de atividades pedagógicas da UFMG. Marco divisor na educação pública de nível superior em Minas Gerais, essa Instituição abriga 46 cursos de graduação, 58 cursos de mestrado e 46 de doutorado, além do Centro de Desenvolvimento da Criança, da Escola Fundamental do Centro Pedagógico e do Colégio Técnico (Coltec).

Contudo, é na Faculdade de Educação (FaE) que se situa o eixo da reflexão e da pesquisa pedagógicas na UFMG, com larga repercussão em toda a sociedade. É o caso de importantes projetos educacionais e de programas desenvolvidos em parceria com outras instituições que atestam a relevância da Universidade como pólo irradiador de conhecimentos e de oportunidades no setor educacional, seja pela formação de professores, seja pela oferta de capacitação profissional em outras áreas.

Maria do Céu Diel

Veredas do conhecimento

Segundo dados do Ministério da Educação, mais da metade dos professores do ensino fundamental no Brasil não concluíram sequer o ensino médio. Para tentar reverter esse quadro, a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais em conjunto com outras 18 instituições, entre elas a UFMG, começou, em 2002, a implantação do projeto Veredas – Formação Superior de Professores.

O objetivo imediato é habilitar os professores das redes públicas de educação de Minas Gerais, de acordo com a legislação vigente, além de contribuir para a melhoria do desempenho escolar dos alunos nos anos iniciais da educação fundamental e elevar o nível de competência profissional dos docentes em exercício. O objetivo maior é, porém, oferecer um Curso Normal Superior, semipresencial, que possa atender grande parte dos mais de 61 mil professores em todo o Estado, conferindo-lhes a formação adequada e o título universitário exigido para o exercício profissional.

“Como não era possível atender integralmente a demanda existente, realizamos, em janeiro de 2002, o Vestibular Veredas, para a seleção dos candidatos”, explica a diretora da FaE, professora Angela Dalben. Nessa seleção, foram oferecidas 14.700 vagas em todo o Estado e a UFMG ficou responsável por 561 alunos que passaram a “freqüentar” o curso e a cumprir 3.200 horas de aula, divididas em sete módulos que duram três anos e meio.

Para viabilizar a formação de um grande número de professores geograficamente dispersos no Estado, muitas vezes isolados em escolas da zona rural, a FaE lançou mão das ferramentas de educação a distância. “O projeto enterrou de vez a resistência que alguns professores tinham em relação ao ensino a distância”, explica Ângela Dalben. Segundo ela, a experiência revelou-se uma grata surpresa para os professores dessa Faculdade que participaram do projeto. “Na medida em que são os mesmos professores que acompanham os alunos durante todo o período do curso, apesar de parte das aulas ser a distância, a relação entre professor e aluno, muitas vezes, acaba sendo mais pessoal do que no curso regular da Faculdade”.

“O Veredas me ajudou muito”, testemunha Vanilda Pires, professora da Escola Estadual Professor Batista Santiago, no Bairro Santa Mônica, na capital. “Sempre gostei de trabalhar com alunos que estão na idade da alfabetização. Mas tudo era muito tradicional: o material que eu utilizava para ensinar os meninos era o mesmo há anos.”

Com o projeto, Vanilda Pires conta que perdeu o medo das mudanças e se sente mais segura. “Depois que comecei o Veredas, tenho coragem de buscar novos caminhos e, todo ano, introduzo inovações pedagógicas em minhas aulas. Não fico mais tão presa ao material didático.”

O sucesso do Veredas foi tamanho, revela Ângela Dalben, que o curso, a princípio de oferta única – com começo em 2002 e término previsto para 2005 –, deve acabar se transformando em um curso permanente. “Estamos em negociação com a Secretaria de Estado da Educação para que o Veredas continue”, revela . “A idéia é que o Estado transfira a concessão do curso para a UFMG, que passaria a coordenar o projeto.”

Maria do Céu Diel

O mistério das letras

Um misto de encantamento, mistério e ansiedade marca os primeiros contatos das crianças com as letras. É o momento em que elas saem do mundo da comunicação meramente oral para entrar no complicado universo da escrita. Uma transição que, não raro, envolve sofrimento e crise.

Há 15 anos, o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale), da FaE, procura desvendar, com seus estudos e pesquisas, os mistérios que envolvem o universo do letramento e da alfabetização. “Para o próximo ano, além das pesquisas acadêmicas, tanto no mestrado quanto no doutorado, o Ceale está envolvido com quatro grandes projetos”, revela o professor e diretor, Antônio Augusto Gomes Batista. São eles: a avaliação do programa Brasil Alfabetizado, os cursos de avaliação continuada de professores, a elaboração de novos cursos semipresenciais e a distância, bem como a participação no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

No caso do PNDL, o Ceale coordena a avaliação dos livros de alfabetização, de português (primeira a quarta série) e os dicionários escolares produzidos no Brasil. O trabalho resultará em guia que servirá de referência aos professores na hora da escolha do livro a ser adotado em sua escola. “Nossa intenção é melhorar a qualidade dos livros didáticos adotados no ensino fundamental das escolas públicas do Brasil”, afirma o professor Antônio Augusto Batista. De 1997 até hoje, mais de oito mil livros já foram avaliados pelo Ceale.

A segunda importante missão do Centro para os próximos meses será a avaliação do programa federal Brasil Alfabetizado, voltado para alfabetização de adultos e que recebeu, do Ministério da Educação, recursos de R$ 168 milhões, no ano passado, para atender cerca de três mil municípios brasileiros. Antônio Augusto estima que, até março deste ano, o Ceale apresentará os primeiros resultados de seus estudos sobre esse programa.

Além disso, o Centro desenvolve trabalho de avaliação pedagógica nas redes públicas de formação de professores, de desenvolvimento curricular e de avaliação do ensino e de materiais didáticos. O Ceale também integra a Rede Nacional de Centros de Formação Continuada e Desenvolvimento da Educação, criada pelo MEC para aprimorar a formação continuada de professores em todo o Brasil. Também este ano, o Ceale criará cursos a distância e semipresenciais para preparação de professores de Alfabetização e Língua Portuguesa.

Nas malhas da ciência

A informação científica deve ser correta e precisa para não cair na mistificação. Mas também deve ser palatável para estimular o interesse pelo estudo das ciências e da matemática. Esse é o desafio que move o trabalho do Centro de Ensino de Ciências e Matemática (Cecimig), da FaE.

Os principais projetos permanentes desenvolvidos pelo Cecimig são o curso de Especialização em Ensino de Ciências, o Centro de Documentação e a linha de pesquisa Ensino/Aprendizagem de Ciências e Matemática. “Também editamos uma revista, a Ensaio: pesquisa em educação em ciências e matemática”, informa a professora Maria Emília Caixeta, atual diretora do Centro.

O Cecimig desenvolve, ainda, outras iniciativas, que não são permanentes por causa da inconstância de recursos. Um deles é o Núcleo de Estudo da Ação Docente (Nead), que desenvolve pesquisas relacionadas à prática pedagógica dos professores de Ciências em espaços escolares e de educação não-formal. Numa das linhas de investigação, os pesquisadores do Nead buscam caracterizar o processo de construção de significados no laboratório de Ciências. “Isso é feito a partir da observação de atividades desenvolvidas em escolas do ensino básico, cursos de licenciatura e bacharelado no ensino superior e em espaços não-formais”, informa a professora Danusa Munford.

O Nead também estuda o processo de incorporação de práticas pedagógicas inovadoras no ensino básico e superior, a partir da análise de intervenções feitas em disciplinas dos cursos de licenciatura, em cursos de formação continuada de professores e em escolas da rede pública envolvidas no estágio curricular de licenciandos.

Na concretude da obra

Conceição Bicalho

Responda rápido: Qual o projeto de extensão mais conhecido fora dos muros da UFMG? A resposta pode não brotar assim, de forma tão instantânea, mas quem “chutou” Cipmoi tem grande chance de acertar.

Protegido pelo guarda-chuva da quase centenária Escola de Engenharia, o Curso Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra Industrial (Cipmoi) é um exemplo de longevidade – existe há 47 anos, período em que formou mais de 10 mil alunos. “Com um material didático criado aqui dentro da Escola, nosso objetivo é oferecer aos trabalhadores da construção civil, elétrica e mecânica uma chance para conjugar teoria e prática”, explica Ulisses Edgard Barbosa, aluno de Engenharia de Produção e um dos monitores do curso.

No entanto, a demanda é grande. “Por isso, organizamos uma seleção, em que priorizamos os candidatos com experiência profissional”, explica Leandro Emanoel Alves Pereira, aluno do curso de Engenharia Civil.

Para aperfeiçoar a mão-de-obra de uma categoria esquecida do País, são oferecidos os cursos de Encarregado Geral de Obras, Eletricidade de Baixa Tensão, Capacitação para Construção Civil e Tecnologia de Voltagem. Em 2005, o Cipmoi pretende criar o curso de informática.

O encarregado-geral de obras Sebastião Heitor Carvalho concluiu o curso em dezembro de 2004. Gostou tanto, que sua única queixa soa como elogio: “Pena que seja curto demais”. Segundo ele, ainda, o curso do Cipmoi é uma das poucas oportunidades de aprimoramento para a “gente que trabalha na construção civil”. A participação de Carvalho não trouxe benefícios apenas individuais. A própria empresa em que trabalha, a Petrel Engenharia, está-se preparando para receber o certificado de qualidade ISO 9000, objetivo para o qual a qualificação de sua mão-de-obra é decisiva.

Cipmoi itinerante

Com 22 instrutores – todos alunos da Escola de Engenharia – supervisionados por três professores da mesma Escola, o programa se prepara para iniciar nova empreitada. “É o Cipmoi Móvel”, anuncia Leandro Alves Pereira. “Como muitos alunos desistem do curso por não ter dinheiro para a condução, vamos levar os cursos para dentro das construções.”